Poetas Brasileiros

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(...)
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
(...)
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Mario Quintana
Antologia poética. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

Nota: Trechos do poema Seiscentos e sessenta e seis, que costuma ser veiculado na internet com o título O tempo.

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Quem ama inventa

Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revoo sobre a ramaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressureições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante.
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.

Navego pela memória sem margens.

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho do poema "Explicação": Link

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sou triste por que sonhei
coisas inalcançáveis que não se deve sonhar ...

Onde é que dói na minha vida para que eu me sinta tão mal?

"Tenho um coração selvagem, o qual não pertence a ninguém, mas em algum momento você poderá tocar"

Carrego meus mortos do lado esquerdo...por isso caminho meio de banda.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Cecília Meireles
Cecília Meireles: obra em prosa, volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

O Destino é o acaso atacado de mania de grandeza.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

"Serás possível um peito, comportar mais saudade que seu próprio tamanho? pois eu lhe juro, logo já, meu coração arrebenta minhas costelas e vai correndo ao encontro do teu de tanto não suportar mais você tão longe. tenho medo que meus braços durante a noite se rebelem, destaquem-se de mim e saiam correndo ao enlaço do teu pescoço e minha boca se recuse a fazer qualquer movimento que não seja atado à tua. ando de um lado pro outro o dia inteiro, só pra ver se meus pés aquietam e deixam de tentar correr na tua direção. Dear, a verdade é que sem você aqui comigo, meu corpo inteiro tenta dar jeito de te alcançar. é mais que consciente minha vontade de você. é involuntário como cada batida do meu coração - que sussurra seu nome, seu nome, seu nome, tum-tum, seu nome…"

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo…
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas

do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes…
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar.

Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio.

E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas.
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte.

Essa vontade de estar perto, se longe; ou estar mais perto, se perto.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da música "Monólogo de Orfeu".

O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da poesia "Soneto do Amor Total", de Vinicius de Moraes.

E só estou triste hoje porque estou cansada.

Clarice Lispector
Clarice Lispector em entrevista concedida ao repórter Júlio Lerner, na TV Cultura, em 1977.

Sejam vocês mesmas! Estudem cuidadosamente o que há de positivo ou negativo na sua pessoa e tirem partido disso. A mulher inteligente tira partido até dos pontos negativos. Uma boca demasiadamente rasgada, uns olhos pequenos, um nariz não muito correto podem servir para marcar o seu tipo e torná-lo mais atraente.
Desde que seja seu mesmo.

Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.

Clarice Lispector

Nota: Trecho adaptado do livro "Um sopro de vida".

Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço.

Abro o jogo! Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza.

Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves.
Por favor me poupem.

Clarice Lispector

Nota: Os dois primeiros pensamentos pertencem ao livro "Água Viva" (1998). O terceiro é um trecho do conto Brasília, presente no livro "Todos os Contos" (2016).

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O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinicius de Moraes
Jardim Noturno - Poemas Inéditos

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