Poesias de Gregorio de Matos Guerra
O essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas de produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar, ou de libertar na estratosfera, ou de afundar nas profundezas do mar, materiais que de outra forma teriam de ser usados para tornar as massas demasiado confortáveis e, portanto, com o passar do tempo, inteligentes.
Somos a favor da abolição da guerra, não queremos a guerra. Mas a guerra só pode ser abolida com a guerra. Para que não existam mais fuzis, é preciso empunhar o fuzil.
Marketing é uma guerra mental. São as idéias que estão na cabeça das pessoas que determinam se um produto terá sucesso ou não.
Palavras sobre a guerra, de pessoas que estiveram numa guerra, são sempre interessantes; palavras sobre a lua, de um poeta que nunca esteve na lua, têm toda a probabilidade de serem enfadonhas.
Certamente têm razão aqueles que definem a guerra como estado primitivo e natural. Enquanto o homem for um animal, viverá por meio de luta e à custa dos outros, temerá e odiará o próximo. A vida, portanto, é guerra.
Quando se defrontam dois exércitos de força equivalente, aquele que sofre por sustentar a guerra alcançará a vitória.
A política, a guerra, o casamento, o crime, o adultério. Tudo o que existe no mundo tem algo a ver com dinheiro.
O homem em tempo de guerra chama-se herói. Pode não ser mais corajoso e fugir a toda pressa. Mas, ao menos, é um herói que bate em retirada.
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Bola de futebol... é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho,
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mãos.
A busca da solidão é uma tendência do nosso tempo; antes, e desde o seu aparecimento sobre a terra, o homem buscou apenas não ficar sozinho.
Os poderosos devem saber que à sombra deles cresce inevitavelmente, mais perigoso que a inveja, o ressentimento daqueles mesmos que vivem dos seus favores.
Enquanto o mundo existir, haverá seres humanos que considerem injusto o poder e conciliábulos ocultos para derrubá-lo.
Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
Falsa gentileza vã,
A quem segue o teu verdor!
Adverte, que se hoje és flor,
Serás caveira amanhã.
Essa beleza louça
Te está mesmo condenando...
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Se corres, com pano largo,
Trás dos deleites de uma hora,
Vê bem que o que é doce agora
Te há de ser depois amargo.
Desperta desse letargo
Que que os vícios te detêm,
E vive como convém;
Pois se sabes que és mortal,
Olha bem: não morras mal,
Olha bem que vivas bem.
Se a esperar tempo te atreves,
Mal na vida te confias;
Pois são tão curtos os dias,
Quanto as horas são mais breves.
Deixa os gostos vão e leves,
Que tanto estás anelando:
Trata de ir-te aparelhando
Para a morte, e sem demora;
Porque não sabes a hora,
Porque não sabes o quando.
Deixa o mundo os enganos,
Não queiras em tanta lida,
Por breve gostos da vida
Penar por eternos anos.
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.
Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.
As Cousas do mundo
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Nosso mundo hoje
O mundo está perdido!
Tantas mortes e destruição.
Tantos estragos e poluição.
Tanta gente de fome morrendo.
Tantos animais extinguindo-se e desaparecendo.
Tanta gente rica que não reparte com ninguém.
Tantos problemas que os governos têm.
Tantas guerras arrasando nações.
Tantos acidentes, tantas explosões.
Tantas pessoas analfabetas, tantas sem onde morar.
Tantos adoecendo, sem remédio para se tratar.
O ser humano perdeu a razão.
Se afogou na própria ambição.