Reflexoes de Olga Benario

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Apenas o silêncio é grande, tudo o mais é debilidade.

O homem que cala e ouve não dissipa o que sabe, e aprende o que ignora.

Um só desejo basta para povoar um mundo.

Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza; aliás, não sendo assim, como se viveria?

Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.

Poucas máximas são verdadeiras sob todos os pontos de vista.

O roubo de milhões enobrece os ladrões.

Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.

O egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A fraternidade não a tem.

Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.

Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.

No mundo, apenas há duas maneiras de subirmos, ou graças à nossa habilidade, ou mediante a imbecilidade dos outros.

Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos.

O erro é a noite dos espíritos e a armadilha da inocência.

O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.

É judiciosa a economia de palavras, tempo e dinheiro.

A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.

Os homens enganam-se miseravelmente quando esperam encontrar a sua felicidade, mais na forma dos seus governos que na reforma dos seus costumes.

A Máquina do Mundo

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.

(Trecho de A Máquina do Mundo).

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.