Poetas Brasileiros

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Pior, mas muito pior mesmo
do que as lágrimas de crocodilo,
são os sorrisos de crocodilo...

Existe a quem falte o delicado essencial.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que – em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade – essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

O melhor remédio contra a saudade é a falta de memória.

Poemeto Erótico

Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. A Cinza das Horas, 1917

Eu ouço música
como quem apanha chuva:
resignado
e triste
de saber que existe um mundo
do Outro Mundo...
Eu ouço música como
quem está morto
e sente
já um profundo
desconforto
de me verem
ainda neste mundo de cá...
Perdoai,
maestros,
meu estranho ar!
Eu ouço música
como um anjo doente
que não pode voar.

Mario Quintana
Apontamentos de História Sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

DA PAZ INTERIOR

O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranquilo
Que uma vingança bem executada...

A vida necessita de pausas.

Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as coisas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

(...) quanto a mim mesma, sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim.

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Pus-me a cantar minha pena
Com uma palavra tão doce,
De maneira tão serena,
Que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho do poema "A Doce Canção"

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Não te quero ter porque em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.

Vinicius de Moraes
Antologia poética

Nota: Trecho do texto "Ausência" de Vinicius de Moraes

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Personagem

Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto mais me inquieta.
A arte de amar é exactamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto – e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras – quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Não tenha medo de meu silêncio... Sou um louco mas guiado dentro de mim por uma espécie de grande sábio...

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O POETA
Venho do fundo das Eras
Quando o mundo mal nascia...
Sou tão antigo e tão novo
Como a luz de cada dia!

E as flores vão chegar num dia qualquer, apenas para informar-lhe como você é especial para alguém. Assim.. sem um motivo ou data especial. “Amar é mudar a alma de casa!” Idealizar é sofrer. Amar é surpreender! Talvez tenhamos que conhecer algumas pessoas erradas, antes de encontrar a pessoa certa. Talvez a pessoa certa, você considera a mais errada, que só quer curtir, mas que um dia te fará feliz, e para que isso aconteça, só depende de você, pois ao encontrá-la, agradeça por esta bênção. Porém, estamos tão presos àquela porta fechada, que não somos capazes de ver o novo caminho que se abriu. Não busque boas aparências, elas podem mudar. Encontre aquela pessoa que te faça dar gargalhadas, ao falar uma piadinha e que faça seu coração sorrir. Afinal, as pessoas não entram em nossas vidas por acaso.

Dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era um amor de quem já sofreu por amor.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho do conto Uma história de tanto amor.

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Vocês não sabem nada de mim. Nunca te disse e nunca te direi quem sou. Eu sou vós mesmos.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.

Carlos Drummond de Andrade

Nota: Trecho de "Conselho de um velho apaixonado" muitas vezes atribuído a Carlos Drummond de Andrade

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