So Passou pela Vida Nao Viveu

Os críticos podem dizer que determinado poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.

Apenas devia ser possuidor quem tem espírito: não sendo assim, a fortuna é um perigo público.

O que o moralista mais odeia nos pecados dos outros é a suspeita acusação de covardia por não ter coragem de os cometer.

As alegrias da riqueza são fugazes e não têm qualquer valor; e os que apreciam essas coisas valem menos ainda.

Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue.

Ninguém pode amar a liberdade sinceramente, senão pessoas boas; as demais amam não a liberdade, mas a licenciosidade.

O que torna a dor do ciúme tão aguda é que a vaidade não pode ajudar-nos a suportá-la.

O dinheiro não tem a mínima importância, desde que a gente tenha muito.

Não será uma vergonha que os fanáticos sejam zelosos e que os sábios se desmazelem?

A experiência localiza-se nos dedos e na cabeça. O coração não tem experiência.

Todos somos iguais perante a lei, mas não perante os encarregados de fazê-las cumprir.

O homem não foi feito para meditar, mas para agir.

Não se tem razão quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se lancinantes e só morrem com o homem.

Tais são os preceitos do direito: viver honestamente, não ofender ninguém, dar a cada um o que lhe pertence.

Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade.

Finge ignorar os teus inimigos; não caias na vulgaridade de defender-te.

Aquele que sabe quando tem bastante, não cairá no ridículo. E aquele quando deve parar, não correrá perigos.

Não te fies da riqueza ou da piedade dos homens pelo aspecto com que se apresentam nos domingos.

Os homens a quem se fala não são aqueles com quem se conversa.

O castigo da ocasião malograda é o não tornar a encontrar-se mais.