Poemas para um filho que morreu

Equipe editorial do Pensador
Equipe editorial do Pensador
Criado e revisado pelos nossos editores

A falta que um filho faz

Sentindo a sua falta, sem saber onde está.
Meu coração sangra, por não conseguir mais chorar.
Volta, filho, volta,
Pois minha esperança é voltar a te abraçar.

⁠PERDER UM FILHO, UM ANJO

É chorar em silêncio, chorar secretamente
É morder o travesseiro todas as noites
É morder os dias para continuar
Onde o mundo simplesmente desabou
Porque as palavras não se ouvem
E o grito é mudo de dor
Hoje o meu filho partiu sem o ter conhecido
O batimento cardíaco parou é só silêncio
Quero parar de chorar mas não consigo
Não há resposta para as nossas perguntas
Será que a culpa é minha?
Culpei-me muitas vezes!
As lágrimas escorrem da minha face, não consigo parar
Ó Deus ajuda-me preciso tanto de ti
Eu não pude ver os seus olhos
Mas pude escutar a sua linda alma
O seu pequeno coração dentro da minha barriga
Meu querido filho tão amado e esperado
Estava silencioso no meu ventre
O luto fez com que a minha solidão
E o meu isolamento aumentasse
Senti-me perdida, triste, sozinha, revoltada
Eu já tinha passado por isso anteriormente
Só me lembrava da minha mãe
Como eu queria que ela estivesse ao meu lado
Não há mulher mais forte do que aquela
Que teve que devolver o seu filho ao céu
Eu sou mãe de um anjo

De todos os abraços, eu só queria o seu abraço
De todos os cheiros, eu só queria o seu cheiro
De todos os pedidos, eu só queria um:
Você de volta.

Filho

Queria ter te conhecido.
Para me despedir sonolento,
te ver dormir,
te acordar com um beijo;

Queria ter te conhecido.
Pra ver um pé na frente do outro,
te ver levantar
te fazer feliz;

Queria ter te conhecido.
Pra te regar todos os dias
segurar sua mão assustada
te achar só meu;

Queria ter te amado.
Ser imagem, som e gosto
Ser seu porto e seu herói
Ser um só.

⁠Soneto para Ayronn

Ayronn, meu filho amado
vim aqui te visitar
A saudade bateu forte
que não pude controlar
neste local está seu corpo,
mas sua alma está com DEUS.

Hoje me encontro perdido,
nem sei se quero me encontrar
A realidade fere a alma,
e desta dor quero afastar...

O vazio tomou conta da casa,
é um pro canto, outro pro outro
os momentos de nossa interação
nos perseguem dia após dia...
Filho lindo, descanse em paz,
até que um dia irei te encontrar
então iremos nos abraçar eternamente.

Luto materno

Juventudes são roubadas
E os dias ficam tristes
Mães são abandonadas
É um fim que persiste

A vida sofre por não existir
O amor não tem significado algum
A violência invade até banir
A piedade não vem de jeito nenhum

A saudade vem em forma de improviso
E não basta o medo aliviar
As lágrimas chegam sem dar aviso
É preciso ser vivo pra chorar

O mundo leva sua prole embora
E seu dia fica sem cor
A dor ocupa toda a hora
Enquanto a ausência mata o amor

Fotos e lembranças abraçam seu corpo
Enchem o coração carente
Perder um filho não há conforto
Seu mundo se torna ausente

Se ela pudesse, o mal derrotaria
Pois o branco não veste a paz
Se ela pudesse, sua cria protegeria
E sua perda esquecerá jamais

SAUDADE

De vez em quando eu penso em ti
então minha voz se cala
meu corpo estremece
e meu coração bate desesperadamente...
uma lágrima se atira a esmo no espaço
e meus olhos se perdem no infinito.

De vez em quando eu te sinto
acariciando o meu rosto
balançando a cabeça, teus cabelos roçando o vento
tua voz acariciando meu ser
de vez em quando eu te encontro
perdida em meus passos
indomável diante dos meus braços
distante do meu sentimento.

De vez em quando eu penso em ti
como uma andorinha que se foi
como um raio que se apagou
ou uma luz que se perdeu no mar
de vez em quando eu te pressinto
tão perto e tão longe
tão perto que nem posso te alcançar
tão longe que não consigo te esquecer.

De vez em quando eu choro
e não consigo conter minha dor
por não poder te ter
por não poder te amar
por não suportar a força que tem
o rastro de uma felicidade
de vez em quando eu te tenho junto a mim,
pois és no meu amargor
a chama de uma saudade

Soneto

Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos. 2 fevereiro 1911.

Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,

Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante,
A minha morfogênese ancestral?!

Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!...

Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteísticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!

Augusto dos Anjos ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Só deixarei de ter amar quando
O véu da morte cobrir minha face,
Mesmo assim nascerá em minha sepultura
Uma rosa em cujas pétalas,
De sangue, estará escrito: Amo você!

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade , "Farewell". Rio de Janeiro: Editora Record, 1996.