Sociedade Alienação
AS PESSOAS NÃO SÃO
As pessoas não se permitem mais.
Estão deixando de viver as melhores coisas da vida, as mais simples...
Escondem-se atrás de meias verdades, de meias palavras, de meias ideias, de meias pessoas.
Tornam-se escravas da imposição feita pela sociedade.
São aquilo que não são, aquilo que não gostariam de ser, aquilo que jamais serão. Elas não são.
Ou enfrentamos com honestidade uma grande e profunda reflexão sobre a pauta ética, ou vamos regredir até os instintos mais selvagens e nos dizimar. Tudo que pleiteamos nos fará evoluir? Ou será que cada vez mais violentos, competitivamente violentos? A ética é o único remédio para evitarmos nossa extinção, é urgente, é caso literal de vida ou morte humana.
Ouço vozes de todos os lugares
Mas não consigo ver ninguém
Todos em busca do que são
Ou simplesmente querendo ser alguém
Tudo parece abstrato
Sem forma, sem razão
Andam de cabeça baixa
Com os olhos fechados vivendo uma ilusão
Será que vivemos para ser
Se é que vivemos algum dia
Tudo é tão confuso
Que felicidade é confundida com alegria!
Poesia minha, inspirada no papo sobre sociedade com Ádila Barretto.
Não adianta dizer os problemas, eles já conhecemos, não adianta dizer que precisa melhorar, pois isso já temos certeza, mas o que realmente interessa é o que faremos para melhorar e resolver os problemas!
Paradeiro da Oportunidade
Alguém sabe onde a oportunidade se encontra?
Tem um rapaz aqui procurando por ela,
Ele veio de uma família humilde da periferia,
Sempre estudou em escola pública, fez cursinho
E passou no vestibular duma universidade Federal,
Agora só falta conseguir uma bolsa-auxílio pra começar uma nova etapa em sua vida;
Porventura alguém saberia me dizer aonde a oportunidade foi?
Tem uma moça aqui a horas aguardando por ela!
Ela é muito inteligente, dedicada e responsável, sonha em ser atriz,
Sempre acreditou no seu potencial, fez curso de teatro, canto e balé,
Além da graduação em artes cênicas que concluiu no ano passado
E desde então, confiante, investe pesado na divulgação de seu belíssimo currículo;
Por acaso você saberia me informar por onde anda a oportunidade?
Tem um pai de família aqui com seus dois filhos, um casal, ansioso pra falar com ela,
Eles vieram de longe, lá do sertão nordestino, vivem do campo,
O menino joga bola muito bem, a menina é muito linda, alta e magra, sonha em ser modelo!
Os dois já ganharam vários campeonatos e troféus, agora querem viver fazendo o que gostam!
O esperançoso pai apostou a pouca economia que tinha para investir no talento dos filhos;
Por favor, alguém pode ir chamar a oportunidade?
Tem um cidadão aqui ansioso pra falar com ela,
Ele acabou de sair da marginalidade, cumpriu pena e quer mudar de vida,
Pretende dar um novo rumo à sua vida: trabalhar, constituir família, ter filhos,
Voltou a estudar, quer concluir o ensino médio, já realizou várias entrevistas, tá animado!
Agora só falta conseguir um emprego para concretizar a excelente escolha que fez;
A oportunidade é como uma gota d’água no deserto, uma pequena luz na escuridão,
Um pedaço de madeira no meio do oceano, uma coluna segura quando tudo está desmoronando,
Todos procuram por ela, precisam dela, anseiam por ela;
Sendo a oportunidade um bem imprescindível a todos, o porquê da discriminação?
Por que uma grande minoria a tem por perto o tempo todo e muitos passam a vida procurando-a?
Será que a oportunidade tem noção do estrago que faz na estrutura das pessoas ao se omitir?
Por favor, se alguém souber do paradeiro da oportunidade entre em contato o mais breve possível,
Pois devido a sua ausência um esforçado rapaz da periferia perdeu a vaga numa universidade,
Uma dedicada atriz nunca pôde atuar na área que tanto investiu e almejou,
Um pai de família voltou pro sertão completamente frustrado com seus dois filhos desolados,
Um ex detento desacreditou de vez no ser humano e viu-se obrigado a praticar novos delitos,
E todos os dias novas pessoas esperançosas aglomeram-se nessa superlotada sala de espera.
DESAJUSTADO SOCIAL
Eu rabisquei seu nome dentro de um coração
Num beco sujo da cidade
Mas me assustei e ocultei essa paixão
Num segredo com sete chaves
E de bem longe eu te vejo e explodo de emoção
Furtando meu mundo perfeito, assim como ladrão
Eu fico louco de desejo ,estranha sensação
De ver você,em meio a sombras geométricas
E eu me atirei sem rumo (e sem direção)
Numa fria chuva de Abril
E eu bem sei,até certo ponto"cê" tinha razão
Eu não me ajusto a sociedade
Um zé ninguém que sem trabalho vive num porão
Aos trinta e cinco de idade
Mas me conheço e me respeito com a mesma proporção
Do amor que eu sinto em meu peito e escrevo essa canção
E fecho os olhos quando canto em meio a multidão
Vejo você...naquela noite ela não estava não .
E eu me atirei sem rumo (e sem direção)
Numa fria chuva de Abril
Não existe algo que me pertença, nada que se ostenta
Só um punhado de poemas e meu violão
Também não sou do tipo de homem que pensa
Que possa valer a pena, uma mulher que se compra...
Até sonhei com a gente de mão dada no centrão
Vem da minha vida fazer parte
Mas acordei com a saliva fria num balcão
Foi tudo um simples disparate
O advento da poesia traz transformação
Com três acordes e a essência ensaio o meu refrão
E as luzes do palco da vida afastam a escuridão
Vejo você, num dia claro e lindo de verão
E não mais andei sem rumo (e sem direção)
Numa fria chuva de Abril.
Os geneticistas e os cardiologistas já não têm mais dúvidas: o coração dos suínos é o que mais se adéqua aos transplantes humanos. Tanto a textura como a contextura, a qualidade das pequenas artérias, a cor, o tempo de cicatrização, parecem indicar um antigo parentesco entre essas duas espécies. Agora é o momento dos filósofos e dos psicólogos entrarem em cena para explicar mais a fundo o que essa descoberta sugere.
Dai aos homens um fuzil e eles logo inventarão uma legião para-militar; dai-lhes um amuleto e eles logo forjarão uma seita; dai-lhes uma ideologia e eles só enxergarão o mundo através dela; um cargo e logo se tornarão autoritários incontinentes
Retirai de circulação a literatura, o agiotismo e o comércio, e a civilização perderá por completo sua identidade
Ciúmes: o ser humano é o único animal que para “preservar” o objeto de sua paixão o inferioriza, o desqualifica, o humilha e o derrota.
Cansados de buscar verdades e desculpas para justificar-se, os homens se entregam às mais variadas formas de mentiras. Entre todas, a mais ordinária é a da cidadania.
Enquanto o Estado e seus barrigudos se vangloriam de ser o “bem comum”, as massas imploram e rezam por algo como um “bem extraordinário”, uma pílula miraculosa, uma lobotomia.
O fofoqueiro não é desprezível apenas por caluniar, por intrometer-se na vida dos outros e por infernizar as relações sociais. Ele é visto como o mais abjeto dos seres, porque silencia quando o caluniado aparece.
Existe desgraça maior do que a de ter nascido num país que se orgulha de produzir automóveis enquanto importa trigo?
Dos fingimentos sociais mais comuns, chamam-me especialmente atenção o da fidelidade, o do engajamento social e o da crença em deus.
Se a cobra de prata, que levo ao pescoço, pudesse picar-me cada vez que me surpreende agindo como o populacho, tudo em mim já estaria envenenado.
Quase sempre os homens e as doutrinas que pretendem nos obrigar a ser livres, são tão opressores como aqueles que nos forçam a ser escravos.
Quem vive muito tempo fora do Brasil, ao voltar para cá, tem a nítida impressão de que para esse povo, o feijão e o arroz são alucinógenos.
A POESIA E A SOLIDÃO (B.A.S)
A poesia e a solidão sempre tiveram uma certa afinidade. O momento solitário sempre foi rico para o poeta, o filósofo e o místico.
Schopenhauer costumava dizer que a semana tem seis dias de sofrimento e um dia de tédio. As pessoas se escravizam demais no trabalho e terminam aprisionadas no tédio no último dia.
A nossa sociedade moderna perdeu a unidade, a mística, o olhar mais belo. Nos aprisionamos no capitalismo, liberalismo e outros "ismos". Com isso nos afastamos do utópico para reverenciar o "status quo". Como dizia o filósofo alemão Heidegger, nossa época é caracterizada pelo esquecimento do "ser". Nossas aspirações modernas são o "ter". Possuir cada vez mais e mais. Com isso um vazio existencial se instala em nós, destruindo-nos lentamente.
Precisamos acordar rápido para reavivar o Belo em nós. O homem moderno perdeu a capacidade criativa, gerada de si mesmo, perdeu sua identidade, sua singularidade, e mais, perdeu sua liberdade.
Valorizar a cultura, as artes, a criação espontânea, a religiosidade, a poesia são caminhos viáveis e alegres.
Enfim, as grandes mudanças ocorrem no silêncio, no vazio, na simplicidade. É preciso aquietar-se, mesmo que por um breve instante, e ouvir os versos que a vida nos dia. Dizia Rollo May: "Toda história do homem é um esforço para destruir a própria solidão".
(Bartolomeu Assis Souza, Jornal Lavoura e Comércio, Uberaba, 28/07/2001, Caderno Especial A-07)
