Sinto falta do meu Passado
CLAUSTRO
No silêncio do claustro solitário
Do vazio acerado desta morada
Numa vastidão da noite calada
Sombria aflição urde o cenário
Nele vagueio, e levo vergastada
Da tristura, desfiada num rosário
De lágrimas, sem um destinatário
Em cinzas de uma época passada
Na cíclica ladainha do fado vário
Aí, rezada em oração desfilada
Os ás da solidão do proprietário
E pelo claustro, a lacuna é criada
Em saudades, ausente no sacrário
Silenciado em uma muda fachada
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
AMAR (soneto)
E agora! Eu quero ter paixão
E assim, poder ter um amor
Viver de amar num coração
Paixão de amor, aonde eu for
E neste encanto, ter emoção
Num doce viver, e ao dispor
Um romance de flor, de razão
Suspiros, com ar arrebatador
Então, beber de magos lábios
O afeto citado nos alfarrábios
D'Alma, que faz a gente sonhar
Para na sensatez dos sábios
Mostrar e sem ter ressábios
Que bom, é ter e poder amar!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
AMANHECER
Abra a janela dos teus olhos,
preze a maravilha
do amanhecer.
É a vida renascendo, cantante,
bela,
No seu fugaz instante.
É preciso ir além, da cancela...
Acreditar,
tudo é constante,
quando existe o admirar...
Da dor faça um mirante
pra ver a alegria
contemplar.
Sorria! É mais um dia...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SAUDADE
No vazio da penumbra da solidão
teu cheiro tornou-se guia,
ti via no luar, nas folhas caídas ao chão;
que no bailar do vento, escrevia,
as saudades poetadas pelo meu coração.
E no anoitecer, ainda existia
parte de você na minha emoção.
Tão presente e tão sem argumento,
que a falta tornou-se imensidão.
Infinidade...
E nada de você no momento...
Só saudade!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Mas o tempo passa rápido, olhe que as florzinhas do Montsouris já brotaram, que as crianças já vieram, que todos tomam sol esparramdos na grama, e o pombinho que havia caído no lago, batendo deseperada e inutilmente as asas, bem que foi salvo por um menino de boné branco. Nada mais contraditório do que ler Camus num domingo assim tão pleno. Aqui na terra tudo vai bem. Bem. E hoje, excepcionalmente, não temos vertigem. A banda começa a tocar, abafando o riso das crianças. Nada existe e tudo existe, a música cada vez mais forte, cada vez mais forte, abafando a morte e me distraindo da minha leitura." (O último verão em Paris, crônicas, 2000)
Severino Pinto cantando com Lourival se auto-elogia:
No lugar que Pinto canta
Não vejo quem o confunda
O rio da poesia
O meu pensamento inunda
Terça, quarta, quinta e sexta
Sábado, domingo e segunda.
Lourival prontamente responde:
Sábado, domingo e segunda
Terça-feira, quarta e quinta
Na sexta não me faltando
A tela, pincel e tinta
Pinto, pintando o que eu pinto
Eu pinto o que Pinto pinta!
Não é o excesso de dinheiro que tornará um homem verdadeiramente rico e nem é a sua pouca quantidade que o fará humilde.
Vencer é um conceito muito relativo. Pois a premissa da derrota não é a consequência da disputa, mas sim a ausência da lição!
Todos os lares são reinos. Que se não forem totalitários e nem tampouco desgovernos, tornar-se-ão seguramente sólidos paraísos!
Os fogos são mesmo grandes e covardes artifícios, que iluminam faces alienadas, que contrastam com seus corações anoitecidos e que nunca alcançam a penumbra sob os viadutos da exclusão social. Porque feliz ano novo só existe com pão e dignidade para todos!
Até o céu é menor que a arrogância daqueles que se julgam superiores. Razão por que ficarão de fora todos os racistas!
Toda mulher tem o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo e não sobre outra vida. Aborto é crime moralmente hediondo, cujas consequências são físicas e terrenas, mas de repercussões eternas!
E o que é o amor em sua filosófica amplitude, senão a bandeira da verdade, chamando o coração e o caráter ao justo e necessário conflito?
O valente não é aquele que esbofeteia a face de seu adversário, mas sim o que aniquila seus próprios interesses a guerra por um bem maior!
Que o mal corriqueiro e banalizado regresse urgentemente para o reino das raridades, antes que seja tarde demais para a prática do bem!
Grande parte de nós é uma personalidade dupla, que habita num único corpo. E a mais atuante de nossas duas pessoas é justamente aquela que costumeiramente negamos existir!
O aprendizado proporcionado pela vivência com os animais é tão extraordinário quanto a bestificação ocasionada pelo convívio com o homem!
