Poetas Brasileiros

Cerca de 4240 frases e pensamentos: Poetas Brasileiros

Universo

O que vi do universo
até hoje foi pouco
mas, se penso em quanto meço,
posso dizer que foi muito.

Sei, de ler, que o universo
é de tais dimensões
que a própria luz só o atravessa
depois e bilhões e bilhões

de anos, e que nele há
multidões de galáxias e sóis
que talvez já morreram, antes
de chegar a sua luz até nós.

Deste modo, é correto dizer
que o céu que ora espio é passado
e que até pode ser que
o universo que veja já tenha se acabado.

Mas, de fato, não vejo
a não ser nas revistas
de astronomia: o lampejo
espantoso de infinitas

constelações a brilhar
num abismo espectral e difuso
de gases e poeira estelar
que me deixa confuso.

E assim, assustado e mudo,
bem menor que um ínfimo
grão de poeira, contudo,
sou capaz de apreender, no meu íntimo,

essas incontáveis galáxias,
esses espaços sem fim,
essa treva e explosões de lava.
Como tudo isso cabe em mim?

O fato é que qualquer vasta nuvem
prenhe de sóis já mortos ou futuros
não possui consciência, esse obscuro
fenômeno surgido aqui na Via Láctea,

ou melhor, na Terra, e talvez
somente nela, não se sabe por quê,
mas que permite ao cosmos perceber-se
a si mesmo, e ter olhos pra se ver.

Olhos que são nossos,
lentes minúsculas mas sensíveis
que captam a luz das nebulosas
vinda de espaço e tempo inconcebíveis.

É o que dizem, pois tudo
o que vejo é, à noite, apenas o brilhar
de distantes luzes no escuro.
São estrelas? planetas no sistema solar?

Somos algo recente e raro
no universo, como rara
é também a própria luz
dos sóis deste sol que nos aclara.

Todo universo é treva.
Inalcançável vastidão escura
dentro da qual os sóis, as explosões
de gás e luz são exceções.

O universo em sua vastidão vazia
é espaço e treva, é matéria fria
em que não há o mínimo sinal
de vida ou consciência; o que é mental

nele, ao que se sabe, está em nós,
no mínimo do mínimo do existente
e o que também ma treva luze é nossa VOZ
inaudível no espantoso vão silente,

Vi pouco do universo: afora a asa
de luz e pó da Via Láctea, o que conheço
são as manhãs que invadem minha casa.

Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., Libertinagem, 1930

Nota: Trecho do poema "Não Sei Dançar"

...Mais

Minhas ideias são inventadas. Eu não me responsabilizo por elas.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Mas arrisco, vivo arriscando.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

A fé – é saber que se pode ir e comer o milagre. A fome, esta é que é em si mesma a fé – e ter necessidade é a minha garantia de que sempre me será dado. A necessidade é o meu guia.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

‎Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois são cinco.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

De tudo fica um pouco. Não muito.

Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica Mal-estar de um anjo.

...Mais

Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater;
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

O que têm de bom as nossas mais caras recordações é que elas geralmente são falsas.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

E no mar estava escrita uma cidade...

O que estraga a felicidade é o medo.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Preciso ser livre - não aguento a escravidão do amor grande, o amor não me prende tanto.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Que século, meu Deus! - exclamaram os ratos e começaram a roer o edifício.

A existência é uma aventura, de tal modo inconsequente.

Uns dias, cheia de tédio, enervada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriagando-se com os menores acontecimentos. Uma folha caindo, um grito de criança, e pensava: mais um momento e não suportarei tanta felicidade.
(A bela e a fera – trecho da crônica Gertrudes pede um conselho)

E depois ando meio bonita, sem o menor pudor: vem do bem-estar.
(A descoberta do mundo – trecho da crônica Facilidade repentina)

O grande vazio em mim será o meu lugar de existir; minha pobreza extrema será uma grande vontade. Tenho que me violentar até não ter nada, e precisar de tudo; quando eu precisar, então eu terei, porque sei que é de justiça dar mais a quem pede mais, minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é a minha medida.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.