Poetas Brasileiros
Que minha solidão me sirva de companhia, que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Nota: Adaptação de trecho do livro "Um sopro de vida".
O adolescente
A vida é tão bela que chega a dar medo,
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade
que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicentemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova…
A vida é nova e anda nua
– vestida apenas com o teu desejo!
O amigo
Amigo é a criatura que escuta todas as nossas coisas sem aquela cara
que parece estar dizendo: – E eu com isso?
Acusarem um poeta de ser egoísta é acusá-lo de ser ele mesmo.
Passagem do ano
Passagem
O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus…
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles… e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
"Não há mistério para ser feliz. Agradeça! Agradeça e agradeça. Depois repare a sua sensação. Isso é a felicidade!"
" Há dois caminhos para escolhermos seguir: o de ir e o de ficar. Movimente-se! Vá! Só se saberá aquilo que se tentar".
"A vida ganhará mais sentido, se você a desafiar. Mantenha o olhar sobre o que deseja alcançar. Ele atrairá sua presa!"
“Não permita se sentir só. Solidão verdadeira é aquela que nos distancia de nós mesmos. Ninguém nos substitui na função de melhor companhia!”
“ Voltei! A saudade de interagir por aqui se tornou uma necessidade! Por isso retornei! É que só faço o movimento do retorno, quando sinto que estou muito melhor do que eu era antes! Experimente fazer igual! Retorne-se!”
" Cuide da harmonia entre você e o universo. Somente assim é possível enxergar o mundo imenso que há dentro de cada um de nós! Explore-o!
Conquiste-o! Valorize-o!
Valorize-se! O universo é seu, porque ele é você! "
A mágoa
Os telhados sujos a sobrevoar
Arrastas no vôo a asa partida
Acima da igreja as ondas do sino
Te rejeitam ofegante na areia
O abraço não podes mais suportar
Amor estreita asa doente
Sais gritando pelos ares em horror
Sangue escoa pelos chaminés.
Foge foge para o espanto da solidão
Pousa na rocha
Estende o ser ferido que em teu corpo se aninhou,
Tua asa mais inocente foi atingida
Mas a Cidade te fascina.
Insiste lúgubre em brancura
Carregando o que se tornou mais precioso.
Voas sobre os tetos em ronda de urubu
Asa pesa pálida na noite descida
Em pálido pavor
Sobrevoas persistente a Cidade Fortificada escurecida
Capela ponte cemitério loja fechada
Parque morto floresta adormecida,
Folha de jornal voa em rua esquecida.
Que silêncio na torre quadrada.
Espreitas a fortaleza inalcançada.
Não desças
Não finjas que não dói mais
Inútil negar asa partida.
Arcanjo abatido, não tens onde pousar.
Foge, assombro, inda é tempo,
Desdobra em esforço a sua medida
Mergulha tua asa no ar.
Nota: Esse é um dos dois únicos poemas que foram publicados em vida por Clarice Lispector. Esse poema também tem uma versão em prosa publicado em “A descoberta do mundo” com o título A mágoa mortal. O outro poema publicado em vida pela autora é Descobri o meu país.
...MaisEla era antes uma mulher que procurava um modo, uma forma. E agora tinha o que na verdade era tão mais perfeito: era a grande liberdade de não ter modos nem formas.
Muito elogio é como botar água demais na flor. Ela apodrece.
Escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida.
“Não importa que esteja nublado, não importa que esteja sol; o que importa é o clima que você determinou dentro de você para acontecer nesse mais um dia pela frente!"
O homem feliz é aquele que pode imitar o caramujo. O caramujo traz às costas a própria casa, não tem apólices, não tem dores de cabeça; e, quando viaja, vai dizendo alegremente: "omnia mecum porto!"
"Coloque limite para mostrar até onde alguém pode ir com você. Mas, antes, veja até onde você está indo com o outro. A confiança exige respeito.
Se liga!
Unidade
Minh’alma estava naquele instante
Fora de mim longe muito longe
Chegaste
E desde logo foi Verão
O Verão com as suas palmas
os seus mormaços
os seus ventos de sôfrega mocidade
Debalde os teus afagos insinuavam quebranto e molície
O instinto de penetração já despertado
Era como uma seta de fogo
Foi então que min’alma veio vindo
Veio vindo de muito longe
Veio vindo
Para de súbito entrar-me violenta e sacudir-me todo
No momento fugaz da
unidade.
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