Shakespeare sobre o Amor Soneto 7
" DESIGUAL "
O desigual, às vezes, favorece
e, o que fora de prumo, dá sentido
ao belo, ali contido e adormecido,
que, sob o nosso olhar, então, floresce!
A estética diria haver despido
o que a beleza, aos olhos, enaltece
e não se sabe como isso acontece,
mas fato é que há o perfeito no descrido.
As diferenças não são mais notadas
e, as formas desiguais, lá, desprezadas
porque o conjunto todo, ao fim, agrada…
E, o que era pra ser feio, fica lindo
enquanto essa beleza vai remindo
ao que tocado foi por mãos de fada!
" GUIA "
Eu perguntei pro curso do destino
pra onde é que me leva a sua estrada
de curvas e ladeiras, pois, formada
de modo que o final não descortino!
Se a travessia imposta na jornada
oculta-se nas páginas que assino,
como é que vou colher do seu ensino
e compreender qualquer lição me dada?!
Queria antecipar o fim da história
pagando, à vista, assim, a promissória
a quem prestar as contas vou, um dia…
Mas o destino, sem qualquer resposta,
mandou que eu aumentasse, enfim, a aposta
e me arriscasse a prosseguir sem guia!
" PROPOSTA "
Deixei-te sem palavras, sem resposta,
sem dúvidas que, até, desconcertada,
surpresa, constrangida, apavorada
quando eu te perguntei se estás disposta!
Assim, de bate-pronto, na jogada,
o susto ajuda na questão suposta
deixando tu’alma totalmente exposta
sem ter qualquer suspeita arquitetada.
Então, fala mais alto a carne em jogo
do que a razão, ao ponderar o rogo,
abrindo, ao fim, caminho pra paixão…
E, sem palavras, sem resposta pronta,
ponderas que a proposta não te afronta
e acabas, pois, na palma, aqui, da mão!
AUSÊNCIA, UMA
A folha em branco, uma ausência apossa
Do coração. Nada é leve, a emoção vazia
Sem calor, tão desamparada está a poesia
A noite adentra e uma prostração endossa
Letras amargas, cruas, vou até onde possa
Sentimento solto ao vento, de pouca valia
Que a própria poética no versejar desafia
Em um carecente que está solidão esboça
Fomentos que com um pouco se asilam
Se fazendo indolente, inusual e horrível
Como rabiscos fossem, assim, suspiram
Olho a folha em branco, atento, sensível
E das inquietas sensações, nada cintilam
Somente um volúvel sussurro inaudível...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06 setembro, 2022, 22’42” – Araguari, MG
Eu vi você
Menina linda, doce e contagiante
Eu vi você
Eu vi você se desfazer pouco a pouco
O brilho sumir, o sorriso partir
Eu vi você cair, se desiludir
Ser retalhada em pequenos pedaços
Mas também vi você encher de abraços os seres com quem tem laços
Eu vi você chorar, se rastejar
Eu vejo você agora, em posição fetal, mas você sabe, que eu vi, que nada disso é fatal.
Sussurra ao meu ouvido então provocante, Discreta, bela a portar-se uma a dama,
Lábios doces que a saudade chama,
É o instante da loucura dominante.
Sem querer resistir, ficar assim,
Enlouquecido e um tanto atirado,
Mirando a tua boca de pudim:
- Quero você todinha para mim.
Nos traços da missão da sua luta,
Dirige-se ao prélio o legionário;
Definem da coragem o seu erário
Suas linhas com face resoluta.
E galopa veloz cortando o Tempo,
Do dever sua lança o império vibra:
Densas formas desenham sua fibra,
Que os mares da batalha vai rompendo.
Com o fatal findar da resistência,
Desmonta-se o lanceiro em seu declínio
Nos seus rumos desfeitos de existência.
Em esboços se prostra o paladino:
Ei-la, cavalaria de imponência,
Quebrantada em areias do Destino.
Desvendo, introvertida e tão dolente,
Com o verso, que acorda e nada oculta,
A rosa cuja espada vil se sente
No arrebol das paixões da vida adulta.
Aos grilhões do encanto me condeno
A cultuar, honrado, suas formas,
Admirando da lâmina o veneno
E queimando na dor de suas normas.
Ainda que aflições tenha por lemas,
Manifesta-se a rosa com estima,
Que dos versos se adorna nos dilemas.
Se no segredo o amor rasga e se firma,
Deixe o mundo que fervam os poemas,
De onde revela o mal a triste rima!
Vivo, apenas vivo - 19/01/2023
A fluidez de meus movimentos combinam
Com a respiração suave,
Acompanhada de um sorriso enquanto ando
Em alguma rua da cidade.
Me sinto vivo e tudo é maravilhoso,
Tudo é permeado por uma aragem;
Uma sensação momentânea que inebria e
me faz poder admirar a mais dolorosa adversidade.
Diante de meus olhos ela se torna pó, poeira;
De repente corre desesperada a felicidade,
Distanciando-se rapidamente da simplicidade.
Lamento-me por não tê-la agarrado,
Agora apenas vivo na esperança de ter
Uma outra oportunidade.
VICIOSO
No vício eu me perdi, desatinado,
Inebriando os sonhos em goles fundos,
Água transparente em trago profundo,
Engolindo pesadelos sem cuidado.
Esqueci dos sorrisos, do amor velado,
Afundei na lama dos lixões do mundo,
Devoção licorosa, é meu terreno imundo,
Obra humana, pecado capitalizado.
Na provisória dor da mente entregue,
A alma manchada por essa sina vil,
Desvairado, sem luz, me tornei intruso.
Porém, busco redenção, esperança surge,
Os versos do soneto, um grito sutil,
Transformam-se em luz, em resgate e em uso.
Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.
COVEIRO
Mudei-me para o bairro do pé junto,
lugar calmo e de muita urbanidade,
porém recanto morto da cidade,
pois, pra vizinho, tenho só defunto.
Eu mesmo me respondo se pergunto,
e, sem por que falar amenidades,
já penso com maior profundidade,
comendo pão de queijo com presunto.
Coveiro sou, estou a edificar
um bairro para baixo, nos canteiros
onde todos irão se aconchegar.
Sou construtor dos lares derradeiros,
e vou cavando sem me preocupar,
pois nunca fiz enterro de coveiro...
Marcos Satoru Kawanami
SOU UMA GIGANTE
(Renata Guimarães Lima e Flavia Siqueira)
Um dia percebi que sou gigante
Pensei que fosse um sonho
Só me convenci de tudo
Quando a noite chegou
Uma estrela esquivando-se dos astros
Iluminou-me completamente
Dizendo tu és uma gigante
Sabes realmente fazer de tudo
Principalmente no amor
Que não deixa poeira escura atrapalhar
Quebrando todas as barreiras
És gigante porque sabes amar
Do espaço entre duas estrelas
É o tamanho do teu amor
Luz da Inspiração
Na inspiração dos meus escritos, um fio de luz,
Lampejos que cortam densas trevas, sem cerimônia,
Em mim, unem-se como fios, sem andar perdidos,
Métrica e rimas, deixamos de lado, com harmonia.
Expressão da alma em chama, sem fronteiras,
Sem cessar, obras abstratas em busca da verdade,
Ânsia por desvendar o desconhecido, sem fronteiras,
Liberdade e justiça, clamor e realidade.
Com a razão como guia, desbravo a vastidão,
Nas palavras, a força que liberta, perfeição,
Evolução é minha busca, enfrento a escuridão.
A vida, efêmera, e a morte nos alcançará,
A essência que nos move, sempre brilhará,
Assim como o sol na terra, a inspiração em mim está.
Ei! Você aí, onde está Eugenia?
Sumiu e não a viram
Em seu lugar vejo misoginia
Se em mal dizer a destruíram
Agora, onde pois Ana Marista?
No fogão ou atrás da mesa?
Meu senhor, como é machista
Sua mãe era guerreira ou princesa
Nem vou rimar até criar calos na língua
Afinal é só “coisa de homem”
Assim é o mundo, onde pombas dormem
Não vamos entrar nas entrelinhas
Nem toda mulher é Mal vista
Mas não diferenciam, Eugenia de Ana Marista.
Sonetos Acrósticos de Letheby I
Turu Pensante
Edáfico horizonte, em sua camada mais profunda,
Um ser se entranha, contorce, retorcido,
Ser sem dignidade, na crosta afunda,
O seu couro embranquecido, frio e umedecido.
Um silvo profere, ao ver um sulco,
Um oportunidade, pensaria se pensasse,
Mas há de haver luz, reflete o de tez de talco,
Assim que a cavidade do sulco terminasse.
Torce o verme cor de giz,
Raiar do sol, aí vou eu, se pensasse pensaria,
A ele não sabe, que sulcos nem sempre seguem uma diretriz,
Sulco sem caminho, sulco sem saída,
O que eu sou, sem direção ou motivação...
...de vida.
A Chuva
Gotas que chegam repentinamente
Regando a terra,escoando pelo chão,
Trazendo alegria ao velho torrão
Que anseia pela sonhada semente.
A chuva traz confiança
Ao pobre sertanejo sofrido,
Que de tanta seca vivido
Quase perde a esperança,
Mas Deus sempre os socorre
Onde quase tudo morre
E só resiste quem é forte,
A chuva renova a vida
Rega a alma ressequida,
E afugenta o cheiro de morte.
Quem és tu José ?
José não é doutor
Não é locutor
José não é nada
Quem és tu José?
José não é alquimista, nem-
alpinista
José não é nada
Mas quem és tu José?
José não famoso
Não é importante
José nem existe
Quem tu foste José?
José não foi nada, ele é só- o padroeiro!
O único homem, que uma intervenção divina- soube perdoar.
120623
Mais marcante a cada
instante como presença
inabalável no seu coração
porque há em nós afinação.
Amor, paixão e sedução
de todas noites em viração,
perenal estrela das estrelas
no universo dos teus afetos.
Incenso perpétuo e desejo
crescente sem regresso
do escolhido destino certo.
Das horas a cara cavalgação
que fortalece tudo ao redor
e confirmação sem hesitação.
Se eu não me escandalizar
com alguém passando
fome ou por um sofrimento
enorme já morri por dentro.
Se eu banalizar uma fala
agressiva ou uma guerra
pode ter certeza que
estou no final da linha.
O ditado "Quem não vive para
servir não serve para viver"
é calar para a vida e morrer.
Se posso falar nesta vida,
continuarei falando até que
a morte se dê por vencida.
