Poesias de Rubem Alves

Cerca de 323 poesias de Rubem Alves

Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora,nasce a primavera do lado de dentro.

Esperança é quando, sendo inverno do lado de fora, a despeito dele brilha o Sol de verão no lado de dentro.

[...] SOBRE A VELHICE: Por oposição aos gerontologistas, que
analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado
na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem
a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna,
que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence
à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes
é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente
diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é
tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos
consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul,
imóvel. No crepúsculo as cores se põem em movimento: o azul
vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora
vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente. Ao
sentir a passagem do tempo nos apercebemos que é preciso viver o
momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge – portanto,
carpe diem – colha o dia. No crepúsculo sabemos que a noite está
chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando. E isso
nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como
uma alegria única. Quem sabe que está vivendo a despedida olha
para a vida com olhos mais ternos...

O olho vê aquilo que o coração
deseja. Quando o desejo é belo, o
mundo fica cheio de luz, mas
quando o desejo é ruim, o mundo
se entristece...

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Para encerrar a conversa, a entrevistadora fez a última pergunta: “Como é que você se definiria?”
Êta pergunta impossível de ser respondida! Porque definir, como o próprio nome está dizendo, vem do latim finis, fim. Definir é determinar os limites. Mas sei eu lá quais são os meus limites!
Para respondê-la, eu teria de encontrar uma frase que não fosse definição, que apontasse para o sem limites. Aí eu me lembrei da frase que Robert Frost escolheu para sua lápide e disse que aquela era a definição de mim mesmo: “Ele teve um caso de amor com a vida”.
Quero que estas sejam as palavras na minha lápide.

(de “Ostra feliz não faz pérola”)

Sobre a morte e o morrer
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

(Trecho do Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3. Fonte: Projeto Releitura)

“O amor se realiza quando recebemos de volta as coisas que amamos e perdemos”.

(Extraído do livro Pensamentos que Penso Quando não Estou Pensando, Editora Papirus, 3ª Edição, página 64).

“Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de não haver quem as escute. Não pedem para ser curadas de alguma doença. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solidão” (…)”

( em “Se Eu Fosse Você”, do livro ‘O Amor Que Ascende a Lua’. Campinas/SP: Papirus, 1999.)

“Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado”.

(trecho extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.)

"Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só posso dizer: carpe diem - colha o dia - como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que eu faço".
(Em “Sobre o otimismo e a esperança” – Concerto para corpo e alma. Página 160 – Editora Papirus – Campinas – São Paulo, 2012).

Os animais sobrevivem pela adaptação física ao mundo. Os
homens, ao contrário parece ser constitucionalmente desadaptados ao
mundo, tal como ele lhes é dado.

Oração de uma criança “Deus, que os maus não sejam tão maus e que os bons não sejam tão chatos. Amém”.

(em “ostra feliz não faz pérola (PDF))

Ver algo que não foi preparado pelo verbo é entrar no campo das sensações não organizadas, da alucinação, da loucura.

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas.
Para voar é preciso amar o vazio.
Porque o voo só acontece se houver o vazio.
O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Os homens querem voar, mas temem o vazio.
Não podem viver sem certezas.
Por isso trocam o voo por gaiolas.
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Rubem Alves
Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".

...Mais

Não quero porto seguro, só âncora, vela e mar. Âncora para ser meu porto, vela para me levar, mar para, no litoral, as minhas ondas quebrar.

"Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido: olho trevoso vê mundo escuro".

Quem é movido pela avareza não tem olhos nem coração para sentir o sofrimento dos outros, porque estes lhe são apenas um valor econômico. A avareza tira a capacidade de compaixão. E, com isso, nossa condição de seres humanos.

Suspeito que nossas escolas ensinem com muita precisão a ciência de comprar as passagens e arrumar as malas. Mas tenho sérias dúvidas de que elas ensinem os alunos a arte de ver enquanto viajam.

Pássaros engaiolados pensam em gaiolas. Pássaros livres pensam no azul infinito. Eu e os pássaros temos sonhos comuns. Sonhamos com voo e com a imensidão do céu azul."

Levou tempo para que eu percebesse que quem presta muita atenção no que é dito não consegue escutar o essencial. O essencial se encontra fora das palavras...