Ruth Rocha Amor
PIANO
Na sala principal da casa da direita, jaz um piano,
Em quem ninguém toca,
Nem a displicente mariposa nele toca,
Pra não dizer que nada, absoluto, lhe toca,
Toca-lhe a flanela leve, até por seus teclados.
Do que vale um piano inerte, fechado,
Como se houvesse dentro alguém calado,
No ponto já de seguir o cortejo.
No meu quintal resistem dois ipês antigos,
Que já nasceram como gêmeos, irmãos parecidos,
Qando é noite que o vento afoito balança sua fronte,
Eu ouço, do ranger dos galhos a mais suave melodia.
Por isso não vejo a necessidade de um piano
Em minha sala, as teclas se grudariam,
Porque eu não toco,
E pra que serve um piano que não toca.
Como pode eu enfrentar qualquer perigo para tentar salvar a vida de alguém que nunca vi, e as vezes negar algo importante à alguém que sempre está ao meu lado simplismente por pirraça?
"...Parece que ecoa dentro de mim. É forte , mansa. É confortante e então começa a se dissipa essa tal escuridão ... Por que será que gosto tanto dessa voz ? Será que é por que sai dos lábios mais lindos que já beijei? E em fala no beijo... É ele o responsavél por esquentar o frio que outrora acompanhava a minha triste escuridão interior. É o tipo da coisa que enquanto mais se tem , mais se deseja. A minha ânsia de beija-lo é quase incontrolável. É insaciável !... "
Apagas da tua visão
Meu batom carmim
E te verei campina
Verde toda direção
Entre os montes cimo
Os teus seios deslizantes.
Eu sorvo toda a tua pele
Toda, tudo tão inteiro
E tudo será como eu quero
Como um beijar primeiro.
E onde em mim tu tocares eu
Serás como Midas
Mas não no ouro
E serei, por mim conduzido.
Te elevarei ao poço
Da minha vida
Rainha por um tempo bom
E eu terei caído.
Amor, amor, amor
Te chamarei, querida
Me sugarás teu beija-flor
Todo equilíbrio
Uma canção dos ditos
De Moraes Vinícius
E musicarei os versos
De Neruda, em vida.
NAENO - com reserva de domínio
O DIA TODO É TEU
Hoje só crer de ti me ofertarei
E já terei corrido a folhinhas do Sagrado Coração de Jesus
Que agora são o que faço
Ler destemidamente
Abancar os dragões com minhas mãos
Faço a cabeça da bruxa a amealhar tua beleza
Quando ela e eu emudecemos ponderamos
No alto volume de nossas almas.
Hoje ainda não estarás restituída
Mas o meu cantar baixinho
Algum fado, meu desafeto
Ou outra música que me é própria
Ouvir cantando pelos passagens
Enquanto eu vou à cozinha
Preparar a mesinha
Certo que hoje só beberás.
Não de mim, sacrifício não é
Às vezes, mesmo nada ocorrendo
A gente pensa imobilizar quem se ama
Mas que isso não conta como tortura
Ou algum tipo de conflito
Imutável das caneta dos justiceiros.
A gente só quer ver o corpo inerte
Mas com a saúde boa
Com a audição perfeita
Ouvindo o que se diz de ti
Longas declarações de que há dor
No meu colo onde te dormes.
JOÃO PAULO II
Quem seria capaz de repetir o acto,
De uma noite densa reinventar o claro,
E de um caos profundo, num amor tão caro,
Dar como obreiro do Divino amor, e amar.
Amar na intensidade do primeiro amor sentido,
O amor nunca remido, posto que só o bem criou,
Só o bem plantou, e na mesma intenção desmedido,
Dar-se inteiro, vasto corpo, do cosmos inteiro, feitor.
Quem se atreveria com perigos agora mais evidentes,
Atrofiar as horas, acalmar o vento, refazer o temo?
Qual o humilde, e tudo podendo, os clamores sente,
E refaz o mundo no mesmo modelo e as gentes,
Deixar constrangido, frente ao amor sentido, puro
E não se abater de sua fragilidade, e quis e fez,
Uma outra história, um movo tempo, para o futuro,
Se pensar o passado, se fazer no presente, que esse refez.
Um rei que do seu trono desceu, e não maos sentou-se
E fez do mundo uma casa maior e mais promissora
Que perdoou setenta vezes sete, e até mais perdoou,
Por ter atinado: os decretos de Deus não são dez, nem dois
ASSIM, ASSADO
Talvez não sendo eu
E nem sendo tu
O ser demasiado, eu
Em suas juras, tu
Por acaso em mim.
Eu e por oportunista, tu
Escolhemos nossos lugares
Próprios. Os mesmos
No mundo onde corremos
Das nossas esperanças rejeitadas.
Tu com mais chances que eu
Eu menos audaz, por tu.
A gente podia falar no mundo
E ele se sacudisse para esperar
A seqüência de placas
Mostrando-nos meus erros, tu
E a ti encaminhando, eu
Além, onde se sabe,
O melhor estar.
Talvez em tu arranjado
E acomodado, eu
Ainda busque as flores
E dê também os espinhos, tu
Fica a minha face
Assim, triste, assim de dar pena
Porque o choro, se não é por não querer,
De alegria, o choro de águas
Mais densas e mais salgadas
Dão sinais de cheias
De motivos e confortos
Para que eu continue assim
Ainda na retífica de espírito
Da funilaria do couro
Do desembaraço dos cabelos
Enquanto dure minha maquiagem.
VIDA
A vida é pra ser consumida
Cada dia como se o porvir
Não nos interesse
E o passado não houvesse.
Como um vinho agradável
Que se bebe gole a gole
Sem enxertarmos nela
As sombras de outros dias
Tentando o seu sabor
De cada gole de cada dia.
Quando a alcançarmos
Já estaremos trôpegos
Vendo o tempo decadente
Por nossas lutas e sabor
Contando, e lembrando
A sua intensidade
E quão diferentes vamos ficando
Nos dias e nos goles deglutidos.
Cada gole de cada dia
Como se nada houvera acontecido
Sem sabermos que estamos
Bêbados, porque estaremos
Sob o efeito do vinho bebido
Dos dias passados um a um
Da forma como contamos
A sequência dos milímetros.
É preciso tocar as palavras
Como quem experimenta sonhos
A que se exercite o seu sabor
Que a escrita inteira tem.
É imperativo esta harmonia
Na poesia nada se estanca.
Ou exageradamente continua
Se não temos o tamanho da palavra
E o seu sentido
Na remoção de sua fragrância.
De forçoso impacto da letra no papel
Assim se justifica o peso que nós somos
A disritmia do compasso que queremos ter
E damos a poesia a afeição da gente
E terminamos a andar ao lado dela
Que por elas já nos impulsiona amar.
É necessário amar a escrita
Para nos tornarmos íntimos do amor
Que o amor é típico das letras rimadas
Esperançosas as graças omitidas
E o que fizermos será por nossa conta
A palavra, o seu sentido
As batidas do coração
E isto povoará a nossa necessidade
De darmos nome à palavra
Amar e ao amor.
CIRCUNFLEXO
Quando me chegas colada a mim
Eu te afianço os cuidados das minhas mãos
Como se fora uma ode para ti
E me esguicho frente aos teus olhos
Tornando-me rio de águas de cristais.
Para o meu infortúnio
Tu pouco me abraças
E neste desejo calado
É que eu te amo amordaçado.
Me ponho a olhar para o meu jeito
Nma postura bem comum e torturada.
Entregues a ti, os meus braços me castigam
Refreio em minha boca algum gesto
E me perguntas: como vais comer
Como vais beber do que tu gostas
Como, depois, desta besteira
Vais acariciar novos amores?
Recostado em mim na posição de escora
Um anjo dorme seu sono do céu
E quando acordas da premonição acertada
Falas o meu nome e me dá-me
Tudo o que tinha apagado de mim
E tudo o que me fazia falta.
GOLFINHOS
Não é uma por nos festejar
Que os golfinhos de Fernando de Noronha
Nos assediam, como brincam
Neles tem o medo de que nós
Desejamos num relato de bordo
Seguir como conquistaram e se impuseram
Nossa nobreza falida
Eles temem por eles por que já sabem de nós
E de nossa visão direcionada do arpão
E assim, um batalhão nos segue
Como quem quer que os desocupemos
E nos aportemos fora de suas famílias
Enquanto o mar não se findar
Já noutras terras.
Aqui é o encanto deles
A lua sorri pra eles e já são cativos
Também das estrelas
Que continuam pelas águas descobertas.
E quem protege o coração contra o feitiço
Da liberdade de bater bem como quer
Esses peixinhos são por Deus também pessoas
E por isso lutam
A ver o mar entregue.
Ali eles nasceram se amaram
Como gente comprometido
Com o amor de fazer tantos alaridos.
Chega a noite e com a mesma visão líquida
Eles se aportam na calma do mesmo mar.
Viver, o que será viver? Para mim é rir, curtir, caminhar, fazer aquilo que tem vontade, cumprir com obrigações, organizar a vida, ou pelo menos tentar, ir a uma festa e não ficar com aquele cara que tem grana, só por ele ter grana, ficar com aquele que me senti atraída, aproveitar momentos ao lado de pessoas divertidas,não se prender em um relacionamento fracassado, mudar quando nescessário, dizer não quando preciso, beijar muito quando quizer, sair da rotina quando entediada, não deixar os dias serem iguais, fazer acontecer, pensar bastante, agir mais, falar menos e ouvir mais, colocar um ponto final naquelas amizades que só querem teu mal, olhar pra frente, sofrer, aprender com os erros, chorar, gritar, amadurecer. Enfim, vivo e vivo sim, bem ou mal sou feliz sim, mudo de rumo, mudo tudo se for o caso, só não mudo meus amores que foram gerados.
MUNDOS
Porque me perguntastes
Que beleza eu abraço como minha
E por igual que se sugere
São da generosidade de dois mundos
Que valem o mesmo peso
E a mesma medida.
Um onde eu passo triste
Como uma árvore
Que derrama todas as suas folhas
Na estação diferente ou pelo tempo
É o mundo em que acolho
E passo dias me desviando
Das correntes de ar
Que batem em minha pele fina.
Passo para outro mundo
O mundo que em tudo muda
E me acoberto de flores amarelas
Este tempo eu fico na alegria dos ventos
Que encarecem os meus dias
E eu cultivo outros brotos
Como um pai natural
Alguém que se atém a espera da beleza
Como um tempo sorridente e próprio.
PÁSSARO
Existe dentro de mim um pássaro
De caráter improvisado
Um pássaro de uma só cor
Esverdeado quando é notado
E de uma cor alheia
Quando emudece a precaver minhas fronteiras
Neste tempo de voz calada
Não tem canto, nem tem encanto.
Eu já gosto do caráter repentino
Porque ao seu tempo
Quando quer me agradar
Ele canta as minhas infâncias e o meu mundo
Que já tive, como donatário, de papel passado.
Quando eu era criança o mundo
Era do tamanho do meu quintal
E tinha quatro fronteiras
Dos limites, astuto que nos impunha.
O pássaro cantava e me agradava
Eu tinha no meu mundo pessoas sensatas e alegres
Alegres e diplomatas.
Agora quando avisto um pássaro
Num oitão de uma casa velha cantando na minha espera
Eu fico a vislumbrar o seu canto e me inebriar
Se ele tem as penas esverdeadas.
O pássaro porém, não lembra
Que já morou no meu coração
De que já foi meu um dia
Que por ser o meu, por meu desatino
Ele pegava vôo muito acima.
Mais alto que tudo, adiante mais que as nuvens
Aquele pássaro já foi meu
Hoje adulto é das alturas.
Só ele sabe me desarmar como nenhuma outra pessoa. Só ele consegue me ver de verdade, me sentir de verdade, me amar de verdade. Só pra ele eu revelei toda dor e frieza que eu escondia atrás daqueles sorrisos altos e falsos que usava como desculpa para mostrar que eu era feliz. Mas só ao lado dele eu pude ser.
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