Mensagens de Rubem Alves

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Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna criança, jamais será sábio.

Por que se gosta de um autor? Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo, tem-se a experiência de comunhão. Arte é isso: comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. Ao lê-lo, eu me leio, melhor me entendo. Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo mundo. Não importa que o autor já tenha morrido há séculos... Inversamente, quando não gosto de um autor, é porque não há comunhão. É como se ele fosse uma comida estranha que causa repulsa

"A cigarra subterrânea começou a sonhar sonhos de ar livre e voos. Saiu da terra. Sua casca não era mais capaz de suportar a vida que crescia dentro dela. Arrebentou. E dela surgiu um outro ser, alado, pneumático. Nós, seres humanos, somos como as cigarras. Só que nossas cascas são feitas com palavras."

"Amar e ser amado é isso: pensar numa pessoa ausente e sorrir. Ficar feliz sabendo que ela vai voltar. Ter alguém que escute e dê colo, sem dar conselhos. Andar de mãos dadas conversando abobrinhas. Olhar nos olhos da pessoa e sentir que eles estão dizendo: “como é bom que você existe”… ser, simplesmente, sem pensar que há um par de olhos nos vigiando para cobrar algo. Conversar madrugada afora, sem pensar em sexo."

O que tenho sentido? Beleza. Nostalgia. Tristeza. Cansaço. Urgência. A curteza do tempo. Um enorme desejo de passar uns tempos num mosteiro, longe de cartas, telefones, micros, viagens, e-mails, curtindo a solidão e a ausência de obrigações.

Cada momento de alegria, cada instante efêmero de beleza, cada minuto de amor, são razões suficientes para uma vida inteira. A beleza de um único momento vale a pena de todos os sofrimentos.

Para encerrar a conversa, a entrevistadora fez a última pergunta: “Como é que você se definiria?”
Êta pergunta impossível de ser respondida! Porque definir, como o próprio nome está dizendo, vem do latim finis, fim. Definir é determinar os limites. Mas sei eu lá quais são os meus limites!
Para respondê-la, eu teria de encontrar uma frase que não fosse definição, que apontasse para o sem limites. Aí eu me lembrei da frase que Robert Frost escolheu para sua lápide e disse que aquela era a definição de mim mesmo: “Ele teve um caso de amor com a vida”.
Quero que estas sejam as palavras na minha lápide.

(de “Ostra feliz não faz pérola”)

PSICANÁLISE: Conversa na recepção: Conversa vai, conversa vem, digo que sou psicanalista. A moça entra em pânico, temerosa de que eu tivesse poderes para ver a sua alma. “Eu já fiz terapia”, ela disse. “Mas agora estou resolvida.” Pergunto: “Quando se deu o óbito?”. Ela me olha sem entender. Óbito? Explico: as únicas pessoas resolvidas que conheço estão no cemitério.

Sobre a morte e o morrer
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

(Trecho do Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3. Fonte: Projeto Releitura)

“O amor se realiza quando recebemos de volta as coisas que amamos e perdemos”.

(Extraído do livro Pensamentos que Penso Quando não Estou Pensando, Editora Papirus, 3ª Edição, página 64).

“Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de não haver quem as escute. Não pedem para ser curadas de alguma doença. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solidão” (…)”

( em “Se Eu Fosse Você”, do livro ‘O Amor Que Ascende a Lua’. Campinas/SP: Papirus, 1999.)

“Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado”.

(trecho extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.)

"Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só posso dizer: carpe diem - colha o dia - como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que eu faço".
(Em “Sobre o otimismo e a esperança” – Concerto para corpo e alma. Página 160 – Editora Papirus – Campinas – São Paulo, 2012).

As asas da alma se chamam coragem. Coragem não é ausência de medo. É lançar-se a despeito do medo.

Os animais sobrevivem pela adaptação física ao mundo. Os
homens, ao contrário parece ser constitucionalmente desadaptados ao
mundo, tal como ele lhes é dado.

Quem confunde coisas que significam com coisas que nada significam
comete graves equívocos.

Oração de uma criança “Deus, que os maus não sejam tão maus e que os bons não sejam tão chatos. Amém”.

(em “ostra feliz não faz pérola (PDF))

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas.
Para voar é preciso amar o vazio.
Porque o voo só acontece se houver o vazio.
O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Os homens querem voar, mas temem o vazio.
Não podem viver sem certezas.
Por isso trocam o voo por gaiolas.
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Rubem Alves
Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".

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"Toda alma é uma música que se toca." (Rubem Alves)

Que saibamos tocar as almas com a sabedoria de quem está compondo uma linda e delicada melodia!!!