Poemas de Rubem Alves

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"Alma" é o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos. São partes do nosso corpo como as pernas, os braços, o coração. Circulam em nosso sangue, estão misturadas com os nossos músculos. Quando elas aparecem o corpo se comove, ri, chora...

Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e tediosa.

Quantas vezes não re-encontramos alguém por acaso, em uma tarde qualquer, e aquela pessoa nos traz tantas lembranças boas ou uma palavra que nos faz ver tudo de outra maneira.

Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria independentemente do que se faça ou diga.

Toda saudade é uma espécie de velhice. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências.

Rubem Alves
Se eu pudesse viver minha vida novamente. São Paulo: Verus, 2004.

Nota: A primeira frase pertence a Guimarães Rosa, presente na obra "Grande Sertão: Veredas". Rubem Alves credita a frase ao personagem Riobaldo.

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Eu amei esse quadro da primeira vez que o vi. Amei a ideia de um homem solitário em luta contra a morte.

E bem pode ser que as pessoas descubram no fascínio do conhecimento uma boa razão para viver, se elas forem sábias o bastante para isto, e puderem suportar a convivência com o erro, o não saber e, sobretudo, se não morrer nelas o permanente encanto com o mistério do universo.

Toda alma é música que se toca... descobri que posso fazer música com palavras. Assim, toco a minha música.

A linguagem tem a possibilidade de fazer curtos-circuitos em sistemas orgânicos intactos, produzindo úlceras, impotência ou frigidez. Porque são as palavras que carregam consigo as proibições, as exigências e expectativas. E é por isto que o homem não é um organismo mas este complexo lingüístico a que se dá o nome de personalidade.

"Na verdade, o intelecto puro odeia a repetição. Está sempre atrás de novidades. Uma vez de posse de um determinado conhecimento ele não o fica repassando e repassando. “Já sei”, ele diz, e prossegue para coisas diferentes."

Tive uma grande vontade de abraçá-lo, mas fiquei com vergonha. Senti “compaixão”. “Compaixão” quer dizer “sentir com”. Eu senti o que você sentia.

Conhecimento é coisa erótica, que engravida. Mas é preciso que o desejo faça o corpo se mover para o amor. Caso contrário, permanecem os olhos, impotentes e inúteis. Para conhecer é preciso primeiro amar!

Patativa do Assaré
Que homem extraordinário! Leia esse poeminha e você virará um poeta:
“Pra gente aqui ser poeta
Não precisa professor.
Basta vê no mês de maio
Um poema em cada gaio
Um verso em cada fulô”.
(do livro: Ostra feliz não faz pérola)

“Meu encanto precisa da saudade...”

“Era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o que a fazia imensamente feliz. Mas chegava um momento que o pássaro dizia: “Tenho que ir”. A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. “Menina”, disse-lhe o pássaro, “aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou encantado por causa da ausência. É na ausência que a saudade vivi. E a saudade é um perfume que torna encantados todos os que os sentem. Quem tem saudades esta amando. Tenho que partir para que a saudade exista e para que continue a ama-la e você continue a me amar...” E partia.
A menina, sofrendo a dor da saudade maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu em uma gaiola de prata, dizendo: “Agora ele será meu para sempre.” Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não tinha mais estórias para contar. E o amor acabou. Levou um tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria e ela soltou o pássaro que voou para longe.”

Porque a vida é feita de uma mistura de alegrias e tristezas.
Sem as tristezas, as alegrias são máscaras vazias,
e sem as alegrias, as tristezas são abismos escuros.
É por isso que os olhos, lugar dos sorrisos,
são regados por uma fonte de lágrimas.
São as lágrimas que fazem florescer a alegria.

A saudade se parece com a fome.
A fome também é um vazio.
O corpo sabe quando alguma coisa esta faltando.
A fome é a saudade do corpo.
A saudade é a fome da alma.

“Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria: "tempus fugit..."
Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será”...

(em 'Tempus Fugit'. São Paulo: Edições Paulus, 1990.)

“...Quando tudo se aquieta,
e o tempo diz sua passagem
nas cores que se sucedem,
o rosa, o vermelho, o marrom,
o roxo, o negro...
Sabe-se então que o fim chegou.
Pôr-do-sol é metáfora poética,
e se sentimos assim é porque
sua beleza triste mora em nosso
próprio corpo.
Somos seres crepusculares..."

“As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!”

(trecho extraído do livro em PDF: Se eu pudesse viver minha vida novamente)

O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você…” A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta”.

(em “Se Eu Fosse Você”, do livro ‘O Amor Que Ascende a Lua’. Campinas/SP: Papirus, 1999.)