Quem Domina sua Lingua

Quem deita à terra sementes ferrugentas colherá mais tarde plantas ignorantes.

Há quem ganhe dinheiro com a poesia, mas os pobres como eu fazem amor com as palavras.

Quem casa pelo Santo António tem mil anos de perdão.

Há os que gostam do que escrevo, a quem devo gratidão; outros pela mesma razão, parece que ainda lhes devo imposto de opinião.

Quem parte sem me deixar, por uma qualquer razão, vai para outro lugar, mas não deixa de morar dentro do meu coração.

A especialidade de muitos seres humanos é encobrir as segundas-intenções, como quem encobre a nudez com roupas transparentes.

Há quem conserve as amizades em sal, quem as conserve em gelo, e quem as conserve tão quentes, tão quentes, que evaporam.

Cá estou eu mais uma vez, gente moderna,
embrenhado nas planícies, estou perdido;
quem me ajuda a encontrar uma lanterna,
para o campo iluminar o meu sentido...

Vós que sois lá da cidade e sabem tudo,
tragam tudo para alguém que não tem nada,
mas não venham com pézinhos de veludo
para a terra que não foi sequer lavrada...

Sinto a terra num repouso absoluto,
sem um braço de trabalho, em campo aberto,
que me diga, em alta voz, o que não escuto,
nestas verdes pradarias do deserto...

Não desandem todos juntos, o campo espera
pela luz que vós trazeis, e, entrementes,
tragam água para o campo (é primavera)
e mil braços de trabalho com as sementes.

O que o instinto nos diz
tem na alma o seu valor...
Mesmo cansado é feliz
quem faz tudo com Amor.

Quem anda na rua, numa sociedade fria, corre sempre o risco de congelar.

Quem perdoa não diz que perdoa. A capacidade de perdoar nasce connosco, e nem todos os humanos nascem com essa capacidade.

Para quem gosta de ver a casa às escuras até um isqueiro incomoda.

Há quem opte pelo silêncio... Há quem prefira falar o que não pensa… Há quem mais-queira que os outros não falem… Há quem exija falar pelos outros… E há todos aqueles que falam as coisas que são ditas com tempo…Tempo há ainda enquanto as coisas precisam ser ditas.

Se por ventura, eu me desventurar aos olhos de quem não tem ventura nenhuma, não digam que eu me espalhei ao comprido, apenas porque em parte alguma um homem pode ser ofendido, por se aventurar de modo emancipado ao horizonte que nos é imposto. Mas que, por suposto, ou por uma hipotética altivez de nos aventurarmos todos de uma só vez, seria uma patética atitude por parte de muitos daqueles que exercem o direito de todos não exercerem o direito de ninguém. E para não chamar desventurado ao procedimento de alguém, nem tão pouco me meter onde não devo ser chamado, limito-me a fazer desta minha desventura o que um fado faz de uma aventura num engraçado entretém. Se me excedi, convém juntar todos os vocábulos daqueloutros retirados dos estábulos antigos, onde se fazem mais amigos, nos retábulos ecuménicos, onde os anjos académicos aparentam as dores que não têm, demonstrando que as mesuras convêm às dissimuladas aventuras nesta arte de viver…

Ó Lua que estás tão cheia,
nesse Céu engalanado,
tens um dom que incendeia
quem na Terra anda aluado.

Dos outros quem quer saber?
Pouco se estima um amigo!
Estranha forma de ser...
Todos parecem viver
apenas para o seu umbigo.

A água é a verdade, a ilusão é o vinho, e há quem beba à vontade, para esquecer cada mágoa, vinte e quatro horas de vinho, sem uma pinga de água.

Independentemente dos resultados, quem não desiste vive sempre como um campeão.

Diz-me como tratas as pessoas que não te trazem benefícios, dir-te-ei quem és.

Há quem viva da fachada
que escolheu para ser vida,
onde a farsa emoldurada
é uma imagem fabricada
com pobreza garantida.