Poemas para Pessoas que Já Morreram
Tornamo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos realmente.
Desde então, porém, eu havia mudado tanto, quem sabe agora já estava pronta para o verdadeiro era uma vez!
Só agora sei que eu já tinha tudo, embora do modo contrário: eu me dedicava a cada detalhe do não. Detalhadamente não sendo, eu me provava que – que eu era.
Talvez já esteja mais do que acidentada para ainda ter que enfrentar essa dor na carne, de verdade, sem ser apenas uma metáfora.
Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para a frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato favorito de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.
Resistimos, aos trancos, já nem sei se foi escolha ou solavanco. Difícil arrancar uma certa lucidez disso tudo.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Nota: Trecho da crônica Por não estarem distraídos.
...MaisEu já quis tantas coisas. Fiz tantas outras. Dizem que a gente não deve se arrepender do que fez, só do que não fez. Mas eu não conheço nenhuma pessoa que nunca tenha se arrependido de ter feito ou dito algo. Eu já me arrependi, sim. E muito. E tive a coragem de tentar acertar as coisas. Nem sempre sei o que fazer, mas sei reconhecer um erro. Aprendi a pedir desculpas e acho isso bonito. É importante a gente conseguir olhar para dentro e fazer uma análise crua de quem somos.
Já me não entendo com essa gente dos comboios suburbanos; esses homens que homens se julgam e que, no entanto, como as formigas, estão reduzidos, por uma pressão que não sentem, aos hábitos que lhes criam.
“… São 7 horas da manhã, vejo Cristo da janela, o sol já apagou sua luz e o povo lá embaixo espera, nas filas dos pontos de ônibus, procurando aonde ir… São todos seus cicerones, correm pra não desistir, dos seus salários de fome, é a esperança que eles tem, neste filme como extras, todos querem se dar bem… Num trem pras estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas… Num trem pras estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas… Estranho o teu Cristo, Rio, que olha tão longe, além, com os braços sempre abertos, mas sem proteger ninguém, eu vou forrar as paredes, do meu quarto de miséria, com manchetes de jornal, pra ver que não é nada sério, eu vou dar o meu desprezo, pra você que me ensinou, que a tristeza é uma maneira, da gente se salvar depois… Num trem pras estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas… Num trem pras estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas…”
Já que não tenho coragem de assumir minha loucura, queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse ‘’ei, você se expõe demais’’ e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar porque eu sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole na frigideira.
Seu desespero vinha de que não sabia sequer por onde e pelo que começar. Só sabia que já começara uma coisa nova e nunca mais poderia voltar à sua dimensão antiga.
E sabia também que devia começar modestamente, para não se desencorajar. E sabia que devia abandonar para sempre a estrada principal. E entrar pelo seu verdadeiro caminho que eram os atalhos estreitos.
Tem gente que só de passar em nossas vidas já nos faz um bem enorme. Tem gente que é assim, perfumada em ações, que tem carinho no olhar e amor no coração. Gente que nos enche de sorrisos, gente alegre que partilha com a vida o sabor que ela tem.
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.
Só eu sei que já cheguei à humildade máxima que um ser humano pode atingir: confessar a outro ser humano que dele precisa para existir. Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.
Já que tenho de salvar o dia de amanhã, já que tenho que ter uma forma porque não sinto força de ficar desorganizada, já que fatalmente precisarei enquadrar a monstruosa carne infinita e cortá-la em pedaços assimiláveis pelo tamanho de minha boca e pelo tamanho da visão de meus olhos, já que fatalmente sucumbirei à necessidade de forma que vem de meu pavor de ficar delimitada – então que pelo menos eu tenha a coragem de deixar que essa forma se forme sozinha como uma crosta que por si mesma endurece, a nebulosa de fogo que se esfria em terra. E que eu tenha a grande coragem de resistir à tentação de inventar uma forma.
Não compreendo o que vi. E nem mesmo sei se vi, já que meus olhos terminaram não se diferenciando da coisa vista. Só por um inesperado tremor de linhas, só por uma anomalia na continuidade ininterrupta de minha civilização, é que por um átimo experimentei a vivificadora morte. A fina morte que me fez manusear o proibido tecido da vida.
É proibido dizer o nome da vida. E eu quase o disse. Quase não me pude desembaraçar de seu tecido, o que seria a destruição dentro de mim de minha época.
Então o quê? Nem eu sei. Mas sei da minha enxaqueca que já dura uma semana. Latejando sem parar. O coração que subiu nos meus ouvidos. Gritando que sente falta e pronto.
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