Poesia Animo Fernando Pessoa
Meia lágrima
Não,
a água não me escorre
entre os dedos,
tenho as mãos em concha
e no côncavo de minhas palmas
meia gota me basta.
Das lágrimas em meus olhos secos,
basta o meio tom do soluço
para dizer o pranto inteiro.
Sei ainda ver com um só olho,
enquanto o outro,
o cisco cerceia
e da visão que me resta
vazo o invisível
e vejo as inesquecíveis sombras
dos que já se foram.
Da língua cortada,
digo tudo,
amasso o silencio
e no farfalhar do meio som
solto o grito do grito do grito
e encontro a fala anterior,
aquela que emudecida,
conservou a voz e os sentidos
nos labirintos da lembrança.
Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.
Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Saiba o mundo, e tanto exagerar-me.
Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
e eu gostava de chorar a fio
e chorava
sem um desgosto sem uma dor sem um lenço
sem uma lágrima
fechada à chave na casa de banho
da casa da minha avó
onde além de mim só estava eu
Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
de livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever
Sou feita de muitos
nós
desobediência e meio-dia
Sou aquela que negou
aquilo
que os outros queriam
Disse não à minha sina
de destino preparado
recusei as ordens escusas
preferi a liberdade
e vivo deste meu lado
Nada mais de mim
haverá memória
-sei-
só os poemas darão conta
da minha avidez
da minha passagem
Da minha limpidez
sem vassalagem
A Defesa do Poeta
Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
dou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs em ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.
A HISTÓRIA DA MORAL
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
Malandragem
Vem do nada...
- Diga aí, cara!
Como vai, “broder”...
E eu respondo
Vou indo, mano...
Como vai a mina?
A desconfiança responde
- A nega está estirando
Os cabelos chapa.
- E a sua mãe,
Broow, como vai?
- A coroa vai levando
Meu...
-(Chega à bisteca).
...Beijos...
-seus cabelos, hem!...
Gata estilo rock hooll
Mana...
E o amigo dá no pé
No dia seguinte
Surge do nada
-diga aí, cara!...
Perfeição
Olha a perfeição,
Rebolando,
Dançando,
Cantando,
Como se fosse uma rosa,
Olha a perfeição rosa,
Morta em sua direção como
O céu ao vento
Olha a perfeição tranquila
Beijando o relento.
Olha a perfeição vermelha cor
De guerra chorando a beleza…
Olha a perfeição como o sótão
Escuro; como a cortina da noite,
Suja; como o branco de um assento,
Visível; como a transparência
Do dia.
Olha a perfeição jogando tudo
Pra trás e se entregando ao seu
Inverso…
Olha a perfeição
Não está mais perfeita.
Dia do escritor-25 de julho de 2019
Dia daquele que lê mais fábulas que o próprio leitor.
Escritor acende em suas linhas escuras,
Um mundo de clareza.
Escritor escreve história de si e de todos,
Ele é um mundo de encontros e desencontros.
Em seus mundos absorve as vidas,
Nelas traduz a magia chamada humanidade.
Sentimento Novo
Estou gostando de algo novo
Estou gostando de você
És a criatura mais bela
Meus olhos a te ver
Meu sorriso florescer
Minha mente a se perder
Seu sorriso monótono
Seu jeito é ótimo
Sua voz me alivia
Seu olhar me contagia
Alucinado por você estou
Garota eu não vejo a hora
Quero te ter ao meu lado agora
Admirado por você estou
NAVEGANTE
Navegou
no veleiro dos livros.
Desembarcou
e conferiu.
E o mundo que viu
não era o que imaginou.
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo.
Fuga
Fugirei dos seus braços
Ao perceber que, diante do gatilho,
Estou completamente perdido por você,
Desculpa! Se estiver sendo baixo
Só não quero corromper
As montanhas,
Tenho medo da neblina.
Seja minha ninfa!
Mas quero um pouco
Curtir a vida…
Um dia a farei
Meu universo, minha rainha
Serei seu dia,
Por enquanto
Da paixão serei de você
Uma fuga.
Doce pecado
Nasce uma flor inusitada
Bela delirante
Curvosa…
Seu perfume é um cristal
Vindo das colinas,
Inspira o céu
Transmite-me tranquilidade…
O tempo passa,
Tudo muda,
Ludibrias os meus olhos,
Enlouquece-me,
E me perde
Nas profundezas
Da paixão.
Doce pecado
Que me pega por baixo
E me faz de surpresa,
Sufoca, laça, faz de mim fatias
Deixando-me em pedaços.
Você não beija, você humilha
Todas as bocas que eu beijei na vida
Você não fala, você recita
Faz um bom dia virar poesia
Menino!
Amar é para os tolos
Que amam como o vento
Ao bater numa flor
Há num peito um calor
Naquele menino
Um sorriso bonito
Num mundo de dor
Várias almas perdidas
Sofridas,amargas e feridas
A procura de amor
E uma vida com cor
E nessa vida paralela
Aquele menino
Encontra o amor
NOSSAS MÃOS
As tuas mãos tão belas, tão formosas.
As tuas mãos afeitas aos carinhos.
As minhas mãos tão feias, tão nervosas.
As minhas mãos expostas aos espinhos.
As tuas mãos me tocam por piedade.
As minhas mãos te afagam, mas com medo.
As tuas mãos são mãos pra eternidade.
As minhas mãos são mãos de morrer cedo.
As tuas mãos nas minhas, que contraste!
Mas se não fossem elas, que desastre,
nem sei das minhas mãos o que seria!
Por isso às tuas mãos eu agradeço
o carinho que eu sei que não mereço
e que em outras mãos não acharia!
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