Sagrado
Todo aquele que estuda para chegar à iluminação, à contemplação do sagrado, devia começar perguntando a si mesmo quanto ama. Pois o amor é a força motriz da mente, que o tira do mundo e o inspira para o alto.
E quem , não quer?
dar uma escondidinha, para dar um tempo..
Encontrar um lugar sagrado para refugiar-se
esquecer, mesmo que seja por algumas horas?
..
Coração Literário.
Jovial e insano, sagrado, mas profano, amor ou ódio, poetar as coisas bonitas, como fazer chorar em momentos inesperados surpresas que são certas e certezas inesperadamente absurdas, assim bate um coração literário e a cada curva do destino a mudança se torna indispensável, como as manhãs e o sol que brilha imponente.
Não tem como temer o amanhecer ou chorar sem saber por que, viver uma ilusão fantasista criada por alguém com tanta verdade que até parece à vida de outrem, a ilusão de sentir o verbo e tecer cada página torna-se um bem tão precioso quanto viajar sem motivo ou voar sem ter asas, num vôo magistral e mágico como flutuar no vazio ou tocar o imenso céu anil.
Tal arte de compor está no sangue e viaja pelo intelecto chegando até o coração que responde como uma ferramenta de sensações sem precedentes, levando emoção ao carente e fazendo-se amar o indiferente.
Sentir o amor na pele, viver ele e o ver florescer, ouvir a voz de uma dama ao menos por ilusão, sentir o suave bater do seu coração, as histórias acontecem assim, com começos meios e afins, uma viagem sem volta e muitas com retorno gratificante, como vencer um gigante ou sentir no emocional aquele mundo tão interessante, ter duas vidas e vivê-las com tanta intensidade, obter a chance de errar duas vezes, mas poder amar mais de uma vez.
Tomar uma vida para si, viver ela e odiar os covardes vilões, ouvir o grunhir dos canhões ou lutar contra imensos dragões, enganar, mentir e ainda sair são ou tornar-se vilão, sofrer, sorrir, chorar, sentir e amar, desejar tudo e nunca ter nada, vagar sozinho por toda a madrugada e não ver o sol nascer, sentir o amanhecer tão belo e as flores de setembro com perfume de primavera, lançar-se ao infinito e voltar a ser o que já era.
Assim vive um coração literário, ele busca, procura e anseia, sente medo, ama e odeia, mas também compartilha com seu mundo as coisas alheias, faz da amargura a ternura e da despedida o retorno e na presença faz saudade, no amor a castidade, sente aperto no coração, mas almeja um simples aperto de mão, a felicidade e o amor pela liberdade, como um pássaro escapando do alçapão.
Ah! Essa prosa poética sai do coração, conforta quem escreve sabendo que não devaneia só, pois não existe tal solidão que tenha participação ao menos do solitário que ao voltar uma página confortou-se em não entender tal raciocínio, infelizmente, a maioria assaz atrás do pão e outras diversões, menosprezam tais escritas, verdadeiros cultivos nos íntimos jardins, manifestações da alma.
Meu Sagrado
No passar dos dias e nas dificuldades da vida eu sinto uma presença, e nas horas mais felizes eu o reverencio.
Eu o sinto no meu andar, no meu jeito de levar a vida, nos pensamentos e na hora da raiva. Sinto como se meu orí estivesse protegido, e então recai sob mim sua divina sabedoria. Me clareia o pensamento e alivia meu caminhar.
É inegável nossa ligação
Ora o carrego no peito a mostra portando seu fio com suas cores, no punho direito sua ferramenta de corte duplo, representando o equilíbrio e a justiça
Quando piso em sua casa, me despido do material e meu corpo e minha mente são do sagrado
Quando os atabaques tocam o som que ecoa por toda casa, me faz arrepiar
E na fala do Ogã é anunciado sua chegada:
Àwa dúpé ó oba dodé
A dúpé ó oba dodé
Nos cânticos de Shangô sinto meu corpo leve, e passado alguns minutos o som começa a entrar em vácuo, ficam cada vez mais suaves, posso sentir sua presença.
Ele está chegando
E quando meu corpo não obedece mais minhas ordens, sei que ele está a me conduzir, e juntos em perfeita sintonia dançamos suas histórias, lutamos suas lutas e gritamos o seu grito.
A presença de Shangô contagia o ambiente e alegra meu coração por servir de instrumento nesta hora sagrada.
Ele é dono de meus caminhos, o patrono de meu destino
É ele quem escolheu meu orí, e é a ele quem devo minha vida e dedico meus dias
Não tenho vergonha de mostrar para o mundo o que me faz bem
Carrego em meu peito toda esperança e fé de um povo que sofre perseguição
Carrego meu sagrado, minha ancestralidade
Shangô é meu pai
Candomblé é minha cultura, minha crença, minha religião.
E assim as historias se cruzam, comemoramos juntos suas vitórias e juntos lutamos as minhas guerras.
"Ascende em nós, ó amada mãe a tua luz e traz para nós a tua proteção. Estendei o teu sagrado manto, ó Nossa Senhora, que é também minha mãe. Livrai-nos da ambição do ódio e do desamor e faz, querida mãezinha com que o teu coração triunfe e ganhe os corações dos homens para encontrar a paz. Amém."
Oração pela Paz no Mundo.
Douglas Melo
Quando deixamos de examinar o livro Sagrado fragmentado debaixo dos céus de pedras construído pelas mãos dos homens e buscamos
examiná-lo linearmente debaixo do céu azul do Criador, o céu azul passa a ser dentro de nós e o livro passa a ser vivo e vivente, escrito e manifestado em tábuas do coração.
Do Centro Divino
Aprendo a olhar
desde o Deus que habita em mim
Cada erro— sagrado espelho
Cada queda— chão que elevo
A autoridade que me deram
não se negocia
não se empresta
não se mancha
É direito ancestral
escrito na alma
antes do tempo ter nome
Os contratempos
são lições vestidas de dor
A solidão— necessária oficina
onde forjei minha própria luz
A bondade que não espera
não cobra
não exige
É rio que flui
por ter sede de dar
Não por sede de receber
Hoje devo tudo ao Silêncio
que fala através de mim
Aos instintos divinos
que guiam meus passos
À gratidão radical
por tudo o que fui
e tudo o que ainda serei
Deus existe em mim
não como visita
mas como morada permanente
E desta casa interior
contemplo o mundo
já não como estrangeiro
mas como centro
de onde toda a vida
emana
e para onde todo o amor
retorna
Encerrar é tão sagrado quanto começar. Sem fechamento, arrastamos correntes invisíveis: culpas e pendências que sabotam o próximo ciclo.
Quando a porta do templo sagrado cai, vem o convite para contemplar a delicia do divino paraíso.
Nesse instante rezo para que o tempo pare ou passe devagar para poder apreciar sem moderação...
SAUDAÇÃO PARA LEVANTAR UMA CABEÇA QUE FOI RESTAURADA PELO SAGRADO BORI:
Ó kásà sábẹ́kẹ̀, tó júbà, dé má dé, mẹ́tà làbọ̀kan. Iwò orúkọ kan, orúkọ méjì Ori?
Tradução:
“Ele(a) se prostrou cuidadosamente, saudou, foi e voltou, três vezes fomos em um só. Você tem um nome ou dois nomes Ori ?
Ele(a) se curvou com doçura,
Saudou com a alma cheia de respeito.
Foi, voltou e retornou de novo.
Três vezes viemos como um só destino.
Um só nome?
Ou seriam dois nomes na mesma cabeça ?
Foi, voltou e retornou de novo.
Três vezes viemos como um só destino.
Um só nome?
Ou seriam dois nomes na mesma cabeça ?
_ Matheus Sallun de Yemanjá_
Aquele que adoça o paladar com a falsidade não pode beber o vinho sagrado da verdade sem que sua boca se queime.
"Só quem já teve a alma alcançada pela presença de Deus entende o peso sagrado daquele silêncio e daquela lágrima."
Poema - Carta de Carlos Barbosa.
Querido irmão José,
Escrevo-te aqui do solo sagrado da nossa fronteira, onde tiveste o privilégio de nascer — graça que não me foi dada, embora me sinta jaguarense de alma e coração. Hoje recebi, com grande preocupação, a medida tomada por Vargas de dissolver todos os parlamentos; sei da tua atuação como deputado na nossa Capital do Brasil, cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, e imagino o que estás a sentir neste momento.
Somos republicanos, meu caríssimo irmão, e a liberdade nos norteia. Nestes dias lembro tanto da nossa infância nos campos de Jaguarão, quando nossa mãe Maria e nosso pai Antônio contavam as histórias da revolução à beira do fogo de chão, falando do nosso avô Manoel e do nosso tio-avô Bento. Lembro que todas essas histórias mais tarde vim a dividir com meu mestre José Francisco Diana.
Antes que me esqueça: sinto saudades da cunhada Arlinda e da bela Maria. Não pude ir ao casamento dela com o Luiz, e sempre me cobro por esse impedimento — coisas de política e compromissos que, ao colocarmos à frente de tudo, muitas vezes nos causam remorso. Mas, como estava a escrever, são muitas recordações. Ainda me lembro de ti pequenote, guri tentando montar nas ovelhas, e eu naquela época com as malas prontas para cumprir a vontade dos nossos pais e ir estudar no Rio de Janeiro. Não foi fácil, meu querido irmão: o Colégio Dom Pedro II era enorme, mas não maior que a faculdade de Medicina. Lembra-te que foram quase dez anos na capital da nossa República Federativa para finalmente realizar meu sonho de conhecer Paris — e lá passei longos quatro anos.
Como bem sabes, também era um sonho voltar para nossa Jaguarão e aqui exercer tudo o que aprendera. A sorte me sorriu quando tive o privilégio de conhecer meu grande amor, Carolina. Tivemos uma vida repleta de aventuras e, naturalmente, momentos de sofrimento com a perda de alguns de nossos amados filhos — dor amenizada pelo amor de Euribíades, Eudóxia e Branca.
Querido irmão, ao leres esta carta deves perguntar-te por que hoje me mostro tão narrativo e saudosista: a vida passou tão rápido. A política, depois de 1882, quando fundei o partido republicano em Jaguarão, nunca mais se apartou de mim. Veio o mandato na Câmara — onde jamais se pensara em um republicano — depois fui deputado da província e, para completar, participei como constituinte naquele ano de 1891. Depois veio o Júlio, como primeiro presidente constitucional do Rio Grande; quase me obrigou a aceitar sua imposição para eu ser seu vice-presidente. Tu conheceste o Júlio: não aceitava recusas e era deveras convincente. E assim tive de me desdobrar entre a Vice-Presidência e a presidência da Assembleia dos Representantes do Estado. Lembra-te que, em virtude disso, recusei disputar uma vaga ao Senado — por nossos ideais republicanos, meu querido irmão.
O que parecia inimaginável aconteceu: tu muitas vezes me disseste que era um caminho natural — e lá estava eu, presidente do Estado do Rio Grande do Sul, com larga margem de vantagem, três vezes mais votos que o meu oponente. E olha que sequer andei pelas outras querências de São Pedro; fiz-me vitorioso sem sair da nossa fronteira.
Por fim, acho que tudo valeu a pena, e consegui fazer muitas coisas. Tu, que por muitas vezes estiveste à frente de governos, sabes que os desafios eram grandes. Dei início à obra do Palácio Piratini; pude homenagear meu amigo Júlio erguendo-lhe um monumento; realizei a obra do cais do porto em Porto Alegre; ajudei a nossa Faculdade de Medicina; criei a colônia de Erechim e finalmente elevei a vila de Caxias à categoria de cidade; ratifiquei as questões da fronteira com o Uruguai; fui incansável nas questões agrícolas e pecuárias e tratei da saúde com todo o meu conhecimento.
Mas, depois de tantos feitos, meu irmão, precisava voltar para a minha terra de coração, e entreguei o governo ao Borges e vim para a fronteira. Lembras quando te disse que iria descansar e voltar ao meu ofício de medicina? Tu duvidaste — e hoje sabemos que tinhas razão: não deram nem seis anos de descanso e a política me reencontrou, para cumprir aquilo de que havia declinado anteriormente por motivos republicanos. Lá fui eu para o Senado Federal. Foram dez anos na Câmara Alta, mas minha saúde convenceu-me, mais uma vez, a voltar para nossa terra.
Depois de todas estas linhas, saberás a razão da minha carta repleta de saudades e lembranças: tua querida cunhada, que tanto te admirava, fez sua passagem, deixando meu coração com um vazio enorme — foi-se minha Carolina. E eu estou aqui, na terra onde tu nasceste, à espera da minha vez para ir ao encontro dela.
Abraços do teu querido irmão,
Carlos.
Autor Renato Jaguarão.
"Da Janela, o Silêncio"
Por Prof. Cranon
Há algo de profundamente sagrado nas pausas que a vida oferece.
Um instante onde o tempo não corre — apenas respira.
A caneca fumegante repousa, silenciosa, como quem guarda segredos de manhãs que não precisam ser apressadas. O vapor que se eleva desenha no ar uma dança invisível, quase uma prece efêmera, que se desfaz antes mesmo de ser compreendida.
Sobre o caderno, repousa uma caneta. E, mais do que tinta, ela carrega possibilidades. Palavras ainda não ditas, pensamentos por nascer, universos inteiros à espera de um simples gesto de coragem: escrever-se.
Do lado de fora, a vida segue — árvores, vento, luz, sombras e um verde que não se cansa de existir. O mundo não grita lá fora. Ele sussurra. E é justamente nesse sussurro que a alma encontra abrigo.
A janela, aberta, não é só moldura para o olhar. É também convite. Convite para atravessar as paredes invisíveis do hábito, do barulho interno, das urgências que sequestram nossos dias.
Ali, naquele pedaço de madeira aquecido pelo sol, mora um acordo tácito entre o ser e o estar. O ser que contempla. O estar que se permite.
Perceba: não há ruído. Só o som da respiração, do vento que toca as folhas e, talvez, do próprio pensamento sendo reorganizado em silêncio.
O café esfria, o sol se move, o tempo passa — e, paradoxalmente, tudo permanece.
Porque há momentos em que a vida não exige respostas, nem pressa. Só presença.
E talvez isso seja o suficiente:
Uma caneca, um caderno, uma janela aberta...
E a sutil, mas poderosa, decisão de simplesmente... existir.
