Poemas de Marguerite Yourcenar

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Me destes tanto de ti nas pequenas coisas que me sinto quase no direito de esperar tua compreensão nas grande.

Cada vez que sofremos, somos levados a acreditar que a dor presente é a dor maior.

O sofrimentos nos torna egoístas, pois nos absorve inteiramente. Só mais tarde, sob forma de saudade, é que o próprio sofrimentos nos ensina a sermos compassivos.

Apesar de todo o cuidado que possamos tomar, é extremamente difícil evitarmos o sofrimento que causamos.

A paixão exige gritos; o amor, porém satisfaz-se com palavras, enquanto a simpatia pode ser silenciosa.

Tudo o que te peço (a única coisa que te posso pedir ainda) é não saltar uma só destas linhas tão difíceis de serem escritas. Se é árduo viver, o é muito mais explicarmos a nossa própria vida

Há uma espécie de satisfação em saber que somos pobres, que somos sós e que ninguém, absolutamente ninguém, se preocupa conosco.

Jamais estamos inteiramente sós, pois desgraçadamente estamos sempre em nossa própria companhia.

A repulsa é uma das formas de obsessão e que, se desejamos alguma coisa, é mais fácil pensar nela com horror do que deixar de pensar.

Não me vanglorio de ter amado. Sei, sei demais quão pouco duráveis são as emoções, por mais que vivas que sejam ou que tenham sido, para pretender obter de seres perecíveis e inexoravelmente compromissados com a morte um sentimento que se pretende imortal. Tudo que nos comove no outro não lhe é dado senão pela vida. A alma envelhece como a carne e é, mesmo para os melhores de nós, apenas o desabrochar de uma estação, um milagre efêmero como a própria mocidade.

Ela acreditava no meu futuro. Se algum dia desejei a glória foi por saber que isso a faria feliz.
A medida que vão desaparecendo aqueles a quem amamos, diminuem nossas razões para conquistarmos uma felicidade que não poderemos fruir juntos.

No momento em que decidimos renegar todos os princípios, é conveniente que conservemos, no mínimo, os escrúpulos.

Não creias que eu aprove os poetas por evitarem os termos exatos. Eles não conhecem senão os seus sonhos. É certo que exite muito de verdade nos sonhos dos poetas, mas o sonhos não são a vida. A vida é algo mais que a poesia, e é algo mais que a fisiologia, e até mesmo mais que a moral em que por tanto tempo acreditei. Ela é tudo isso e muito mais ainda: ela é a vida. É nosso único bem e nossa única maldição.

O passado é infinitamente mais estável do que o presente. Em consequência os seus efeitos são muito maiores.

As outras pessoas vêm a nossa presença, os nossos gestos, a maneira pela qual as palavras se formam nos nossos lábios, mas somente nós vemos a nossa vida.

À medida que tombam, uma após a outra, nossas ilusões e nossas crenças, conhecemos melhor nosso verdadeiro eu.

Podemos comandar algumas vezes nossos atos. Comandamos um pouco menos nossos pensamentos, e não comandamos absolutamente nossos sonhos.

Meu temperamento mudou: tornei-me caprichoso, difícil e irritável. Parecia-me que uma única virtude me dispensava de todas as outras. Odiava-te por não conseguires proporcionar-me a calma com a qual havia contado e que não pedia, embora fosse o que mais desejava obter.

Não me agrada escrever. Muitas vezes foi dito que as palavras traem o pensamento. Mas a mim me parece que as palavras escritas o traem muito mais.

Correr, mesmo no mais curto percurso, ser-me-ia hoje tão impossível quanto para a pesada estátua de um César de pedra.