Poesias de Robert Louis Stevenson
A POESIA & O POETA
O poeta é um aprendiz da Poesia.
É aquele que aprende
que poetas não escrevem poesias;
é a Poesia que se escreve através da gente
Quando me vi do outro lado
nem o espelho refletiu mais minha face
Quando me vi do outro lado
tinha deixado diferente o mundo
do jeito que antes o havia encontrado
Quando me vi do outro lado
foi que me dei conta que esqueci
o celular, a identidade e o relógio
É preciso saber roubar do breve instante a poesia que logo nos será sonegada, e entender que a vida é um prolongado poema, constantemente inacabado.
Quando te cheguei eu era cinza
e tu estavas toda machucada.
Lambi tuas feridas
de dia, de noite e nas madrugadas.
Agora que estás cicatrizada,
tornei-me teu nome,
abandonei meus cactos,
e vivo exalando o cheiro das rosas
desses tantos anos de casado
O SENTIDO DA VIDA
Mais importante que buscar o sentido da vida, é sentir a vida com todos os sentidos que ela nos deu.
A FINITUDE DAS COISAS FINDAS
Não há nada que dure à eternidade.
Nem mesmo esta repentina
e passageira imortalidade
Não há coisa tão certa que um dia não possa dar errado.
Mas uma coisa toda errada, nunca pode vir a dar certo.
O corpo da minha mãe foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro.
Mas, sua alma se encontra por entre sargaços no mar da Praia de Boa Viagem.
Minha esposa está ao celular
vendo fofocas de celebridades,
enquanto eu estou bisbilhotando
mexericos e falatórios dos políticos.
E ambos estamos nos divertindo
da nossa insignificância arrogância,
ao mesmo tempo que o Universo,
em sua escuridão e silêncio, nos engole
O HOMEM E O MENINO
O homem pergunta ao menino: o que queres?
E o menino responde: crescer
Crescer para quê? - indaga o homem
Para ser como você, replica o menino
Porém se crescer e for como eu – diz o homem – vai sentir saudade de você. A gente pode até crescer, mas não pode decrescer
E o menino retruca: ainda assim este é meu destino.
A infância é um misto de transitoriedade e permanência.
Ela acaba com o passsar dos anos.
Ela dura no passar dos anos...
Minha esposa diz, de vez em quando, que estou errado.
E eu lhe digo que, de vez em quando, sou humano.
Se pudesse descortinaria o tempo,
revelando a nudez da infinitude
encoberta por detrás de sua passagem.
No desaparecer das horas e dos relógios,
quando não houver mais calendários,
réveillons, natais e aniversários,
quando os despertadores se calarem
e todas as noites forem imutáveis,
como um único retrato nunca mais fotografado,
nada mais restando que o rio de Heráclito,
estático, imóvel, quieto e congelado,
é lá que encontrarei meus antepassados,
com a mesma fisionomia com que me deixaram
Parte da minha história hoje é feita das sobras dos rastros das pessoas que por mim passaram.
Se eu fosse uma rua, seria uma rua repleta de buracos.
DIALETOS HUMANOS
O silêncio murmura,
os gestos dizem,
os olhos exprimem,
as roupas dialogam,
e as mímicas falam.
A ausência nos retratos
dos meus aniversários,
revelam o vácuo objetivo
do subjetivo desvio do teu sumiço.
Não há mudez na Torre de Babel humana.
Passei décadas buscando ser feliz. Fracassei. Decidi, então, ser calmo, sossegado e tranquilo. Agora que sou calmo, sossegado e tranquilo, sinto-me feliz.
Felicidade não é um fim em si mesmo, mas efeito colateral.
Deitado na cama visitei Cairo, Roma, Marraquexe, Budapeste e Paris. Andei pelos quatro cantos do mundo, escalei o Everest, surfei no Havaí, cacei rinocerontes nas savanas africanas, pesquei marlins no alto mar de Havana, separei-me de Audrey Hepburn e me casei com Mariinha, a menina mais bonita da sala de aula.
Quando me levantei da cama o quarto era o mesmo, a casa era a mesma e o mundo era apático, distante, fosco e indiferente. Estava atrasado, havia perdido o metrô das onze, apenas porque passei da hora, inerte no leito quieto, batendo as asas e planando no teto do quarto.
AMOR TARDIO
Embora seja noite
agora é tarde
tarde demais para ela voltar
Quando esta madrugada acabar
vou vestir minha melhor roupa
usar o perfume importado
e retornar para aquele bar
que ficava no final do século passado
quem sabe ela ainda esteja lá