Saber Cuidar - Leonardo Boff
Eu, minhas máscaras e as pessoas.
Por que devemos agradar a todos, desagradando a pessoa que mais importa: nós mesmos?
A vida será muito mais próspera e sustentável se olharmos para dentro de nós e retirarmos as nossas máscaras sociais, observando o mundo através da ótica da humildade, da simplicidade, da bondade e do amor.
Pois essas virtudes têm um poder curador e transformador quando as aplicamos sendo verdadeiros, inteiros e praticando cada um desses princípios.
Aprendimento
Os mais antigos diziam:
— menino que se rala vira sabedor.
E eu virei sabedor de queda.
Sabedor de chão.
Sabedor do peso das palavras
que não se ouviram.
Porque antes do som da queda
vem um barulho de silêncio —
é quando a vida avisa
com cochicho.
Mas eu,
desobediente das alturas,
só aprendo na unção da poeira.
No sermão das formigas.
No degrau que fere meu joelho.
Alguns precisam beijar o chão
pra entender que não se pisa em tudo.
Aprender é descalçar o orgulho
e fazer verso com a cicatriz.
No meu aprendimento,
comi esse doce de fel.
Era azedo como boldo,
mas, no fundo,
tinha gosto de aurora.
Tempo de menos (Quaresma)
É tempo de menos.
Menos palavras,
menos pressa,
menos querer o mundo nos bolsos.
As árvores estão mais nuas,
os ventos, mais francos,
e os silêncios,
com cheiro de pão amanhecido.
Uma pedra repousa no canto da alma,
e a gente aprende — devagar —
a não pedir tanto,
a ouvir mais.
Talvez seja só isso:
um tempo em que se aprende
que perder também é uma forma
de se encontrar.
Barriga da Terra
A semente morreu no escuro
sem dor, sem missa, sem lamento.
Cresceu na barriga da terra,
mãe de todas as coisas.
Já foi galho, flor, fruto maduro,
mas o vento a desfez em promessas.
Caiu no chão com saudade de raiz
e reencarnou em semente.
Veio à tona vestida de caule,
com folhas como dedos verdes.
Tinha um verbo brotando nos olhos
e pássaros que riam no peito.
Nunca mais teve pressa.
Era árvore e sabia
que quem cresce no ventre do chão
leva eternidade nos galhos.
Os seus erros não definem quem você é.
Quanto mais compreendemos interiormente que temos a capacidade de nos arrepender e de transformar nossa vida a cada dia, através dos recursos infindáveis e imensuráveis da graça de Deus, mais claramente veremos que os nossos erros não definem quem somos.
Pois em nós está a essência de um Deus perfeito, que nos preenche com o seu Espírito Santo, e através dele somos feitos imagem e semelhança em espírito do Seu caráter e personalidade.
O milagre da santificação e da libertação começa quando aprendemos a renunciar a tudo aquilo que queremos fazer, porém não devemos. Assim, somos conhecidos no mundo espiritual não pelos erros e acertos que cometemos, mas pelas renúncias e resiliência santa em guardar cada princípio de Deus, para não pecar contra Ele.
Quando vivemos em Cristo e Ele vive em nós, somos constantemente preenchidos pelo seu amor, graça, bondade e sabedoria. Portanto, se desejamos receber de Deus tudo o que Ele recebeu, devemos aprender a viver como Ele viveu.
A santidade em Cristo não é a ausência de falhas, mas a resposta a elas. Santos e santificados são aqueles que, após cada pecado e erro, reconhecem o poder transformador da graça e do amor de Deus, permitindo que os reconduzam à santidade e ao primeiro amor.
Francisco
Você tinha um quê de passarinho.
Não voou, mas havia um céu inteiro
dentro de si.
O céu cabia nos teus bolsos —
um céu de algodão-doce,
de nuvens que sabiam cochichar.
De vez em quando, abria a boca
e soltava um bando de andorinhas:
palavras de um certo Galileu,
um Latino Galileu.
Enquanto o mundo lhe exigia asas,
não precisou sair do chão.
Quem carrega um céu dentro do peito
não precisa provar nada ao vento.
A proatividade relacional deve ser o ponto crucial e fundamental dos nossos relacionamentos interpessoais, pois através dela compreendemos que tudo começa quando damos o primeiro passo para construir relações cada vez mais equilibradas e saudáveis, fundamentadas no amor.
A credibilidade é uma via de mão dupla: se desejamos ser respeitados, devemos aprender a respeitar; se queremos ser amados, precisamos aprender a amar. Assim, tudo o que esperamos que façam por nós deve ter em nosso exemplo um referencial para todos com quem convivemos.
Só quem realmente viveu sob a opressão do pecado, estando totalmente perdido, e encontrou na graça e no amor de Deus uma nova razão, sentido e significado para a vida, saberá reconhecer o verdadeiro perdão de Deus.
Somos justificados pela graça de Deus em Cristo e, por meio dela, compreendemos que quanto mais a glória e as virtudes divinas se manifestam em nós pela presença do Espírito Santo, mais somos transformados à imagem e semelhança de Cristo.
Quando compreendemos que a nossa justificação vem através da graça de Deus, e não da nossa capacidade e esforço pessoal, passamos a descansar espiritualmente em Deus, sabendo que Ele é o provedor da santificação e que tudo começa e termina nele.
Toda pessoa que se considera sábia, deveria ponderar três pontos cruciais em sua vida. A sua capacitação lógica e cognitiva, a sua inteligência emocional e espiritual, para que através delas possam manifesta uma sabedoria perfeita que transformará sua vida, e irá criar um futuro de honra, paz e prosperidade em todos os seus dias.
Todo autoresponsável se edifica, constrói relacionamentos sólidos, pois sabe que através dela ele pode encontrar um amparo, e um firme fundamento através da verdadeira sabedoria, e a sua vida sempre será transformada dia após dia.
Somos aperfeiçoados através do amor, quando compreendemos que ele é a fonte da nossa vida emocional e espiritual, e que tudo deriva dele. Por isso, devemos conhecer cada um dos seus princípio, para que eles nos transformamem segundo o poder de cada virtude que existe nele.
Til
No til não há pressa.
Também não há urgência.
É um sinal menor,
mas que carrega pão,
mãe,
irmão.
Sem ele, o mundo seria mais seco.
Seria são demais.
Seria não.
Til é curva que não encurva.
É nariz da língua,
sorriso discreto no rosto da letra.
Ninguém repara —
até que falta.
E quando falta,
tudo desafina.
Poderíamos viver sem ele?
Claro.
Como se vive sem o silêncio.
Mas é no til que a fala respira.
E a palavra se lembra de ser palavra.
