Poesias de Rubem Alves

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Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.
Rubem Alves, para a Folha, em 2003

“As Palavras são entidades mágicas, potências feiticeiras, poderes bruxos que despertam os mundos que jazem dentro dos nossos corpos, num estado de hibernação, como sonhos. Nossos corpos são feitos de palavras”...

( na crônica 'Lagartas e borboletas', do livro "A alegria de ensinar". São Paulo: Ars Poética, 1994, p. 52.)

O olho vê aquilo que o coração
deseja. Quando o desejo é belo, o
mundo fica cheio de luz, mas
quando o desejo é ruim, o mundo
se entristece...

“Bernardo Soares escreveu que nosso problema está em nossa incapacidade de desembarcar de nós mesmos. É inútil ir até a China se não saímos da bolha onde vivemos".

(trecho extraído do livro em PDF: ostra feliz não faz pérola)

Os animais sobrevivem pela adaptação física ao mundo. Os
homens, ao contrário parece ser constitucionalmente desadaptados ao
mundo, tal como ele lhes é dado.

Compreende-se que o que as pessoas têm normalmente em suas cabeças não seja
conhecimento, não seja ciência, mas pura ideologia, fumaças, secreções, reflexos de um
mundo absurdo.

Para encerrar a conversa, a entrevistadora fez a última pergunta: “Como é que você se definiria?”
Êta pergunta impossível de ser respondida! Porque definir, como o próprio nome está dizendo, vem do latim finis, fim. Definir é determinar os limites. Mas sei eu lá quais são os meus limites!
Para respondê-la, eu teria de encontrar uma frase que não fosse definição, que apontasse para o sem limites. Aí eu me lembrei da frase que Robert Frost escolheu para sua lápide e disse que aquela era a definição de mim mesmo: “Ele teve um caso de amor com a vida”.
Quero que estas sejam as palavras na minha lápide.

(de “Ostra feliz não faz pérola”)

Sobre a morte e o morrer
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

(Trecho do Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3. Fonte: Projeto Releitura)

“O amor se realiza quando recebemos de volta as coisas que amamos e perdemos”.

(Extraído do livro Pensamentos que Penso Quando não Estou Pensando, Editora Papirus, 3ª Edição, página 64).

APRENDER A SER CRIANÇA

São muitos os estudos da psicologia das crianças. Estudamos as crianças para ensiná-las a maneira adulta de ser. Não conheço estudos que tenham por objetivo o contrário: ensinar aos adultos a maneira de voltar a ser criança.

(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)

Oração de uma criança “Deus, que os maus não sejam tão maus e que os bons não sejam tão chatos. Amém”.

(em “ostra feliz não faz pérola (PDF))

“Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de não haver quem as escute. Não pedem para ser curadas de alguma doença. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solidão” (…)”

( em “Se Eu Fosse Você”, do livro ‘O Amor Que Ascende a Lua’. Campinas/SP: Papirus, 1999.)

“Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado”.

(trecho extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.)

''Pois a memória é o estômago da mente...
Para ali vão as comidas mais variadas: umas saborosas e de digestão fácil, outras amargas e impossíveis de serem digeridas.''

"Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só posso dizer: carpe diem - colha o dia - como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que eu faço".
(Em “Sobre o otimismo e a esperança” – Concerto para corpo e alma. Página 160 – Editora Papirus – Campinas – São Paulo, 2012).

Ver algo que não foi preparado pelo verbo é entrar no campo das sensações não organizadas, da alucinação, da loucura.

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas.
Para voar é preciso amar o vazio.
Porque o voo só acontece se houver o vazio.
O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Os homens querem voar, mas temem o vazio.
Não podem viver sem certezas.
Por isso trocam o voo por gaiolas.
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Rubem Alves
Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".

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"Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido: olho trevoso vê mundo escuro".

Suspeito que nossas escolas ensinem com muita precisão a ciência de comprar as passagens e arrumar as malas. Mas tenho sérias dúvidas de que elas ensinem os alunos a arte de ver enquanto viajam.

Pássaros engaiolados pensam em gaiolas. Pássaros livres pensam no azul infinito. Eu e os pássaros temos sonhos comuns. Sonhamos com voo e com a imensidão do céu azul."