Poemas de Raul Seixas
Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
Quem não tem colírio usa óculos escuros
Quem não tem filé come pão e osso duro
Quem não tem visão bate a cara contra o muro
"Aprende a amar-te profundamente.
Assim quando te julgarem,
Não serás vítima do medo e assim
Poderás entender aqueles que não sabem."
"Se o que você quer em sua vida é só paz;
Muitas doçuras, seu nome em cartaz.
E fica arretado se o açúcar demora.
E você chora, cê reza, cê pede, implora."
"Mamãe já ouve Beatles
Papai já deslumbrou
Com meu cabelo grande
Eu fiquei contra o que eu já sou
Vou fazer o que eu gosto ! Eu vou!"
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal
Sei que é uma bela carreira,
mas não tenho a menor vocação
Se fosse tão bom assim, mainha,
não seria imposição
Lá pras três da madrugada
A síndica embriagada
Resolveu escancarar
Numa briga com o marido
Num acorde sustenido
E o meu piano fora do lugar
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar
"Não adianta, perguntas não valem nada
É sempre a mesma jogada
Um emprego e uma namorada
Quando você crescer."
"Acredite que eu não tenho nada a ver
Com a 'linha evolutiva' da música popular brasileira
A única linha que eu conheço
É a linha de empinar uma bandeira."