Poemas de quem Deu um Fora

As perguntas a que se responde com um sim ou um não raramente são interessantes.

A amizade é um navio suficientemente grande para levar duas pessoas com tempo bom, mas apenas uma com tempo mau.

Um livro é um grande cemitério onde, sobre a maioria dos túmulos, não se podem mais ler os nomes apagados.

Num voo de pombas brancas, um corvo negro junta-lhe um acréscimo de beleza que a candura de um cisne não traria.

Amar é ver-se como um outro ser nos vê, é estar apaixonado pela nossa imagem deformada e sublimada.

É mais fácil para a imaginação compor um inferno com a dor que um paraíso com o prazer.

O orgulho é como um íman apontado constantemente para um objecto; a personalidade; porém, ao contrário do íman - ela não possui polo atractivo - repele em todas as direcções.

Donde pode nascer o amor? Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um ato de vontade.

Nasci velho e rejuvenesço a cada dia. Actualmente sou um jovem de sessenta anos.

Quantos mais motivos de interesse um homem tem, mais ocasiões tem também de ser feliz e menos está à mercê do destino, pois se perder um pode recorrer logo a outro.

Para os problemas de estilo, nada com a corrente; para os problemas de princípios, sê firme como um rochedo.

Há um meio de se conseguir e de se ficar sendo por muito tempo mulher em evidência. Esse meio sempre surtiu efeito: é ser ajuizada com má reputação.

O homem corrupto é um indivíduo fraco que perdeu as qualidades do homem equilibrado e justo.

Ainda bem que chegamos a um paradoxo. Agora, há esperança de conseguirmos algum progresso.

O governo é como um bebê: um canal alimentar com um enorme apetite numa ponta e nenhum senso de responsabilidade na outra.

Orar. Pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um único postulante, que se confessa indigno.

A inveja é um vício mesquinho e sórdido: o vício do condenado que reclama porque o seu companheiro de prisão recebeu uma ração de sopa maior.

O homem que se domina a si mesmo, liberta-se de um poder que o acorrenta, e que escraviza quase todas as pessoas.

Há dois labirintos do espírito humano: um respeita à composição do contínuo, o outro à natureza da liberdade; e ambos têm origem no mesmo infinito.

Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incumum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.