Quem tem Telhado de Vidro Evita Chuva de Pedra
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.
Há uma grandeza, há uma glória, há uma intrepidez em ser simplesmente bom, sem aparato, nem interesse, nem cálculo; e sobretudo sem arrependimento.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
A perfeição no amor consiste no sacrifício dos desejos do amante que deseja somente agradar à pessoa amada.
A felicidade é tão oposta à vida, que estando nela, a gente esquece que vive.
A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.
Não tenho nada que me prove a existência de Deus,
Mas mesmo assim ele continua sendo
O absoluto dos meus dias.
Nunca choveu maná no quintal de minha casa
E a imagem que tenho da Virgem Maria
Nunca derramou uma lágrima.
O que tenho aqui é esta mão machucada,
Este dedo sangrando,
Este nó na garganta,
Este humano desconsolo,
Esta dor,
Esta cor,
E este olhar desconcertante de Deus,
Deixando-me sem jeito,
Ao dizer que me ama.
Vislumbrei um clarão no mistério da sua presença...
...Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer...
Essas coisas
“Você não está na idade
de sofrer por essas coisas.”
Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas ?
As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer ?
Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento
pois vieram fora de hora, e a hora é calma ?
E se não estou mais na idade de sofrer
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?
Importuna coisa é a felicidade alheia quando somos vítima de algum infortúnio!
É muito melhor cair das nuvens que de um terceiro andar!
Nota: Adaptação de trecho do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis
É que o perfume denuncia o espírito
Que sob as formas feminis palpita...
Pois como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a mulher habita.
Eu que meditava ir ter com a morte, não ousei fitá-la quando ela veio ter comigo.
Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!