Poetas Brasileiros

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Poesia, uma maneira de falar sozinho.

"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade".

Se O Mestre Diz, Eu Não "dizdigo",
Mas... Que Ele Me Desculpe, Pois Tenho Você,
Hoje, Como O Meu....HHHHUUUMMM !!!! Melhor Motivo !!!!!
Beijos....!!! Abraços....!!!! Muito Cheiro...HHHUUUMMM...

Carlos Drummond de Andrade

Nota: Trecho do livro "O Avesso das Coisas" de Carlos Drummond de Andrade. Link

Universo

O que vi do universo
até hoje foi pouco
mas, se penso em quanto meço,
posso dizer que foi muito.

Sei, de ler, que o universo
é de tais dimensões
que a própria luz só o atravessa
depois e bilhões e bilhões

de anos, e que nele há
multidões de galáxias e sóis
que talvez já morreram, antes
de chegar a sua luz até nós.

Deste modo, é correto dizer
que o céu que ora espio é passado
e que até pode ser que
o universo que veja já tenha se acabado.

Mas, de fato, não vejo
a não ser nas revistas
de astronomia: o lampejo
espantoso de infinitas

constelações a brilhar
num abismo espectral e difuso
de gases e poeira estelar
que me deixa confuso.

E assim, assustado e mudo,
bem menor que um ínfimo
grão de poeira, contudo,
sou capaz de apreender, no meu íntimo,

essas incontáveis galáxias,
esses espaços sem fim,
essa treva e explosões de lava.
Como tudo isso cabe em mim?

O fato é que qualquer vasta nuvem
prenhe de sóis já mortos ou futuros
não possui consciência, esse obscuro
fenômeno surgido aqui na Via Láctea,

ou melhor, na Terra, e talvez
somente nela, não se sabe por quê,
mas que permite ao cosmos perceber-se
a si mesmo, e ter olhos pra se ver.

Olhos que são nossos,
lentes minúsculas mas sensíveis
que captam a luz das nebulosas
vinda de espaço e tempo inconcebíveis.

É o que dizem, pois tudo
o que vejo é, à noite, apenas o brilhar
de distantes luzes no escuro.
São estrelas? planetas no sistema solar?

Somos algo recente e raro
no universo, como rara
é também a própria luz
dos sóis deste sol que nos aclara.

Todo universo é treva.
Inalcançável vastidão escura
dentro da qual os sóis, as explosões
de gás e luz são exceções.

O universo em sua vastidão vazia
é espaço e treva, é matéria fria
em que não há o mínimo sinal
de vida ou consciência; o que é mental

nele, ao que se sabe, está em nós,
no mínimo do mínimo do existente
e o que também ma treva luze é nossa VOZ
inaudível no espantoso vão silente,

Vi pouco do universo: afora a asa
de luz e pó da Via Láctea, o que conheço
são as manhãs que invadem minha casa.

Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.

Clarice Lispector
A paixão Segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Eu quero simplesmente isto: o impossível.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., Libertinagem, 1930

Nota: Trecho do poema "Não Sei Dançar"

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É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chama talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Crônica A surpresa.

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O pequeno êxtase da palavra fluir junto do pensamento e do sentimento: nessa hora como é bom ser uma pessoa! (...) Eu me encontro nos outros. Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trechos da crônica Os prazeres de uma vida normal.

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É preciso antes saber, depois esquecer. Só então se começa a respirar livremente.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Máquina escrevendo.

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Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater;
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

De tudo fica um pouco. Não muito.

É melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da canção Tomara.

Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica As três experiências.

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Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica Mal-estar de um anjo.

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O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu meus cartões de visita
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minha dieta
O amor comeu todos os meu livros de poesia
O amor comeu meu Estado, minha cidade
O amor comeu minha paz, minha guerra, meu dia e minha noite
Meu inverno, meu verão
Comeu meu silencio, minha dor de cabeça
O meu medo da morte

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas.

Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, sempre não acaba nunca.

Clarice Lispector
Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

O que têm de bom as nossas mais caras recordações é que elas geralmente são falsas.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.