Poemas de Ternura
'LIVROS'
Tenho livros trancados no quarto,
na sombra dos porta-retratos.
Em caixas escuras,
vagando nas ruas,
estrelas sem brilho,
perdido em armários...
Empoados pelo tempo,
a couraça das capas pouco se vê.
Eclodidos,
com meios-escritos.
Engavetados na ânsia de aplausos.
Inaproveitável nos seus mais belos sentidos...
Folheados pelas traças.
Folhas soltas lapidadas.
Sem interlocutores,
ou apercebidos.
Muitos extravios,
como a vida inesperada...
'SOLO'
Levanto o olhar e não avisto as frondosas árvores de outrora.
Apenas máquinas e homens subalternos.
Traçando suas trilhas sob o solo que os sustentam.
Dementes por destruição.
Com suas minas e pás causando tragédia,
catástrofes do homem ambição...
Sopeado por milhares de pessoas,
o cheiro da terra é infértil.
Estampando ser capazes de escolhas,
mas na verdade são apenas traços,
criados por uma cultura inventada e uma Terra transformada,
latente...
Um homem distorcido tenta se formar na tentativa que o equilíbrio retorne,
generoso como antes,
pré-histórico.
Porém,
no asfalto,
esboços brotam calor,
igual a um pedaço do inferno,
que fecunda a cada geração.
O solo já não é o mesmo,
respiramos evolução,
e o bordão são ciclos modificados,
mal arados,
sem deuses para proteção...
Fui teu…
(Nilo Ribeiro)
Fui teu,
como a luz pro dia,
a Julieta pro Romeu,
o verso pra poesia
fui poesia,
fui verso,
fui dia,
fui universo
fui romance,
fui senhor,
mesmo que não te alcance,
fui amor
fui ponte,
para passar a água,
fui fonte,
para purificar tua mágoa
fui mar,
fui montanha,
fui altar,
fui entranha
fui santo,
fui pecador,
fui encanto,
fui amor
fui ferida,
fui cura,
fui vida,
fui ternura
fui sincero,
fui guardião,
fui eterno,
fui paixão
fui negro,
fui cor,
mesmo no meu degredo
fui amor
fui tudo,
hoje sou outro,
hoje sou mudo,
hoje sou louco…
'ESPERA'
Mãos cruzadas e o olhar breve não vira a noite passageira,
desnorteada.
Ainda respiro a escrivaninha que não perdura.
Olhos intrigam as paixões que rodeiam.
Sou grito,
aflição.
Melodia sem compasso,
noites sem luar...
Mergulho expectativas sombrias,
avulsas.
Permuto passos que conspiram a ação do tempo.
Abraço palavras duradouras,
persistentes.
Tenho excelência pelo azul da aurora.
Relógios que não andam,
aguardos...
Tudo passa tão velozmente.
O coração imóvel ainda pulsa tua espera,
solidão.
Sou criança nas circunstâncias do tempo.
Respiro sequelas.
Murmuro abraços.
Dilacero interrupções,
proteção...
por Risomar Silva.
'BARCO'
Mundo sem continentes,
Fumaças de verbos.
O barco veleja sem linha de chegada.
Ventos sopram abrigos inexistentes,
Embriagando direções,
Satirizando lágrimas,
Velas chamuscadas...
Navegações sob escombros,
Tempo cerrado.
Razão devastada no entardecer.
À procura de tantos mares,
Terras submersas.
Sem tempo presente,
Sentidos microscópicos...
E o barco navega perpetuamente,
Sempre desvairado.
Levando os poucos homens solventes,
Sem almas,
Já cansados.
Á procura de abraços,
Uma ilha qualquer...
'SER PROFESSOR'
Ser professor,
é ser gigante.
Daqueles mirantes que veem o por do sol no infinito.
Força descomunal nos mares escaldantes.
Ensaios vários nos quadrângulos.
Investigador da essência dos homens.
Transformador de mundos...
Ser professor,
é ser explorador de mananciais a serem moldados.
Indagador das naturezas.
Na dor,
é um excepcional 'super humano'.
Com suas dormências,
melancolias...
Ser professor é ter passos largos,
talvez limitados.
Mas sempre em movimentos.
Poço de boas ações rigorosas e flamejantes.
Sorriso no rosto,
trabalho árduo,
Plantando vidas futuras...
'PAIXÃO'
Quando noites viram alvoradas,
e os dias crepúsculos.
Trilhas encontram-se sem planos,
corações colidem acelerados.
A harmonia da felicidade escorre pela face.
Reciprocidade no primeiro encontro,
nada forçado...
Quando os olhos discursam uma língua a dois.
E a vontade do abraço denota alimento.
Suspiros transformam-se delirantemente.
São paixões criando novos casulos,
sementes.
É a tortura dos enamorados à flor da pele,
sedentos na ausência do outro,
inseguros nos passos...
A paixão cria hifens,
ansiedades.
Terras inexploradas.
Mãos amparadas,
incessantes por juras de amor.
É a imaginação flutuando nos corações até então desconhecidos,
criando trama de futuros já traçados.
Quem sabe vidas,
novos escritos...
Tempo Propício
Todo ser deseja um amor.Um carinho,um afeto,um afago,uma paixão avassaladora,Um amor sereno que chega com ou sem medo.Que nasce do desejo(de estar perto,de permanecer perto por todo uma eternidade).
Às vezes chega cedo(desde a infância)às vezes tarde(que não é tarde,pois nunca é tarde pra amar).
Mas quando chega tudo muda,irradia.
Não sou mais uma na janela vendo a vida passar,não sou mais uma que deita numa cama vazia sem ter alguém pra desejar e ouvir UM BOM DIA.Tinha um vazio na alma.Ela buscava incansavelmente você.Não quero dormir,não quero acordar.Quero te olhar,te admirar dormindo,acordando(linda como num sonho que vivo acordada).
Então pra que dormir?Pra que acordar?Se é necessário viver cada segundo a te admirar e te amar.
Mas durmo(o corpo pede).
Mas hoje acordo do teu lado e o sonho de uma noite serena,adorável,tranquila,sossegada e apaixonante continua e continuará por toda eternidade.Porque simplesmente encontrei o amor...Tarde(pois queria q fosse cedo,lá na adolescência),mas foi na hora certa, no momento propício.
Onde a minha alma te desejou, te deseja e te desejará...Por toda a minha vida!!!
MIÇANGAS DIVINAS
"Em comprimidos pares de ternuras descascadas
Soei do vento a vista obnubilada por miúdas combustões
Jorradas para vencer a castidade do meu estômago
Sugado por ímpares consternações.
Destemi canduras em ombros embevecidos,
Titubeei por encarnar na vizinha tormenta
Empoçada no sopro acalmado
O escuro descontente que ocultou a empunhadeira dourada,
Que me custou imergentes sevícias.
E ao misto pingo do fígado imolado,
Controlei-me com miçangas divinas
E engavetamentos aportados,
Enquanto meu arco bailado se aliviava
Com imperatrizes bizantinas pelejadas
Em crentes encontros
Com minha estatura afunilada."
CAROLINE PINHEIRO DE MORAES GUTERRES
- Senzala -
Parece que ele tem cabelo de preto, mas é de seda...
Sua pele de breu é luz de estrelas.
Conforta os caminhos que seus pés pisam:
Mar deserto, flores do campo...
Vejo seus olhos brancos acastanhados à paisagem.
Passos longos, passos curtos...a um passo do beijo.
Parece que ele cheira tanto, que fede.
E o suor que pede, exprime poesia.
Se tudo de mim é fantasia, dele é água que escorre.
Mina de corpo, febre, sopro de voz, doçura...
Ele me faz...
Mulher - Fragmento do livro Zeus: homem e trovão
Zombeteira asneira de ser
Mulher serpente
Mulher de dente
Na ânsia de morder...
O mundo redondo eu dobro
Corto a orelha do vendaval
O sinal está aberto...
Do livro Formigas Malucas - de Márcio Silva
De uma folha singela
A formiga montou caravela
Saiu remando no rio como se fosse no mar.
Jurou que atravessaria até a outra margem...
Mas o vento a levou aos céus.
'MAR... '
Nos extensos mares somos barcos naufrágios. As muitas correnteza [des]favoráveis sempre deixam ranhuras. As salinizadas águas com o tempo deixam cicatrizes. A dilaceração é perceptível com o tempo e o tempo é um desastre.
Vedar as fendas que surgem apenas prolonga o que de fato já se escreveu. Deixar o barco correr ou manter-se agitado? Há os que preferem a resistência, a mágoa de tentar subir as correntezas rumo às suas expectativas. Outros apenas flutuam. São levados pelo mar com aparente satisfação e ócio.
Mas sabe-se: todos querem um porto a qualquer valia. Chegar àquela luz que tanto brilha. Manter seguro a estrela que tanto se admira. Uma. Várias. O que vale é a energia. Flutuar sob as águas imensas. Belas. Delirantes. Mas com seus desafetos e sujeiras.
Com o tempo aprende-se a aceitar o extenso mar à nossa frente. Não importa como ele seja. Um dia nos levará para onde não queiramos. A tração que se tem é apenas temporada. Ajuda, mas não é duradouro.
A visão desse mar é fantástico. Inacreditável. Surpreendente. Nele todos movem-se sempre rumo ao desconhecido. E o tempo há de naufragar aquilo que tanto procuramos. Tempo? Não! O mar... essa coisa sombria e nefasta.
'SEIXO'
Quantos se foram e tu ficaste aí intacto. Salvo algumas manchas que ficara com o tempo. Dilacerar-lo-ia se as correntezas tivessem te tomado. Mas encontra-te aí: obsceno. As tantas chuvas que te aclamaram e os milhares de sois que te transgrediram... Que fizeste com eles? No teu dilema és tão sublime e passar despercebido é raridade tua. É imenso nas tuas junções que se colocam.
És vigoroso e reflexo da vitalidade que tanto se deseja. Mas sabe-se [ou fingi-se], temos vida curta. Engana-se que a nossa ruína vem com a morte. Ela está estampada com a vida. Logo ao primeiro choro. A tua falta de cobiça ou arrependimentos te coloca num patamar que jamais se chegará. O ser humano é tão vil nesse 'limitado tempo' que figurar olhar no pequeno é desperdício. Há certo esquecimento em te agraciar. Quando o fazemos, apenas mesmo em devaneio. Limitado nesse curtíssimo espaço [ora às vezes enorme]... sem significados.
'JOSÉ'
José era apenas josé
com escritos negligentes
Mais um incógnito na multidão
josé tinha sonhos, porém, para isso,
teriam que chamar-lhes José
Daqueles com letra destacada
Queria pintar o mundo
Deixá-lo mais estúpido,
mais colorido, mais avesso
Aquela carga impetuosa
deixava-lhes mais josé
Mais no fundo, José era apenas josé
Era assim que todos os enxergavam
O seu colorido era preto e branco
e seus dias insalubres
Óptica pouca diferença fazia
A mistura josé, fazia-lhe um José distinto
Mais José. Com coração. Brilho no olhar
Vencer o mundo para josé seria
apenas chamar-lhe José
Desses escritos com letra destacadas
'FELICIDADE'
Felicidade está no presente.
Há os que dizem:
Serei feliz...
Somos felizes e não sabemos.
A dita Felicidade está aqui.
Com certo olhar insensato.
Ao lado. Nos chamando.
Abraço aconchegante.
Sorriso sincero.
Olhar que nada pede.
'PENSAMENTO SOBRE A VIDA'
A vida é mesmo assim
Com seus melancólicos horrores
Da 'capa' diária das horas
Da soberba enraizada
Das coisas que se demoram
E dos 'eus' que não se apagam
'VENTO'
O vento que tanto nos faz bem deixa rastro
Análogo, coisas boas e ruins passam
Assim como a capacidade se esquiva
O dito amor que não sabemos deixa
Trancada sempre próximo
O que nunca se achou
A verdade e o vento são ventanias
Daquelas que não soubemos explicar
E o vento sempre vem
Já não é o mesmo
Tem outro sentido
Deixa tudo novo
Mais perdido
Sei lá
'INVEJA'
Da infantilização
Da abstinência de dívidas
Dos sem coração
Daqueles que implicitamente
Mandam na vida demente
Dos que choram sem razão
Do âmbito antissocial
Da imunidade absurdo
Do alcoólatra imoral
Dos que são salamurdo
Dos amortecidos
Do fanatismo aparente
Daqueles onipresentes
Dos que são sempre esquecidos
'ITALLO'
Teu abraço incondicional me faz esquecer a hipocrisia que lança-me à frente todos os dias. Para mim, teu olhar tem uma dimensão imensurável. Você é a porção maior dos meus momentos felizes. Já não olho para o que chamamos "futuro". Já o construí. Sou completo mesmo sem saber. Todos objetivos e sonhos me foram realizados, pois a cada janela aberta, olhar sincero e carinho recebido me fazem crer que a existência tem realmente muito de significado e que você é minha imortalidade. Te amarei sempre.