Poetas Brasileiros

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O Amor é uma árvore ampla e rica, de frutos de ouro, e de embriaguez; infelizmente frutifica apenas uma vez.

Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir.

É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma ideia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A ideia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?

Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar – e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.

Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?

E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quando começa a ficar muito bom eu ou desconfio ou dou um passo para trás.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar, Rio de Janeiro

Sábios pensares

Dos pequenos ridículos
nunca faça escândalos ao menos
visto que tanto ousas
não os faça pequenos
o ridículo está é nas pequenas coisas

Do pranto
não tentes consolar o desgraçado
que chora amargamente a sorte má
se o tirares por fim do seu estado
que outra consolação o restará...

Do prazer
quanto mais leve tanto mais sutil
o prazer que das coisas nos provém
escusado é beber todo um barril
para saber que gosto o vinho tem...

Da contradição
se te contradisseste e acusam-te. Sorri.
pois nada houve em realidade
teu pensamento é que chegou por si só
no outro pólo da verdade

Da falsidade
foi tudo falso o que ela disse ...
fecha os olhos, crê, a mentira é tão linda
nem ela sabe que fingir meiguice
é o mais certo sinal de que te ama ainda

Do eterno mistério
um outro mundo existe...uma outra vida...
mas de que serve ires para lá...
bem como aqui, tu'alma atônita e perdida
nada compreenderá

Do mau estilo
todo o bem, todo mal que eles te dizem, nada
seria, se soubessem expressá-lo
o ataque de uma borbolete agrada
mais que todos os beijos de um cavalo

Dona Lógica usa coque e óculos, como aquelas velhas professoras que não se fabricam mais e tão chatas que, no meio da aula, sempre alguém lhes pedia “para ir lá fora”. Sim, Dona Lógica, a alma também precisa de um pouco de ar.

Perdi o bonde e a esperança
Volto pálido para casa

Conhecer o mistério de um corpo é talvez mais importante do que conhecer o mistério de uma alma.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

Nota: Do poema Retrato

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia.

Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto Amor.

...Mais

Borboleta é uma pétala que voa.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Essas e outras mortes ocorridas na família me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno. Em toda vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade.

Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Fui até onde pude, mas como é que não compreendi que aquilo que não alcanço em mim... já são os outros?

Clarice Lispector
A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Passageiro Clandestino

No porta-mala do meu automóvel
Levo um anjo escondido...
Quando chegamos a um descampado,
Ele sai lá de dentro, estende as asas, belas como a vitória
E aí, então, nos seus ombros, dou uma longa volta pelos céus da cidade...

Como um tempo de alegria, por trás do terror me acena,... E a noite carrega o dia, no seu colo de açucena... Sei que dois e dois são quatro, Sei que a vida vale a pena... mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena...

Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto,
desta hora… desta vida...

E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor em que me amaram, me feriram
sete vezes por dia em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio

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