Se eu Fosse se Namorado
Se eu fosse poesia, valeria mais do que parece. Se eu fosse um ato bom, valia muito mais que uma prece. Se eu fosse a vida, era a essência de tudo. Se eu fosse a mentira, preferiria nascer mudo. Se eu fosse um baseado, não seria droga e nem paz. Se eu fosse a parte de cima, não pisaria na de baixo. Se eu fosse algo além do que eu sou, se eu fosse mais do que um sonhador, ainda seria eu!
Sim o tempo reina; ele retomou sua brutal ditadura. E está-me empurrando, como se eu fosse um boi, com seu duplo aguilhão: "Vai, anda, burrico! Vai, sua, escravo! Vai, vive, maldito!"
É que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. Queria que eu não te visse com outra. Queria que você gostasse e cuidasse de mim como ontem à noite você cuidou. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga, não estraga, não estraga.
A possíveis leitores
Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente – atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém. A mim, por exemplo, o personagem G.H. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria.
Se eu fosse eu, riria abertamente do que acho mais graça:
pessoas prepotentes, que pensam saber mais do que os outros,
e encorajaria os que pensam que sabem pouco, e sabem tanto.
Crônica: Se eu fosse eu - Livro: Non-Stop
Pensei na palavra desajustado um momento. Talvez fosse a melhor descrição de mim mesma que eu já tivesse ouvido. Onde foi que um dia eu me encaixei?
Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há exatos vinte anos. Eu estava sozinha - não havia um único rosto conhecido a menos de um oceano de distância - sentada na beira de um lago. Fiquei um tempão olhando pra água, num recanto especialmente bonito. Foi então que me bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho. Deve ser o que chamam de plenitude. Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma. Não há como contar isso sem ser piegas. Aliás, não há como contar, ponto. Não foi algo pensado, teorizado, arquitetado: foi apenas um sentimento, essa coisa tão rara.
De lá pra cá, nem hino nacional, nem gol, nem parabéns a você me tocam de fato. Isso são alegrias encomendadas e, mesmo quando bem-vindas, ainda assim são apenas alegrias, que é diferente de comoção. O que me cala profundamente é perceber uma verdade que escapou dos lábios de alguém, um gesto que era pra ser invisível mas eu vi, um olhar que disse tudo, uma demonstração sincera de amizade, um cenário esplendoroso, um silêncio que se basta. E também sensações íntimas e indivisíveis: você conquistou, você conseguiu, você superou. Quem, além de você, vai alcançar a dimensão das suas pequenas vitórias particulares?
Eu disse pequenas? Me corrijo. Contemplar um lago, rever um amigo, rezar para seu próprio deus, ver um filho crescer, perdoar, gostar de si mesmo: tudo isso é gigantesco pra quem ainda sabe sentir.
Se não fosse Edward lá fora, se eu não soubesse com todas as células do meu corpo
que eu o amo – incondicionalmente e irrevogavelmente, e honestamente, irracionalmente – eu nunca seria capaz de levantar desse chão.
Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que não gritavam quando eu acendia a luz do quarto, não faziam uso de um cigarro que me irritava profundamente e sobretudo minha rinite alérgica, não usavam cueca rosa, não cantavam tão mal e tampouco cismavam de imitar o Led Zeppelin, era ele que eu amava [...], era ele que eu queria. E ele me diria que, mesmo depois de ter conhecido mulheres que arrumavam a cama e não demoravam tanto para sentir prazer, não tinham uma blusa ridícula com uma rajada de dourado, não eram dentuças e tampouco testudas, não cantavam tão mal [...], era eu que ele amava, era eu que ele queria. Mas a realidade é que não gostamos desses tipos de filme fraco com final feliz, gostamos dos europeus "cult" onde na maioria das vezes as pessoas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente.
"Eu queria que a gente fosse pouco mais construtivo, mais aberto as possibilidades boas. Queria que em vez de hostis e agressivos fôssemos mais gentio e *Civilizados*.
Eu o amo. Não porque ele é bonito ou porque é rico. Preferia que não fosse nem uma coisa nem outra. Assim o abismo entre nós seria um pouquinho menor… Porque ele ainda seria a pessoa mais adorável, altruísta, inteligente e decente que já conheci. É evidente que eu o amo. É tão difícil entender isso?
Preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
''E se eu ao menos fosse considerada uma aliada sua, mas não, eu era mais um elemento do exército oposto,aquela que estava mais perto e que podia receber seus golpes mais certeiros. Você nunca foi violento, mas como era cruel.''