Porque hoje e Sabado Vinicius de Moraes

Verifiquei que, aos homens, se devia agradecer o menos possível, porque o reconhecimento que lhes testemunhamos os convence, facilmente, de que estão a fazer de mais!

Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.

Louvam-se ou criticam-se muitas coisas porque está na moda louvá-las ou criticá-las.

Ninguém sabe porque ama ou porque não ama. É uma coisa que se sente, mas que não se explica.

A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.

Ama-se a vitória difícil, porque a derrota lhe preenchia quase todo o espaço possível. E foi com o que restava que se venceu em todo ele.

Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação.

Para o poeta a maior tragédia é se o admiram porque não o entendem.

O amor é um sentimento tão delicioso porque o interesse de quem ama confunde-se com o do amado.

Quando não somos inteligíveis é porque não somos inteligentes.

A inveja é um vício mesquinho e sórdido: o vício do condenado que reclama porque o seu companheiro de prisão recebeu uma ração de sopa maior.

Os muros de pedra não fazem um cárcere, nem as grades de ferro uma jaula, porque o espírito inocente e tranquilo transforma uma prisão numa capela.

Se consciência significa memória e antecipação, é porque consciência é sinônimo de escolha.

Alguns desprezam a riqueza porque desprezam a idéia de enriquecer.

Pensais honestamente, e por isso odiais o mundo todo. Detestais os crentes porque a fé é um indicador de estupidez e de ignorância; e detestais os descrentes porque não têm fé nem ideal. Odiais os velhos pelas suas mentalidades ultrapassadas, e os novos pelo seu liberalismo.

Algumas pessoas foram consideradas corajosas porque tinham medo de fugir.

Se nada de estranho te surpreendeu durante o dia, é porque não houve dia.

Um homem deve ler segundo o que as suas inclinações o conduzem; porque o que ler como tarefa pouco bem lhe fará.

Odeiam-se os outros porque se odeia a si mesmo.

Se és escritor, escreve como se tivesses os dias contados, porque, na verdade, eles estão-no quase todos.