Professor Carlos Drumond de Andrade

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O OUTRO

Como decifrar pictogramas de há dez mil anos
se nem sei decifrar
minha escrita interior?

Interrogo signos dúbios
e suas variações calidoscópicas
a cada segundo de observação.

A verdade essencial
é o desconhecido que me habita
e a cada amanhecer me dá um soco.

Por ele sou também observado
com ironia, desprezo, incompreensão.
E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,
unidos, impossibilitados de desligamento,
acomodados, adversos,
roídos de infernal curiosidade.

⁠Na ordem natural das coisas,
são os pais que acordam os filhos..

⁠Aquele que pratica, ou aquele que combate, são portadores do mesmo traço.

⁠Viveu demais..
Viveu a mesma cena duas vezes!

⁠Que seja a tua dor, apenas uma dor que dói.

Aquele que engole Sapos,
Quase sempre pensa Dragões!⁠

⁠Tenho vários livros dentro de mim,
mas não consigo escrever, uma linha!

⁠Aquele que vai pra Guerra ou pra "Disney", não volta!

⁠Primeiramente faça silêncio.
Depois, faça tudo em silêncio!

⁠Amizade verdadeira, tem sovaco molhado no ombro!

⁠Não saberia dizer qual o meu maior sonho.
Mas você foi o mais próximo que cheguei desse sonho!

⁠Algum dia assim como Chico, também desejo sair à francesa e bem no meio de festa.
Me agrada ainda a ideia de morar no Céu, mas viver no inferno como fazem os anjos.

⁠Um dia você se dá conta de que não está cercado de inimigos mas, de espelhos!

⁠Há momentos que vejo meu Anjo, naquilo que vem de você.
Num gesto, numa fala, ou até mesmo num breve olhar.

Pare antes do saciar ou, odiará um reencontro⁠.

⁠Se tens algo a dizer, mas que não possa ser inteligível, ainda que importante e necessário, melhor não dizê-lo.

⁠vontade e motivos eu tenho.
Mas, não posso sair por aí
fechando portas.

⁠Você pode sim, ter uma opinião sobre mim.
Só não me fale, a menos que eu peça.

E agora José?

Irmão, Irmãos
Cada irmão é diferente.
Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.

São seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
Que léguas de um a outro irmão.
Entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,

o mesmo vinhático das camas iguais.
A casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?

São estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
Guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.

Ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
Com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?

Carlos Drummond de Andrade
Boitempo I. Rio de Janeiro: Record, 2023.

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