Porque sou assim

Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação.

Ama-se a vitória difícil, porque a derrota lhe preenchia quase todo o espaço possível. E foi com o que restava que se venceu em todo ele.

O amor é um sentimento tão delicioso porque o interesse de quem ama confunde-se com o do amado.

Ninguém sabe porque ama ou porque não ama. É uma coisa que se sente, mas que não se explica.

A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.

Os muros de pedra não fazem um cárcere, nem as grades de ferro uma jaula, porque o espírito inocente e tranquilo transforma uma prisão numa capela.

Sinto-me feliz por não ser homem, porque, se o fosse, teria de casar com uma mulher.

A inveja é um vício mesquinho e sórdido: o vício do condenado que reclama porque o seu companheiro de prisão recebeu uma ração de sopa maior.

Quando não somos inteligíveis é porque não somos inteligentes.

Para o poeta a maior tragédia é se o admiram porque não o entendem.

Pensais honestamente, e por isso odiais o mundo todo. Detestais os crentes porque a fé é um indicador de estupidez e de ignorância; e detestais os descrentes porque não têm fé nem ideal. Odiais os velhos pelas suas mentalidades ultrapassadas, e os novos pelo seu liberalismo.

Alguns desprezam a riqueza porque desprezam a idéia de enriquecer.

Se consciência significa memória e antecipação, é porque consciência é sinônimo de escolha.

Se nada de estranho te surpreendeu durante o dia, é porque não houve dia.

Um homem deve ler segundo o que as suas inclinações o conduzem; porque o que ler como tarefa pouco bem lhe fará.

Algumas pessoas foram consideradas corajosas porque tinham medo de fugir.

Se és escritor, escreve como se tivesses os dias contados, porque, na verdade, eles estão-no quase todos.

A dor enobrece as pessoas mais vulgares, porque ela tem a sua grandeza, e, para receber o seu brilho, basta ser verdadeira.

Odeiam-se os outros porque se odeia a si mesmo.

Não gosto de Deus, porque não o conheço, nem do próximo, porque o conheço.