Poemas que dizem sobre Contos de Fadas
Hoje me lembrei de você
E do quanto me faz falta
Das nossas brincadeiras enquanto crianças
E das histórias que contava
Agora minha vida é como um conto perdido
Uma página amassada
De um livro outrora belo
Mas que agora já está velho e usado
A alegria de acordar todas as manhãs
Te ver sorrindo e gargalhando
Ter a sensação de que estava te fazendo bem
Agora não passo de um conto perdido
Uma velha folha de carvalho que cai no outono
Seria a vida apenas uma parte da jornada?
A vontade de te encontrar é imensurável
Onde você está agora?
Sou apenas um conto perdido
Uma fábula que entristece o coração
Uma plantação com pragas
Ah, como eu queria te ter por perto
Desde quando partiu, minha vida já não é a mesma
Como te alcançarei agora?
Com quem vou disputar o melhor dos desafios?
Me sinto como um conto perdido
Há muito esquecido pelo tempo
E que as pessoas jamais poderão ler novamente
Sinto saudade das fogueiras e dos chás quentes
Das diversas aventuras percorridas pelo bosque
Dos machucados
Das dores
Da pescaria no velho rio, no verão
É como se eu fosse um conto perdido
E minh'alma já não se aquece mais
Apenas espero que um dia o destino se lembre de nós
E que a morte me acolha
Para que eu possa olhar o brilho dos seus olhos novamente
Como se fossem contos perdidos pela vida
Contos encontrados novamente
Contos que podem ser compartilhados à todos
Contos a mim e a você.
O incrível Homem de Pedra
Era uma vez,não é a melhor maneira de começar uma historia,mas começo assim pois tem veia de historia que vô conta...Em algum lugar desse mundo extenso havia uma montanha como uma forma estranha,certo dia um jovem desbravador e seu experiente avô se deparam com ela,mas que depressa o jovem perguntou:
- Vovô o senhor que conhece todas historias, sabe de tudo um pouco, mas não toda verdade, sabe o porque da forma estranha dessa montanha?
Logo o senhor atentou e e disse:
- Claro que sei,bonita historia,se não me falhar a memória ela toda lhe contarei:
Havia um grande homem de rocha,de aparência horrenda,seu corpo não fazia sentido,inexplicável era sua vida ou sentido dela,vagava,caminhava,uma vez ou outra alguém lhe atacava,mas nada surtia efeito,era inquebrável,indestrutível,imparável!!!
Meio sem querer se tornou protetor da floresta que habitava, as criaturas mais fracas e indefesas,que já não temiam os predadores, pois a tudo aquele homem pedra amedrontava,na havia aquele que lhe enfrentasse,desafiasse,não sentia dor,e aparentemente nada...
Certo dia um homem de carne,de caráter questionável e inteligência peculiar,resolveu a observar tudo a distancia como se comportava a grotesca criatura de pedra.A rocha humana,amava a natureza,se alegrava com o cantar dos pássaros,com o saltitar dos cervos,fazia sons parecidos com risos a observar as brincadeiras dos esquilos,contemplava o céu,e sabia o nome de cada arvore do local,sabia que as flores,perfumavam o ar e anunciavam a chegada de muitos frutos...Ao ver tudo isso logo o homem de carne constatou:
-Ele sente!Ele sente!Alegra se e ama...Inquebrável,indestrutível,imparável,porem não inabalável!Aos outros necessito informar.
Certa noite,Homem de Pedra,observava e cantava para as estrelas,o som era oco parecia o eco da caverna,mas de certa forma havia harmonia,melodia e paz!Quando repentinamente ouviu um grito:
-Me ajude!Me ajude vamos todos queimar!
Era o grande acre da ponta sul,mais que depressa se pois a correr,foi quando o pinheiro da ponta norte também gritou:
-Estou em chamas,ajude me homem de rocha!
Pobre homem de Pedra,quando se situou aos quatro cantos estava cercado,só havia fogo,cedros,jatobás,eucaliptos,andirobas,bananeiras,arvores mangueiras,ypes,pobres salgueiros todos estalando com o fogo,toda beleza natural se esvaindo,todos frutos se perdendo...Ouviu todo mundo em tua volta gritar,gritavam em agonia,tudo aquilo que conhecia,tudo aquilo que lhe dava alegria estava perdendo a vida,ao nascer do dia estava cercado de cinzas.
Então o homem ao nascer do dia,aquele homem de carne de inteligência peculiar,viu que nem em tudo havia conseguido pensar e começou a esbravejar:
-Que droga,maldita vida!Não restou nada aqui,somente cinzas!Os pássaros voaram, os cervos correram, a água esta suja, e não há o que colher,e nem pelo visto não há sementes,e por aqui nada parecer mais poder nascer,só restou aquele horrendo Homem de Pedra,que não quebra,que não queima,que fique só sem tua natureza,es o que merece,pela raiva,e por toda afronta que nos fez,onde esta a natureza e toda vida que tanto queria proteger?
Assim o homem de carne partiu junto com os demais, sem remorso ou ao menos olhar pra traz!
Estava só,aquele homem de rocha que não se quebrava,que nada o destruía,ou lhe parava,se colocou sob os teus pés e olhou a tua volta,mais não havia vida em tua volta,so cinzas e coisas mortas,olhou pro céu e esbravejou,aquele som estridente,assustador,não tinha paz,era so agonia,dor...aos poucos foi ficando triste,e mais triste,foi se encurvando,pois cabeça entre as pernas não quis mais ver,nem ouvir,nunca mais sentir,so queria ser nada,ser ninguém,chorava,e chorava e ninguém escutava,ninguém lhe via,ninguém se importava...era o que pensava.
Porem de todas as belezas naturais, lhe sobrava mais imensa e intocável, O Céu. E o Céu ouviu teus prantos, o Céu se comoveu e chorou, sem parar por um longo tempo,estrondou mil vezes,para que o homem de Pedra olhasse para ele,para que se levantasse,para que se reerguesse,e observasse a tua volta,pois as lágrimas do Céu haviam trago vida nova,muito mais vida que em outrora...Mas toda aquela fortaleza de rocha,se curvou,se perdeu,desistiu de lutar e o mundo seguiu,ele parou,muitas coisas lhe amontoaram e ele se perdeu!
Meu neto essa é historia do Horrendo homem de Pedra que tinha sentimentos e amava a natureza,que era indestrutível,imparável,Inquebrável,sua existência inexplicável!
Mesmo assim deixou que amontoassem pequenas pedras em tua volta,sob si ate o ponto de não conseguir mais sair e nem se distinguir, o que era ele e que eram as pedras a tua volta,e com o tempo foram tantas pedras que se formou essa frondosa montanha...De todas maravilhas que o Homem de Pedra poderia contemplar,infelizmente na viu a mais maravilhosa,O Milagre Das Lágrimas do Céu.
Olhei para o lado e meu neto,havia dormido,ninguém quer ouvir historias de um velho afinal.
23 de outubro.
Era um dia tranquilo, é calmo como outro. Ele sentado em uma mesa e ela numa outra. Ela então olha para ele, ele sem o menor pudor, olha para ela. Queria o destino pregar uma peça neles, ela com a iniciativa jamais vista por ele, lhe pergunta-“Eu acho que eu te conheço de algum lugar”. Ele sem graça responde pode ser que seja de algum lugar. Após esse momento rápido como um relâmpago, ele sem graça pela beleza dessa moça, volta aos seus afazeres. Sem graça pela tamanha beleza da garota. Não obstante, ela no seu local continua com a sua rotina. Ele com um conflito interno decide pegar o telefone dela. Ela no bom tom e simpatia cede aos encantos e ao humor dele. Após uma breve conversa, ele na ânsia de se tonar o centro da história da vida dela acaba por mentir. Mentira que no primeiro momento parecia ser quase uma verdade, pois outrora ele já tinha vivido isso na sua infância. Ela rir, é o tempo passa rápido como se fosse um trem. Ambos, se despedem. Mau ele sabia que isso iria mudar tudo. Com o tempo, ele sem graça por tudo que tinha acontecido, não manda mensagem e fala com ela, mesmo que no coração o desejo adia como um fogo no meio da palha. Por fim, trouxe o destino um tempo longe, é ele cada vez mais se apaixonava pela a moça que outrora tinha conhecido. Ela continuava com a sua vida. Passado o tempo, eles mau se via. Até que um dia ele decide tomar a iniciativa e conta toda a verdade. Até que: Ele descobre que ela tinha um relacionamento. Ele sem graça, se afasta e para tentar esquecer tudo, se envolve com uma mulher mais velha e experiente, daquelas mulheres sofridas que ao longo da vida vai adquirindo experiências e mais experiências. Um dia ele conta a verdade para essa mulher, que sabendo que ele não a amava. Destrói todos os seus sonhos. Ele desconte da vida. Se afasta de tudo e de todos. Até que um dia, daqueles em que só o destino prega, ele a ver, deslumbrante como sempre. Porém, acompanhada, ele em uma bicicleta quase caí. Mas, sabia que se caísse, seria porque a teria visto, ele sem saber o que fazer, apenas a olha, como se fosse a última vez que a teria visto, ela com aquele olhar penetrante, olhava como se quisesse dizer algo. Por fim, os dois se distanciam. Passado o tempo, ele ainda pensando naquilo, se envolve com outras meninas. E cada vez mais e mais, arrumando encrenca para sua cabeça. Pois, sempre perguntado. Ele respondia: “Eu gosto de outra menina”. Elas sempre furiosas, e com a devida razão. O machucava. Passado o tempo, lá vai o destino fazerem se encontrar novamente. Dessa vez, em um ambiente se luz, ela toda singela, diz:” Oi” e ele complementarmente sem jeito é travado. Não consegui responder.Ele por dentro e com vergonha de não poder ter correspondido, se destrói por tudo que aconteceu. E depois disso, passa o dias. Até que vai chegando as férias, é num local que outra eles tinham se conhecido. Lá estava ela, toda produzida como uma deusa. Daquelas, que o roterista de cinema fazem. E ele sem graça, ao vê-la e ela toda tímida ao encontrá-lo. Como num filme, ou melhor como numa novela eles sem veem. Ele com os seus amigos sem graças. Ele maravilhosa no recinto. Naquela noite o dia parecia o apocalipse, onde anjos e demônios guerreavam por causa dos dois. De um lado, a vida passando como se fosse o juízo final. E na mente dele. Como se todos os seus pecados tivesse vindo á tona. E ela toda feliz pelo seu momento. De um lado, o céu é o inferno se desafiando. Do outro, uma deusa no recinto toda deslumbrante. Ele perdido no meio da guerra como se tudo não passasse de um teste. Observava ela como se tivesse na frente da mais linda flor do mundo. Ele enfatizado e ela deslumbrante como rosa. Naquele dia o mundo tinha parado. O universo não fazia mais sentido e tudo que ele poderia fazer é ir até ela. Mas, o mais que ele conseguiu foi dizer: “Você está muito bonita”. O dia acabou e eles seguiram cada um para o seu canto. Ele decepcionado por não ter encontrado mais ela. Resolve, ir para um local distante de tudo e todos. Lá ele encontraria a paz que ele buscava. Mas, quis o destino que eles se encontrassem. Na mistura de sentimentos e desejo ele tenta marca um encontro. Mas, o destino ri da cara deles. Dessa vez deu tudo errado. Frustado! Ele tenta de tudo para encontrar e sempre alguma coisa acontecia. Até que ele retorna para sua antiga vida, frustrado e lembrando dela. Passado os dias, quis o destino que eles se reencontrassem, mais sempre algo ocorria, é ele começa a sofrer com os seus pecados, na mistura de sentimentos, de paixão, traição, dúvidas. Pois, como pode? Dizia ele. Na ânsia para se igualar ela, ele entra numa aventura. Pois, para ele, ele só poderia te ela. Se ele chegasse no mais alto que o homem pode ter em uma classe social. E começa uma peleja, ele inteligente e lerdo, elabora um plano, que dê certo modo é muito bom. Mas, quis o destino pregar mais uma peça e ele cai em um golpe. Se saber o que fazer é perdido, ele…
Foi assim:
Lá do alto da galha de minha árvore favorita eu assistia minha própria vida.
Eu ainda pequenina ,tão franzina, tinha os pés voltados para as incertezas do tempo.
Como éramos traquinas,quanto éramos pensantes e quantos sonhos em mim habitava.
minha mãe mantinha aquela casa sorrindo,eram momentos mágicos... o esmero com que ela cuidava daquele lugar o fazia um palácio de valor inestimável.
As cores tão foscas e embasadas desenhavam na paisagem um gradro em tom pastel e aquilo fazia aquele cenário brincar com minha imaginação que não tinha noção da dificuldade que atravessavamos. Era bom, eu tinha sonhos e seguia quem também os tinha.
Do alto de nossas vidas enxergavamos um filme,era o maior curta metragem já visto porque passava muito rápido .
Era tudo lindo, tudo era muito bonito e havia simplicidade naqueles momentos tão fáceis ,ainda, de serem vividos.
Quão pequenina minha casa era e tão imenso era aquele amor ali existente, porque ali no assoalho de estrume,no barro, no telhado colonial escondia tamanha felicidade que não recebíamos visitas por falta de espaço; a casa estava sempre cheia. Eu, menino de asas, assistia a vida passar de cima de minha árvore de jacarandá, ainda sem saber voar, sem saber que iria estocar saudades, sem saber que rumo tomar.
“LEMBRANÇAS DA FAZENDA”
Hoje me lembrei da serra onde eu nasci,
Fez lembrar das histórias das visagens,
Causos a causos detalhados dos mais velhos,
Recordando desses contos que ouvia, me perdi;
Eita Dona “Matinta Pereira” mãe mata que mora ali,
Era uma tal de assombração que leva as crianças;
Sem piedade, raptadas de suas casas,
Só Deus sabe quão grande foi o medo que senti;
Não recebia gente em casa à noite, nem se podia partir,
A noite a mata era assombração para todo lado,
Cobra grande, boto d´água, saci Pererê,
O maior dentre eles era o gigante Mapinguari;
Eu pensava: Deus me livre se tudo isso se reunir?
Um sarau na floresta dos seres lendários apavorantes,
Festejando e assombrando as noites tão brilhantes,
Imaginando, coitado de povo que mora ali;
Mas no cantar do galo via a luz do sol surgir,
À medida que o dia clareava,
O desespero assim passava,
Sentindo o cheiro do que café que ia sair;
As galinhas chegando na varanda daqui,
É um corre-corre pra todo lado,
O galo que não cria os pintos vem apressado,
Para comer da quirela esparramada bem ali;
Incrível essas lendas, de dia não existiam por ali,
Só sobrava tempo para trabalhar o dia todo,
Planta, colhe, arranca, corta e roça o mato
Na cidade a comida não é melhor do a daqui;
Todo dia eu oro ao Pai do Céu grato a pedir,
Senhor meu Deus fui homem do campo,
Na cidade hoje tiro o meu sustento, mas eu ainda sonho,
Viver feliz do jeito matuto, como lá, na fazenda onde eu nasci!
Deutes Rocha Oliveira, 10-11-2021
Já faz alguns dias que a brisa que entra pela fresta da janela deixa a casa toda gelada. As vezes não é brisa, é ventania. Em alguns momentos o vento vem tão forte que consegue abrir todas as caixas que estavam lacradas no sótão da minha memória.
Na maioria das vezes eu fecho tudo correndo pra não deixar o vento bagunçar a casa que eu levei tanto tempo pra arrumar. Confesso que outras vezes aproveito pra espiar as lembranças que ficam espalhadas pelo chão.
Enquanto tento organizar tudo de novo, me permito sentir o frio que preenche todo o ambiente, mas me protejo enrolada no cobertor e fecho as janelas na tentativa de me privar de mais um vendaval gelado.
Fecho com fita reforçada cada caixa que foi aberta. Faço um chá quentinho, me acolho no sofá e fico esperando o dia seguinte sem tentar adivinhar a previsão do tempo.
Vai que amanhã, no lugar da brisa gelada, entra o sol trazendo luz e calor pelo vão que eu deixei aberto. Se assim for, vou abrir todas as janelas e agradecer pelos dias frios, que me ensinaram que as estações não duram pra sempre, mas que se nossa mente é nosso lar, a gente precisa deixar nossa casa aconchegante para enfrentar qualquer temperatura, né?!
Sem perceber eu já havia começado a separar tudo o que gostaria de levar na viagem. Fui me desfazendo aos poucos do que não caberia na bagagem. Deixei com certas pessoas coisas preciosas. Guardei com cuidado retalhos de algumas histórias. Foi difícil jogar fora tudo que não me cabia mais. Escondi no fundo da mala algumas lembranças que não ocupavam mais tanto espaço. Embrulhei com cuidado todos os cheiros, sabores e sensações que eu já tive. Deixei a mala de mão vazia, pronta para colher novas lembranças ao longo do caminho.
Conforme vou seguindo sem mapa, aprendo a contemplar cada passo que dou, cada tropeço, cada experiência e cada um que passa por mim. Quanto mais longe eu vou, menos pressa eu tenho de chegar no destino. O desequilíbrio de andar sempre com mais perguntas do que respostas, não me incomoda.
Vez ou outra eu paro, respiro, deixo alguns pensamentos antigos no meio do caminho para seguir com a bagagem mais leve, escolho uma nova estrada e recomeço. Não sei ao certo quando essa viagem vai ter fim, mas me contento em saber que sou eu que escolho a rota, a companhia e o peso que levo comigo durante todo o trajeto.
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(Do bloco de notas pra cá. Coisa muito rara de acontecer, mas hoje deu vontade)
O nó que você desfez de nós
Tão rápido como quando se amarrou em mim, antes que eu pudesse perceber, você afrouxou o laço e desfez o nó.
Não me deu tempo para te ensinar um jeito novo de amarrar. Você alegou que aquele nó, que você mesmo fez, te sufocava.
O erro foi desfazer o nó de nós, quando na verdade, deveria ter desfeito o nó da garganta.
A corda ficava na verdade, no pescoço. Nas palavras não ditas, engolidas a seco.
Mas a opção foi sua. Deixou a corda na garganta e desfez o nó da pele, da mente, do coração.
O nó de nós não existe mais.
Não existe.
Não há mais laço que nos mantenha presos um ao outro. Não há nó que sangre a pele.
Tão rápido como quando o pai ensina o filho a amarrar os sapatos de um jeito firme, o filho puxa o cadarço com uma única mão e desfaz o laço que criou.
O laço que você me ensinou a fazer. O nó que você desfez de nós.
Sinopse CHADQ:
"Como você se sente em relação ao covid-19? Quais as dores, medos e inseguranças que isso
gerou na sua vida e no seu dia a dia? Nas “Contrônicas: Histórias Amorfas de Quarentena” o
herói, ou melhor os heróis e heroínas, somos todos nós, pessoas comuns, na nossa luta diária
pra vencer os desafios que essa pandemia que chegou sem avisar trouxe. As Contrônicas são
histórias que independem uma da outra e que buscam, de alguma forma, retratar o cotidiano
das pessoas nesse momento difícil que todos estamos vivendo. Desde jovens trancados em
casa sem ter o que fazer, passando por donas de casa idosas fofoqueiras, a ida ao
supermercado que se torna um desafio, o medo, os sonhos, a criatividade do brasileiro, uma
youtuber dando dicas, um cachorro que incomoda os vizinhos mas também desperta
curiosidade, a falta que, de alguma forma, todos sentimos, de algo ou de alguém e a
solidariedade que aflora nas pessoas, apesar de tudo, a esperança e uma luz no fim do túnel." Contrônicas: Histórias Amorfas de Quarentena (CHADQ)
SE EU PUDESSE
Se eu pudesse
Se me fosse permitido
Subiria lá no alto
Em busca de minha ilusão
Se eu pudesse
Se eu pudesse mudar
Andaria em ruas novas
De mãos dadas com seu olhar
Ah mas se eu pudesse
Se eu pudesse sentir meu sangue ferver
Se coragem tivesse
Ousaria viver
E sem medo do mundo
Tiraria do meu coração fundo
Todo amor que urge
Pela vontade que surge
Ah se eu pudesse...
Se coragem eu tivesse...
Quero viver sozinha
Quero que vais embora
Não quero forjar meu viver
Semente de flor que devora
Quero seguir em frente
Quero a solidao namorar
Quero me casar com o acaso
Quero amante virar
Quero o perdão lhe doar
Pois impossível se tornou
Deu-me razão para partir
E outros corpos querer
Quero a vontade explorar
E meu desejo impolgar
Quero em vento livre voar
E nunca mais me casar
Quero a felicidade
Quero a irresponsabilidade
Quero um vestido de festa
Quero dançar sem idade
Quero voltar o que era
Quero viver minha vida
Quero igual homem pensar
Voltar a namorar
E nunca mais me machucar.
Lupaganini
A casa das memórias
(Victor Bhering Drummond)
A velha casa ainda estava lá.
Preservando memórias, mistérios
E provocando medos.
Eram só retratos na parede
Pinturas e rabiscos na alma
Incapazes de fazer mal a nenhuma
Criatura sequer.
Abri a porta, senti o cheiro das coisas guardadas.
Sentei no sofá; voltei nos anos
E encontrei a festa do dia do batizado
Sendo celebrada novamente
Nas sala do meu coração.
(Outono no Sul - Registros de uma Casa Velha, 2017)
Imaginei vc dormindo agora e pensei o quão eu gostaria de estar ao teu lado te observando...
Tirando teu cabelo dos teus olhos, da tua boca, ver suas reações de sonhos, dormindo.
Imaginei o que sonhas agora?
Será que é com um reino, ou com um jardim encantado? Ou que está comigo, num passeio prazeroso a tarde...
Ah minha felicidade, como penso em ti...
Será que está dormindo com teu dedo na boca agora? Como me disse que faz?
Como amaria ver isso! Tiraria uma foto só pra ver sempre que quisesse, (mais fácil que te obrigar fingir dormir com dedo na boca).
Será que agora está agasalhada? Queria te cobrir do frio da madrugada, queria te acordar de algum pesadelo, te dar um beijo no rosto e explicar que é só um sonho ruim, te abraçar e te por pra dormir assim, enrolada em mim.
Ah minha doce imaginei você dormindo agora, e não sei quem está sonhando, se é você dormindo ou se eu acordada.
Aconteceu repentinamente!
Estava pensando em como as coisas podem acontecer sem a gente menos esperar.
Te vi pela primeira vez na cantina, estava conversando com minhas amigas e você passou.
Estilo espojado, cabelo de lado, tênis cano médio e pra completar com um violão encapado, eu juro que não, mas minha amiga falou que quase quebrei o pescoço olhando pra você, sério tipo o exorcista, eu discordo da parte do exorcista, mas eu sei, olhei pra você...
Passou um tempo, não mais te vi, e por questões de estudo tive que ir no horário da manhã pra faculdade.
Vou para o ponto do ônibus com minha cara de sono e de chata, pois acordar em plenas 4:50 da manhã me tira seriamente do sério, e quando entro nele dou de cara com você. Fingi que não era ninguém, até porque nem te conheço, mas vez ou outra te olhava fixamente, nem sabia direito o por quê, pois não nos conheciamos e se me visse te olhando ficaria com receio. É tipo quase um psicopata fingido, pronto para atacar!
Mas dai chegamos e descobri que você estuda horário inverso, tudo bem não faz mal, afinal em nem sou ninguém pra você.
Desci do ônibus com minha cara de sono e de chata e fui estudar.
Não mais fui horário inverso, não mais te vi, até que num certo dia, mais precisamente ontem, estava sentada em frente minha faculdade, na calçada fria, com minhas amiguinhas, tirando "as selfie de todo dia" e você apareceu.
Com um skate nos pés meio que querendo andar, meio que fazendo manobrinhas.
Quase cai o queixo, não que fosse por você estar andando de skate ou fazendo manobrinhas, mas porque depois desse tempo todo me dei conta do porque que te olhava tanto.
Era o teu sorriso, era a curvatura dele que se abria e formava duas covinhas, uma de cada lado. Covinhas que eu agora sei que tinha vontade de beijar calmamente, incessantemente! Ta, que ainda tenho vontade de beijar, e o pior foi que estava rindo de alguma graça que uma amiga minha fez, me desculpa não lembrar o que era, mas esqueci de tudo em minha volta, pois eu estava rindo dela e você riu de volta pra mim, você riu simples assim pra mim, ai me derreti, fiquei sem jeito, fingi que não era comigo e voltei a atenção a minhas amigas.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi procurar por você no face, sei lá mesmo sem saber o nome, por algum amigo em comum ou não, e depois de um tempo te encontrei.
Agora to perdidinha, primeiro, por não mandar convite porque você pode nem vir a aceitar, segundo por não esquecer o seu sorisso que ficou aceso em mim e quando quero recordar de forma mais vivida o observo perfeitamente na tua foto de perfil da rede social.
Sonhos aposentados (parte 01)
Seu marido havia morrido, nem sabia quando, em que dia,
de que jeito, simplesmente morrera, sem anúncio fúnebre, sem
santinho em branco e preto, morreu sem dores, anestesiado, acima
dos lamentos.
Agora ele vivia de alma emprestada.
Deus sabe de quem, esperando sei lá o quê, talvez secar
esfarelar, virar húmus, voltar a terra.
Quis ressuscitá-lo à vida, abriu as janelas que deram vista às
montanhas ondulando, pés de café para que ele percebesse o ciclo
da vida, mas quando chegava cerrava todas as ventarolas com frio,
muito frio.
À noite, deitava com as mãos geladas, cruzadas sobre o peito,
era seu único movimento, e de madrugada exalava de sua boca um
hálito esquisito de fundo de baú, cheirando a curtume.
Agora, esposa tinha certeza, ele havia morrido mesmo.
Ele levantava, dizia exatamente a mesma coisa, vestia as
mesmas roupas, os mesmos sapatos, as mesmas meias. Caminhava
pelo mesmo corredor ao trabalho, dia a dia, cumprimentava as
mesmas pessoas com as mesmas faces doentias, os mesmos assuntos
e recortava e dizia as mesmas palavras. Não acrescentava, não
diminuía, era linear, hermético, impermeável, morno, quase frio,
pois ainda não estava completamente morto.
Sua face endurecera, não esboçava nada, nenhuma estação,
era dura como porcelana. Seus cabelos caíram e ralearam, a pele
ficou manchada de pintas que mais pareciam pequenas necroses.
Passou a ficar pálido, leite, quase transparente, às vezes
custava a perceber sua presença translúcida.
A casa também começou a mudar lá dentro; um frio intenso
que toda criação, gato, cachorro, papagaio, passarinho e pensamento só
ficavam e chegavam até a cozinha, onde o fogo a lenha espalhava calor.
Não podia mais amá-lo porque o frio dele cortava-lhe a pele,
e o calor dela derretia seu corpo.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Vestida de palavras
Era uma vez... (e toda vez, nas difusas da imaginação,
começa assim) um quarto, e ele guardava um espelho grande que se agarrava à parede revelando as verdades.
Do lado impertinente e absoluto, descansado sobre a cômoda, um relógio quieto, mas veloz.
Sobre a cama, derramando intensidade, um vestido vermelho
que o tempo do relógio desbotou, mas o espelho mostrava que ele tinha ainda encanto guardado em lembranças.
Hesitante, perambulando pelo quarto, a mulher ia, de um
lado, ao outro, querendo enganar o relógio, fingindo sua aparente angústia ao espelho que apreciava o vestido, e ele se incumbia de carregar sonhos.
Frente ao espelho descortinou sua nudez, sua brancura. Abriu a lateral do criado-mudo e retirou um pote de creme. Espalhou sobre sua pele para acetinar o trincado do tempo a disfarçar e enganar o espelho por minutos naquele dia.
Recolheu o vestido sobre a cama e se cobriu dele. VERMELHO corajoso ajustado em seu corpo, abraçando os parágrafos de suas curvas, sem brigar por espaço.
Olhou para o relógio, o tempo, ele sim, brigava com ela,
apertava sua alma, não a largava nem um minuto sozinha para decidir e refletir.
Enérgicas são as horas, mostram o compasso.
Ela se mirou vestida ao espelho, olhou o pote abandonado sobre a mesa de cabeceira.
Abriu a porta e saiu do seu mundo, pôs na bolsa a sua
fantasia e decidiu acima das horas, dos segundos e minutos e não enganou a si mesma.
Lembrou-se de alguma frase, riu, saboreou, se revestiu dele,
Fernando Pessoa:
“Mas eu não tenho problemas, tenho só mistérios.”
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
O Guardião
Na porta do tempo, todos os dias têm um Soldado que guarda a entrada do Dia e puxa os lençóis da Noite.
Tudo na hora certa, matematicamente de uma precisão exata. Cansado dos anos, das horas de sentinela, o Soldado reclamou ao Crepúsculo da sua solidão.
Queria companhia, o isolamento ecoava cores de espectros. O Crepúsculo argumentou ao Soldado:
– Mas você não está sozinho, tem o Dia, o Sol, as Nuvens, avista as tempestades ao longe. No demais, nunca vai saber com que roupa o Dia vai sair e ainda tem a Noite, que chega elegante, às vezes chora, é dramática, tem broche no peito adornado de brilhantes.
O Soldado reclamou:
– Mas o Dia é desorganizado e bagunçado, às vezes, se veste com manga ou sem manga, simplesmente navega e acontece.
– Mas que prefere – perguntou o Crepúsculo?
– Uma associação, um afeto, disse o Soldado.
O Crepúsculo conversou com o Dia e a Noite, e no consenso, emprestaram uma Estrela no peito do Soldado guardião.
– Mas você, que foi ostentoso e observador, vamos enfeitar seu isolamento com uma Estrela que adornará sua ombreira.
O Dia, o grande negociador, bateu o martelo.
Ficou o Soldado feliz, agora não ficaria só com a Noite, que o fazia conversar permanentemente com a sua solidão; tinha Estrela para apaziguar seu imperativo.
Ficou deslumbrado com sua elegância, aparecia sempre elegante, de pouca conversa, não discordava, somente piscava, deixava passar. Estrela dormia muito durante o dia. Conversava incessantemente com a Lua, amiga íntima.
O Soldado, cada vez mais apaixonado, se esquecera do combinado. Passou a decretar mesa posta na hora perfeita, jantares perfumados e fumegantes para saciar seu desejo.
Estrela se queixou dos afazeres para a Constelação.
O Dia, enamorado de longa data por Estrela viu a batalha anunciada. O Corpo Astral deliberou sobre a palavra “emprestar” e se concluiu que era ceder.
Na disputa, os aspectos, os Ares advogados, concluíram que ceder podia ser renunciar ou abdicar.
E virou guerra, o Soldado armado, o Dia almejando vingança.
Na ocasião do duelo Estrela partiu, a oportunidade marchou com apetite de retaliação.
O Dia estava com fome
comeu toda a Noite
mas sobrou a Lua
que ao correr do Dia
foi devorada
A Noite queria se vingar
comeu todo o Dia
fez a Escuridão aparecer
Combateram.
No mais restaram poucos amigos, cada um no seu tempo ajuizado. Do Soldado sobrou um apagão sentimental e uma sina, uma Estrela Rutilada decorando lembranças em seu uniforme para sempre, dos tempos largados em ação.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Miseráveis
E a vida passa lenta como uma procissão lagarteando à margem da vida, cheia de mulheres adornadas de preto vestidas de morte, viúvas da felicidade .
Agarradas ao terço como se fossem lembranças perdidas, murmurando frases inaudíveis, confusas numa convocação de um encontro logrado no tempo de amar.
Choram as dezenas de anos como mistérios não revelados perfurados pelo tempo.
Todos os dias são Quarta-Feira de Trevas perseguidas por homens encapuzados, carregando “seu Cristo” ferido no andor intermitente a vida inteira.
Não olham para as calçadas da existência, são o extermínio querendo chegar de costas e surpreender a infelicidade.
Algumas nunca saem da procissão, do cortejo escuro atrás de sentimentos que somente sangram.
Adoradoras do infortúnio e da miséria.
Choram sangue e caminham com a indigência, desconhecem “O Deus da Felicidade e da Fortuna”.
Não rezam, lamentam.
Jamais convocam, murmuram frases.
Não confiam, esperam acontecer.
Sempre com receio; em atrição. Deslembradas da contrição.
Nem doce,nem amargo
Na cozinha, as notícias chegavam mais depressa ao fogo ameno. As criadas afagavam, pajeavam uma geração e fraseavam o inominável. Lembro-me de suas mãos quentes alisando minhas meias e eu sonolenta, bagunçando os cabelos em cachos nas almofadas do sofá da sala de minha avó. Elas me sacudiam e diziam:
– Se não ficar inteira para a missa, não tem doce de cidra nem novela
à noite.
As missas eram sonolentas e as pessoas vestidas do “primeiro dia da semana” se espreguiçavam em minha mente até ao almoço.
Era um dia morno, não havia novelas e a circunferência dos doces era vigiada e eu me frustrava com a falta das babás.
Verdadeiramente, não precisava delas, mas elas me bendiziam de suas falas e eu, como elas queria decifrar esse desejo.
E elas sabiam das promessas, do artifício, da magia de como chegar ao altar.
E sabiam muito mais, do veneno, da nudez debaixo dos lençóis bordados com capricho em ponto cheio.
Ninguém conversava sobre “isso” e, quando perguntava, tinha resposta certa:
– Já é hora de você dormir!
Na minha imaginação nada repousava, ficava na fantasia, esta geografia indecifrável e a língua solta de minha bisavó.
– Minha filha o “it” fica debaixo das saias.
Eu levantava as minhas, debaixo as anáguas e barbatanas e achava tudo tão incrédulo.
Acordava, e a novidade do dia: não entendia como, mas a vizinha havia “pulado a cerca”. Havia um falatório metafórico na cozinha não percebia onde estava o “cerco” onde só existiam muretas.
O “it”, o charme, o magnetismo, o encanto pessoal ainda são um mistério que abrocha do ser repentinamente.
Ferver, pular, ainda pode ser afetuoso e cítrico como doce de cidra. E o descrente ainda perdura nos amores alambrados.
Livro: Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Lagarteando
“Casei
Engrandeci
Achei que era eu
Dona de meu nariz
Agora
Senhora
Dona das minhas horas
Só eu não sabia
Que neste ensejo
Era outro fruto”
Aprontei-me, modifiquei o tom de voz para cara metade, dona do
mundo, de mim, dos outros em meu caminho.
Acima dos conselhos, arrastando outro sobrenome que nunca residiu em meu nome e escolhi:
– Qual carne, senhora!? Filé, contrafilé, alcatra, coxão-mole?
Pensando: ”coxão-mole jamais, nunca...”
– Que é isto aqui?
– Lagarto senhora.
– Tá bonito. Quanto pesa?
– Dois quilos.
– Pode cortar em bifes de um dedo de espessura (cara-metade gostava).
Pronto, dei ordem, criei coragem. E o pior, ele obedeceu,vendeu e eu comprei a idiotice.
Aprontei a mesa, taças com haste longas, toalhas de linho, porcelanas dos antepassados, purê de batatas com queijo roquefort à luz de velas.
Frigideira ao fogo, azeite espanhol para fritar e os bifes de lagarto, com um dedo de espessura enrolaram como orelhas.
Comemos só purê com vinho tinto, culpei o açougueiro e o cachorro passou bem.
As velas derreteram, me envolvi no calor de apaixonar.
Minha sogra não viu, e nesse andamento, não revirou meu lixo. Sucesso apaixonado e estendi minha receita com proveito.
E o dia alvoreceu em paz.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
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