Poetas Brasileiros
[NO MEIO DO CAMINHO]
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
“A mocidade é como a primavera, / A alma, cheia de flores, resplandece, / Crê no bem, ama a vida, sonha, espera, / E a desventura facilmente esquece”.
Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.
Comunicação
Cecília Meireles
Pequena lagartixa branca,
ó noiva brusca dos ladrilhos!
sobe à minha mesa, descansa,
debruça-te em meus calmos livros.
Ouve comigo a voz dos poetas
que agora não dizem mais nada,
– e diziam coisas tão belas! –
ó ídolo de cinza e prata!
Ó breve deusa de silêncio
que na face da noite corres
como a dor pelo pensamento,
– e sozinha miras e foges.
Pequena lagartixa – vinda
para quê? – pousa em mim teus olhos.
Quero contemplar tua vida,
a repetição dos teus mortos.
Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.
Pára em meu coração deserto!
Deixa que te ame, ó alheia, ó esquiva…
Sobre a torrente do universo,
nas pontes frágeis da poesia.
Quando um amigo morre, uma coisa não lhe perdoamos: como nos deixou assim sem mais nem menos, assim no ar, em meio de algo que lhe queríamos dizer ou – pior ainda – em meio do silêncio a dois no bar costumeiro? Que outros hábitos, que outras relações terá ele arranjado? Que novas aventuras ou desventuras de que não nos conta nada?
Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Coisas
Uma rãzinha verde no gris da manhã...
Um sorriso na face de um ceguinho...
Uma nota aguda como uma pergunta de criança...
Um cheiro agradecido de terra molhada...
Um olhar que nos enche subitamente de azul...
Desconfia da tristeza de certos poetas. É uma tristeza profissional e tão suspeita como a exuberante alegria das coristas.
Dos elefantes
O único defeito dos elefantes é não serem portáteis.
( in: Da Preguiça como Método de Trabalho, 1987.)
Liberdade essa palavra, que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique, e não há ninguém que não entenda.
(Do "Romanceiro da Inconfidência)
Àgua:
Àgua uma gota de chuva, uma gota de nuvem uma gota de àgua pra viver.
A àgua é importante: ECONOMIZE E GANHE UMA GOTA A MAIS DE SAÚDE!
Amizade
O amigo que se torna inimigo fica incompreensível;
o inimigo que se torna amigo é um cofre aberto.
Um amigo íntimo – de si mesmo.
De um lado cantava o sol,
do outro, suspirava a lua.
No meio, brilhava a tua
face de ouro, girassol!
Ó montanha da saudade
a que por acaso vim:
outrora, foste um jardim,
e és, agora, eternidade!
De longe, recordo a cor
da grande manhã perdida.
Morrem nos mares da vida
todos os rios do amor?
Ai! celebro-te em meu peito,
em meu coração de sal,
Ó flor sobrenatural,
grande girassol perfeito!
Acabou-se-me o jardim!
Só me resta, do passado,
este relógio dourado
que ainda esperava por mim . . .
Só por amor
Só por amor
Só por paixão
Só por você
Você que nunca disse não
Só por saber
Que o coração
Sabe demais
Que a razão não tem razão
Por você que foi só minha
Sem jamais pensar por quê
Por você que apenas tinha
Razões e mais razões para não ser
Só por amor
Só por amado
Só por amar
Meu amor, muito obrigado
Meu amor, muito obrigado