Poemas Vinicius de Moraes Patria minha
A única herança que alguns filhos carregam dos seus pais são as marcas de luta e superação, mas também as feridas emocionais e patologias que precisam ser cuidadas e superadas.
Conversar exige coragem: enfrentar feridas, expor dores e esperar o inesperado — e, mesmo assim, continuar amando enquanto as palavras pesam, porque o vínculo vale mais que o conflito.
Ricos vivem a extravagância sem medo e sem censura; pobres sabem que uma semana de luxúria pode custar anos de amarguras.
A moral é preocupação burguesa para afirmar-se perante o outro, diferente da realeza que nasce rica e reconhecida.
Por acreditar em outras possibilidades de estar no mundo, de se comunicar com ele, com seus habitantes e em formas outras que estes cotidianamente se utilizam para comunicar seus desejos e os conhecimentos que lhes tocam, que podem não caber nos ditames do que se considera hegemonicamente como ciência, mas que continuam vivas nesse mundo, compartilho mais uma vez da opção do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Por isso gosto tanto de me contar”.
Esquecemos ou fingimos esquecer que abandonar o que nos faz sofrer não garante autoimunidade e nem impede que voltemos a lidar com os reveses de outrora, que se atualizam e se intensificam, apesar da tentativa de impingirmos a nós mesmos uma pretensa amnésia salvadora.
Às vezes, o desejo insistente de olhar e ir para frente, para um Norte invisível, parece ser uma metáfora do medo que temos em perder aquilo que chamamos de orientação; o que, no entanto, não nos poupa dos infortúnios e agruras da caminhada.
Mas qual futuro, uma vez que o seu caráter tênue em relação ao presente – o instante seguinte já vê pelo retrovisor os outros que lhe antecederam – soa como mais uma dessas ficções discursivas que nos ajudam em nossa obsessiva pretensão de ordenação daquilo que nos parece caótico e incontrolável?
Buscamos um outro que nos sirva sem demora, nos entenda sem censura e esteja à disposição toda hora.
O neoliberalismo domina a subjetividade com algoritmos, transformando o sujeito em mercadoria — sem presença, sem alteridade, sem empatia.
Quem sempre concorda com nossos gostos, crenças e palavras — sem tensão, confronto ou presença — não escuta: induz, seduz e reproduz.
O outro é ponte e ruptura, não mera confirmação; no encontro e na diferença nasce o desejo e a renovação.
