So Passou pela Vida Nao Viveu

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“Você não consegue explicar, mas sente.”

No ombro do planeta
(em Caracas)
Oscar depositou
para sempre
uma ave uma flor
(ele não fez de pedra
nossas casas:
faz de asa).

No coração de Argel sofrida
fez aterrissar uma tarde
uma nave estelar
e linda
como ainda há de ser a vida.

(com seu traço futuro
Oscar nos ensina
que o sonho é popular).

Nos ensina a sonhar
mesmo se lidamos
com a matéria dura:
o ferro o cimento a fome
de humana arquitetura.

Nos ensina a viver
no que ele transfigura:
no açúcar da pedra
no sonho do ovo
na argila da aurora
na pluma da neve
na alvura do ovo.
-Oscar nos ensina
que a beleza é leve.

Não é qualquer pessoa. É você.

A LUÍS MAURÍCIO, INFANTE

Acorda, Luís Mauricio. Vou te mostrar o mundo,
se é que não preferes vê-lo de teu reino profundo.

Despertando, Luís Mauricio, não chores mais que um tiquinho.
Se as crianças da América choram em coro, que seria, digamos, do teu vizinho?

Que seria de ti, Luís Mauricio, pranteando mais que o necessário?
Os olhos se inflamam depressa, e do mundo o espetáculo é vário

e pede ser visto e amado. É tão pouco, cinco sentidos.
Pois que sejam lépidos, Luís Mauricio, que sejam novos e comovidos.

E como há tempo para viver, Luís Mauricio, podes gastá-lo à janela
que dá para a "Justicia del Trabajo", onde a imaginosa linha da hera

tenazmente compõe seu desenho, recobrindo o que é feio, formal e triste.
Sucede que chegou a primavera, menino, e o muro já não existe.

Admito que amo nos vegetais a carga de silêncio, Luís Mauricio.
Mas há que tentar o diálogo quando a solidão é vício.

E agora, começa a crescer. Em poucas semanas um homem
Se manifesta na boca, nos rins, na medalhinha do nome.

Já te vejo na proporção da cidade, dessa caminha em que dormes.
Dir-se-ia que só o anão de Harrods, hoje velho, entre garotos enormes,

conserva o disfarce da infância, como, na sua imobilidade,
à esquina de Córdoba e Florida, só aquele velho pendido e sentado,

de luvas e sobretudo, vê passar (é cego) o tempo que não enxergamos,
o tempo irreversível, o tempo estático, espaço vazio entre ramos.

O tempo "" que fazer dele? Como adivinhar, Luís Mauricio,
o que cada hora traz em si de plenitude e sacrifício?

Hás de aprender o tempo, Luís Mauricio. E há de ser tua ciência
uma tão íntima conexão de ti mesmo e tua existência,

que ninguém suspeitará nada. E teu primeiro segredo
seja antes de alegria subterrânea que de soturno medo.

Aprenderás muitas leis, Luís Mauricio. Mas se as esqueceres depressa,
Outras mais altas descobrirás, e é então que a vida começa,

e recomeça, e a todo instante é outra: tudo é distinto de tudo,
e anda o silêncio, e fala o nevoento horizonte; e sabe guiar-nos o mundo.

Pois a linguagem planta suas árvores no homem e quer vê-las cobertas
de folhas, de signos, de obscuros sentimentos, e avenidas desertas

são apenas as que vemos sem ver, há pelo menos formigas
atarefadas, e pedras felizes ao sol, e projetos e cantigas

que alguém um dia cantará, Luís Mauricio. Procura deslindar o canto.
Ou antes, não procures. Ele se oferecerá sob forma de pranto

ou de riso. E te acompanhará, Luís Mauricio. E as palavras serão servas
de estranha majestade. É tudo estranho. Medita por, exemplo, as ervas,

enquanto és pequeno e teu instinto, solerte, festivamente se aventura
até o âmago das coisas. A que veio, que pode, quanto dura

essa discreta forma verde, entre formas? E imagina ser pensado,
pela erva que pensas. Imagina um elo, uma afeição surda, um passado

articulando os bichos e suas visões, o mundo e seus problemas;
imagina o rei com suas angústias, o pobre com seus diademas,

imagina uma ordem nova; ainda que uma nova desordem, não será bela?
Imagina tudo: o povo,com sua música; o passarinho, com sua donzela;

o namorado com seu espelho mágico; a namorada, com seu mistério;
a casa, com seu calor próprio; a despedida, com seu rosto sério;

o físico, o viajante, o afiador de facas, o italiano das sortes e seu realejo;
o poeta sempre meio complicado; o perfume nativo das coisas e seu arpejo;

o menino que é teu irmão, e sua estouvada ciência
de olhos líquidos e azuis, feita de maliciosa inocência,

que ora viaja enigmas extraordinários; por tua vez, a pesquisa
há de solicitar-te um dia, mensagem perturbadora na brisa.

É preciso criar de novo, Luís Mauricio. Reinventar nagôs e latinos,
E as mais severas inscrições, e quantos ensinamentos e os modelos mais finos,

de tal maneira a vida nos excede e temos de enfrentá-la com poderosos recursos.
Mas seja humilde tua valentia. Repara que há veludo nos ursos.

Inconformados e prisioneiros, em Palermo, eles procuram o outro lado,
E na sua faminta inquietação, algo se liberta da jaula e seu quadrado.

Detém-te. A grande flor do hipopótamo brota da água "" nenúfar!
E dos dejetos do rinoceronte se alimentam os pássaros. E o açúcar

que dás na palma da mão à língua terna do cão adoça todos os animais.
Repara que autênticos, que fiéis a um estatuto sereno, e como são naturais.

É meio-dia, Luís Maurício, hora belíssima entre todas,
pois, unindo e separando os crepúsculos, à sua luz se consumam as bodas

do vivo com o que já viveu ou vai viver, e a seu puríssimo raio
entre repuxos, os "chicos" e as "palomas" confraternizam na "Plaza de Mayo".

Aqui me despeço e tenho por plenamente ensinado o teu ofício,
que de ti mesmo e em púrpura o aprendeste ao nascer, meu netinho Luís Mauricio.

Não confie plenamente sequer em tua própria sombra,
pois até ela te abandona quando você está no escuro.

Diz que eu não sou de respeito
Diz que não dá jeito
De jeito nenhum
Diz que eu sou subversivo
Um elemento ativo
Feroz e nocivo
Ao bem-estar comum

Fale do nosso barraco
Diga que é um buraco
Que nem queiram ver
Diga que o meu samba é fraco
E que eu não largo o taco
Nem pra conversar com você
Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica
Onde vai e a gente fica
Sem saber se vai voltar

Diga ao primeiro que passa
Que eu sou da cachaça
Mais do que do amor
Diga e diga de pirraça
De raiva ou de graça
No meio da praça, é favor
Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica
Onde vai e a gente fica
Sem saber se vai voltar

Diz que eu ganho até folgado
Mas perco no dado
E não lhe dou vintém
Diz que é pra tomar cuidado
Sou um desajustado
E o que bem lhe agrada, meu bem
Mas fica
Mas fica, meu amor
Quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar

Amigos são amigos, não importa o quanto durou ou quanto durará, porque amigo de verdade fica pra sempre mesmo que apenas nas boas lembranças.

Quando se ama de verdade
Nós não vemos a dificuldade
Acreditamos que na nossa Idade
Vale em muito nossa integridade.

O mundo não sabe que é criativo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Conversa puxa conversa à toa.

...Mais

...não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum.

Sentir saudades é absolutamente comum, mas entenda, o passado não volta mais. Olhe para frente.

Não é uma questão de sorte. As coisas acontecem na hora certa e da maneira que têm que acontecer, seja pra ensinar ou pra mostrar alguma coisa, sempre aprendemos. Tudo que temos é fruto de uma conquista, seja ela fácil ou difícil.

Pode não parecer, mas mudar e amadurecer são duas coisas bastante diferentes.

E aqueles velhos medos não me assustam mais.

Não precisa ficar colocando defeito, já tenho o suficiente.

Não sejas feiticeiro, mas se o és, faz dele teu ofício.

Meditava? Não. Gilliatt sonhava. Não se deixava abater pela maré.

Não deixe o choro da noite atrapalhar sua linda manhã.

Não se preocupe, o que tiver de ser, será.

Você não se importa ou finge tão bem quanto eu?