Poetas Gauchos
Construção
Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.
Desconcertado
Ando desconcertado
com uns tropeços ai
do meu coração.
Ando tentando não errar os passos dados
tentando não trocar
os pés pelas mãos.
Ando dando passos errados
desconcertado
em meu próprio refrão.
Perdido nas lembranças
de outros tempos
lembranças de um antigo amor.
Ando minguado
choroso
feito eu só!
Paro as vezes ao lado dela...
Relembro os doces desejos meus
pretendidos ao auscultar sua voz.
Morro nos versos poéticos, ora lidos...
Revivo nos segundos que estou só!
Caminho desconcertado pela vida.
Na rua da casa dela, nem passo mais.
Lembra-me as flores no muro
dos beijos, dos abraços, do fim.
Saiamos da mente apenas e sintamos para compreender o que isso significa em nós, a partir de nossas vivências íntimas e saibamos que a sublimidade é para todos e nem sempre compreendida em si, e assim, não será compreendida no outro e assim se terá essa ideia de falso e inquietante. E se inquieta, é porque algo em nós quer dizer algo que não estamos ouvindo e está chamando para ser ouvido além do que entendemos até agora. Sintamos!
Há que se viver com meus pés, beber da mesma taça de minha alma para saber, não apenas do que penso, mas para sentir o que "Sou".
Aceita o teu coração, porém, resguarda-o...
compreenda-o no silêncio de tua alma
acolha-o no recôndito dos mistérios
revela-o ao olhos desnudo de todo conceito;
preceitos sem razão de ser...
vasculhe todas as possibilidades de um gesto;
nem tudo que nos parece pedra o é
há nisso toda condição de ser o calço de nossos passos;
nem tudo que é doce é degustável
por vezes, os mais poderosos venenos são revestidos dos melhores perfumes e sabores...
cala-te no vigor do teu ser
seja-te vida no gestos que te renovam a cada manhã
renasça em si mesmo sem que precises nada dizer!
Silencia enquanto podes, pois, as palavras sempre serão necessárias e precisarão desse aconchego para serem proferidas. Não cabe ao fio da navalha partir o fio da seda que recobre a alma, mas, à maciez dos dedos fazer nova trama ... esse é o segredo de toda palavra bem guardada ... modificando o mundo, degredando a fuligem que em teus olhos arderam.
Caminharei pelos teus reinos porque já não bastam os cumprimentos e apertos de mãos...
Quero mesmo é saber que não sei!
Há quem da forma se apropria e nela se revela. Como há quem na essência se expande e, por isso, não se esconde.
Não basta ser pássaro
a vida pede mais
se faz orquestra
saúda-nos num coral
diversos tons numa tela
que nos convida
a semear!
As aparências enganam sim,
o roto retalho que somos,
fica entre as nuvens dos olhos
que nos alcançam.
É preciso mais que olhos,
é preciso alma,
é preciso ir além
desse "eu" recoberto
e encrustado na pele
já tingida por tantas máscaras!
