Poetas Brasileiros

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Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duas horas de anestesia, ouçamos um pouco de música, visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.
(Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin)

Tenho que baixar a voz
Porque,
Se falo alto,
Não me escuto

A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.

Deve Ser Amor

Sim, sinceramente, amor
Eu não sei o que se passa em mim
É assim como uma dor
Mas que dói sem ser ruim
Sim, é ter no coração
Sempre uma canção
É tão embriagador
Deve ser, sim
Deve ser amor

Samba, samba diferente
Isto é estar contente
Gosto de chorar, de chorar, de chorar
Samba, ritmo envolvente
Como o amor da gente
Samba em chá-chá-chá
Chá-chá-chá
Chá-chá-chá

Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte: já que sou, o jeito é ser.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão fragil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...

Que os mortos me ajudem a suportar o quase insuportável, já que de nada me valem os vivos.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e tão puras como a água bebida na concha das mãos?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Darling,

Se você soubesse como a minha vida ficou monótona; tão sem gosto de nada. Às vezes tenho impressão que não vou poder mais aguentar nem mais 5 minutos sem te ver.
E ainda faltam tantos 5 minutos, meu bem.
Eu te adoro, te entendo, te venero. Tu és a minha vida, meu tudo. É diferente. Eu sou teu escravo, teu criado e tua cria. E tu és a minha namorada ilícita, esposa amantíssima e cidadã ímpar na Terra.

No fim você vai ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar…

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu

Vinicius de Moraes
Álbum "Como dizia o poeta"

Nota: Trecho da música "Como dizia o poeta"

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Ninguém pode entrar no coração de ninguém.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

HIPÓTESE

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.

Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos como sabê-los?

Vinicius de Moraes
Antologia poética

Nota: Trecho de "Poema enjoadinho"

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De nada sei. Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sei que cada dia é um dia roubado da morte.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Amor é privilégio de maduros.

Não-coisa

O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas

invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa

sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa é fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

Ferreira Gullar

Nota: Poema extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, n.º 6, setembro de 1998, pág. 77.

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Moça risonha, que ri e sonha.

Nada como o tempo.