Ruth Rocha Amor
AMAR
Amar é fogo de onde se tira brasas.
Amar é um desejo de ser despejado
Acenar aflito à condução já atrasada.
Amar é pender de um lado,
E do outro desapoiar-se
Amar é dose, tirada da boca aberta
É ímpar, o primeiro numero.
Amar é dar a cara dos dois lados,
A moeda que não cai em pé.
Amar é armazenar amor,
Amar é algo provocador
Que não se contém, como dor,
Uma vontade de ser doador,
De sangue de amor e flor.
Amar é da primeira pessoa,
É transitivo a ela, e só.
Amar é querer conjugar, colar ou meter-se,
Dentro e fora.
Fora e dentro, é amar.
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Naemo*com reservas
O TEU OLHAR
O tu olhar tem a mansidão do dia
Nas derradeiras horas do poente
Amarelando o céu de repente
À beira do abismo de uma note fria.
As horas passam vagarosamente
Em teu olhar onde mora a nostalgia
De um fim de tarde pleno de poesia
No qual o sol recolhe-se cautelosamente.
Em teu olhar agoniza o segredo
Que o silêncio esconde e guarda do teu medo.
Como se o resguardasse sua própria sorte.
São teus olhos ternamente enamorados
Carinhosos, tristes, brilhantes e apaixonados
Que inventam até esta paisagem forte.
DIVAGAÇÕES
Ah, esta vida sestrosa,
Em que tocaia me espera,
No tanto que ela é medrosa,
Não dá um passo sem a escora.
Que sou eu, sua confiança e o esteio.
Veja o disparate: a agonia,
Em vez de uma aliada,
Ela se perde no dia,
De noite eu deixo ela de fora
E morro mas nada dela eu imploro.
Nem que arrede o pé,
Nem que inútil deite,
Num pano que eu largo armado,
Longe da porta do quarto,
Até que o dia amanheça.
Vida tão maliciosa!
Fala pra todos de fora,
Que é ingratidão o que lhe faço,
E nem me pega na mão.
Só que elas tem seus dias,
E eu tenho só, minhas noites,
Isso na vida é tão bom,
Não viver só de açoites.
O dia pra ela é dado,
E a noite pra mim é ludo.
Eu chamo a ela de ausência,
E ela me chama de escuro.
Com certo tempo a gente se acostuma, vai levando, a gente vai vivendo. Por isso queira o bem, do contrario você se acostuma, vai levando, vai vivendo com aquilo que te faz mal.
Como Sou
Sou, como sou, poeta
Vivo numa linha reta
Num paralelo de mim.
Vou, como sou, sozinho
Um rio que não se encontra
Que faz a curva no estio
E se deságua na sombra.
E eu sou igual a outros
Atordoados, despertos.
Que vêem o céu refletido
E acham a lua perto.
Sou como uma saudade
Carícias na minha idade.
Eu gosto do pranto
De ver chorar.
Dividir você...
Tão impossível quando mergulhar no mar morto, tão improvável quanto eu ir a lua.
Assim são as possibilidades de eu dividir você com alguém, dividir teu corpo tua pele teus carinhos...
Nem em sonho quero dividir você com outra pessoa, você é meu por inteiro assim como eu sou toda sua.
Gosto de cada centimetro desse corpo moreno e longo por onde minhas mãos percorrem,minha língua
escorrega buscando tua boca gostosa...
Você e a perfeita junção do prazer com a satisfação,quero grudar em você para sempre...
quero sentir teu peso todo sobre meu corpo,ver o encaixe perfeito de suas curvas nas minhas...
Vou repousar meu corpo sobre a cama e esperar que o teu repouse sobre ele...
ADR
"Enquanto muitos sonham ganhar na Mega Sena sozinhos, exitem pessoas que sonham ganhar apenas mais um dia de vida!"
Sabe aquela sensação de que: “Hoje o meu dia será maravilhoso?”
A muito tempo não venho tendo essa sensação
"Vejo-te no espelho: olho para ti e a mim me encontro...
A risada vem, a lágrima escorre
Quer por lembrança boa
Ou por distância real
Tua barreira me sela, me comove, me remove deste mundo
Teu desnudar me fez melhor
Tua ternura me fez maior
Mas de repente, como uma estrela que se apaga ao amanhecer
Você sumiu...
Sentiu-se impeto, onipotente
E deixou um coração cheio de crenças
Um coração ingênuo
Que em palavras boas acreditou
E fez das tuas palavras uma vida
Um mundo
Um estilo
E encontrou, sem querer, a solidão
Vejo-te no espelho
Agora não mais face a face
Mas indo-se, como quem tem pressa de conhecer coisas melhores
Como quem se decepcionou com o que conheceu, descobriu e voltou a descobrir
Como quem não entende o porque que nada na tua vida dura
O porquê nao consegue alcançar o que almeja
O porquê que a vida é tão dura contigo
Vejo-te no espelho
Agora não mais face a face...não mais indo-se
Vejo-te como resposta presente
Resposta ausente
Resposta certa
Dos anseios que tive
Da solidão que nos cerca
Vejo-te como um sonhador
Que sonha, sofre, chora
Querendo encontrar a tua estrela certa
E olhas para o céu todas as noites e te perguntas
Qual será a estrela que está a te esperar
E conversas com uma
Com outra
Com várias estrelas que vê a brilhar
Mas o brilho acaba com os dias! Porquê?
Porque miras a estrela errada? Ou porque Deus esqueceu de deixar uma estrela para ti?
Vejo te no espelho
Agora não mais face a face...não mais indo-se...não mais resposta presente
Vejo-te perdido na imensidão da noite
Buscando o perfeito
Buscando o estritamente certo
Buscando a estrela angular
Vejo tua estrela a te procurar...
Quem sabe ( e acontecerá)
Durante um dia chuvoso, um dia de sol, um transito chato, uma caminhada na praia
A tua estrela apareça
Dizendo que veio para ficar?
Sim, ela virá para ficar!
Vejo-te no espelho..."
E lá vamos nós pular sete ondas, guardar caroços de uvas e comer lentilha. É só uma data qualquer, um zerar de relógio como todos os demais, mas, para nós meros mortais, é uma suposta chance nova de ser feliz, recomeçar, sei lá, é um ano novo. Nesse tal ano, quero mesmo e muito, todos os sorrisos que o ano antigo me roubou ou me fez conter. Só peço para ser feliz, vai bem também um pouco de amor próprio e mais determinação. Que neste ano novo eu reclame menos e me lembre de agradecer mais. Enfim, estou com a caneta em punho buscando um pedaço em branco deste novo ano, para escrever lindas histórias. Que seja doce.
É como se a vida fosse aquele castelinho de cartas que vamos cuidadosamente empilhando, uma a uma. Acertamos o lugar de sequências inteiras, mas uma só, consegue ter o poder de trazer tudo ao chão. Chego a desconfiar da bipolaridade, zombar de ter apenas duas faces. Será mesmo que alguém consegue ser feliz o tempo todo? Será que as marés não enchem e esvaziam várias vezes no mesmo dia? Se me perguntasse como estou, talvez não soubesse responder. Metade é maré cheia, outra rasa, daquelas que deixam ilhas e prendem peixes em seu caminho. Ando vivendo de momentos, mastigando sonhos, enchendo a barriga de esperanças. Volta e meia, aquele castelo de cartas desmorona em partes, não chega a ser por completo, mas sacode a estrutura. Venho descobrindo um lado meu que não conhecia. Travo diálogos infindáveis com o outro eu que mora em mim, sem precisar ficar de frente pro espelho. Confusa a vida de quem sente.
Deixa no silêncio dos pensamentos, escondido dos sons proferidos pela boca ou audíveis por perto dos ouvidos.
Devemos ter muito cuidado e atenção com as nossas atitudes, principalmente se estamos de bem com a vida, o resultado da colheita do que plantarmos ocorrerá quando estivermos mal.