Poetas Brasileiros

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O poema do amigo

Estranhamente esverdeado e fosfóreo,
Que de vezes já o encontrei, em escusos bares submarinos,
O meu calado cúmplice!
Teríamos assassinado juntos a mesma datilógrafa?
Encerráramos um anjo do Senhor nalgum escuro calabouço?

Éramos necrófilos
Ou poetas?
E aquele segredo sentava-se ali entre nós todo o tempo,
Como um convidado de máscara.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
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Da sinceridade

Tens um amigo que fala bem
E um cão que nada explica.
Um jura-te amizade… O outro, porém,
Seus bons serviços te dedica.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
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Os silêncios

Não é possível amizade quando dois silêncios não se combinam.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
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A educação é a única das coisas deste mundo em que acredito de maneira inabalável.

Cecília Meireles
Obra em prosa: crônicas em geral. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
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Bilhete

Ora, como dizia o festejado
arqui-sofista Valerius:
“O Universo é uma nódoa
na perfeição do Não-ser”...
Relembro isto ao tentar mandar-te
– ante a pureza intocada
desta página –
uma mensagem
de Natal. “Mas”,
- diz-me a página, “essa mensagem
foi mandada há muito (pergunta
aos três Reis Magos
se não foi...)”
Ah! Sim, eles tinham a Estrela!
Mas onde é que ela está?
A gente por aqui só encontrou depois
estrelas pirotécnicas
estrelas-do-mar
estrelas de generais.
Melhor não falar e
– em vez de escrever
qualquer palavra que macularia
uma pobre página, ainda nuinha
como a verdade –
será bom apenas desenhar
coisas
sem nenhum conceito
para atrapalhar...
Hoje,
dia de Natal,
eu desenharia pois
– toscamente –
nesta página
a Virgem, o Menino, o burrico...
– imagina
o bem que isso nos faria aos dois...
Porque então,
eu não estaria
te mandando umaideia
apenas...
Eu te mandaria umaVisão!

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Tudo tão vago...

Nossa Senhora
Na beira do rio
Lavando os paninhos
Do bento filhinho

São João estendia
São José enxugava
E o menino chorava
Do frio que fazia

Dorme criança
Dorme meu amor
Que a faca que corta
Dá talho sem dor
(de uma cantiga de ninar)

Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...

O Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...

E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...

Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...

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Irei até onde o ar termina, irei até onde a grande ventania se solta uivando, irei até onde o vácuo faz uma curva, irei aonde meu fôlego me levar.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
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⁠Parece que esperança não tem olhos (...), é guiada pelas antenas.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Uma esperança.

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Inserida por mi_v_t_

E quando a festa [Carnaval] ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto Restos do Carnaval.

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Não gosto do Carnaval porque parece filme histórico italiano.

Mario Quintana
Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
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Vivam os mortos porque neles vivemos.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
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Inspiração não é loucura. É Deus.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
Inserida por pensador

Escrever é tal procura de íntima veracidade de vida.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
Inserida por pensador

A minha própria vida tem enredo verdadeiro. Seria a história da casca de uma árvore e não da árvore.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
Inserida por pensador

O que me atrapalha a vida é escrever.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Inserida por pensador

O que escrevo não pede favor a ninguém e não implora socorro: aguenta-se na sua chamada dor com uma dignidade de barão.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Inserida por pensador

Uma vida é curta: mas, se cortarmos os seus pedaços mortos, curtíssima fica ela.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica O grupo.

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Inserida por pensador

Alegria

Não essa alegria fácil dos cabritos monteses
Nem a dos piões regirando
Mas
Uma alegria sem guizos e sem panderetas...
Essa a que eu queria:
A imortal, a serena alegria que fulge no olhar dos santos
Ante a presença luminosa da morte!

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página:
Por isso a palavra escrita é sempre triste...

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Nota: Poema Tristeza de escrever.

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Interrogações

Nenhuma pergunta demanda resposta.
Cada verso é uma pergunta do poeta.
E as estrelas...
as flores...
o mundo...
são perguntas de Deus.

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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