Poemas de primeira vez que te Vir
-Tu as eu tort. Tu auras de la peine. J'aurai l'air d'être mort et ce ne sera pas vrai...
Moi je me taisais.
-Tu comprends. C'est trop loin. Je ne peux pas emporter ce corps-là. C'est trop lourd.
Moi je me taisais.
-Mais ce sera comme une vieille écorce abandonnée. Ce n'est pas triste les vieilles
écorces...
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso dos outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
Da sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
IV
Conclusão a sucata! ... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões Dráticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou ...
Mas nós, nós que compreendemos a vida, nós não ligamos aos números ! Gostaria de ter começado esta história à moda dos contos de fada.
[O Pequeno Principe cáp. IV]
Quando as cinzas da quarta
Se tornarem brancas
Quando as notas das falas
Se tornarem brandas
Eu deixarei que minha voz descanse
Sobre o acorde do silêncio
Mas enquanto as armas estiverem prontas
E os olhares altivos revelarem afrontas
Eu colocarei a minha voz
Sobre o acorde da coragem
E cantarei o sonho de extinguir a guerra
Romper as cercas, libertar a terra
Despejar no mundo cores de aquarela
Preparando a vida pra outra primavera
E cantarei o sonho de colher milagres
E ver romper da terra inúmeros altares
Pra derramar no mundo cores de eucaristia
Que semeia a noite para florescer o dia
Quando a fome dos pobres for só de beleza
Quando a chama da paz já estiver acesa
Eu deixarei que minha voz descanse
Sobre o acorde do silêncio
Mas enquanto as retas estiverem tortas
E a morte insistir em manchar as portas
Eu colocarei a minha voz
Sobre o acorde da coragem
Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Nota: Trecho de poema presente no livro "Poesias de Álvaro de Campos", de Fernando Pessoa (heterônimo Álvaro de Campos).
...MaisMenino chorando na noite
Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumo da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.
Tudo é expressão.
Neste momento, não importa o que eu te diga
Voa de mim como uma incontenção de alma ou como um afago.
Minhas tristezas, minhas alegrias
Meus desejos são teus, toma, leva-os contigo!
És branca, muito branca
E eu sou quase eterno para o teu carinho.
Não quero dizer nem que te adoro
Nem que tanto me esqueço de ti
Quero dizer-te em outras palavras todos os votos de amor jamais sonhados
Alóvena, ebaente
Puríssima, feita para morrer...
DIANTE DAS FOTOS DE EVANDRO TEIXEIRA
A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo, sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.
É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.
Fotografia-é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando,
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.
Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta,
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como exorcizar?
Marcas de enchente e de despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York,
a moça em flor no Jóquei Clube,
Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois que são fotos.
Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo,
viajas, surpreendes, testemunhas
a tormentosa vida do homem
e a esperança de brotar das cinzas.
Há maquinas terrívelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um cachuto aperte um botão,
Paletós abotoam-se por eletricidade,
Amor e faz pelo sem-fio,
Não precisa estômago para digestão (...)
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)
— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.
Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.
Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
[força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.
Mas eu não quero ser senão eterno.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
"vez ou voz"
quando chega minha vez
sussurra a minha voz
vai ser feliz,
fluidez!!!
quando chega a minha vez
fala a minha voz
vai com fé,
altivez!!!
quando chega a minha vez
grita a minha voz
a consciência não deixa,
sensatez!!!
quando chega a minha vez
embarga a minha voz
meu coracao respeita,
avidez!!!
quando chega a minha vez
dispara a minha voz
muito cuidado,
rigidez!!!
quando chega a minha vez
lamenta a minha voz
voce não devia,
mas tente outra vez!!!
quando chega a minha vez
cala a minha voz
minh'alma resplandece,
limpidez!!!
quando chega a minha vez
proclama a minha voz
eu agradeço,
lucidez!!!
quando chega a minha vez
brada a minha voz
voce conseguirá,
cupidez!!!
quando chega a minha vez
conclama a minha voz
seja fiel e leal a voce,
honradez!!!
quando chega a minha vez
entona a minha voz
voce será capaz, não se entregue,
intrepidez!!!
quando chega a minha vez
soa a minha voz
clareza com seus sentimentos,
nitidez!!!
sem ser a minha vez
canto uma canção
vai direto ao coracao
com certa rapidez
então furo a fila,
talvez!!!
uma vez encontradas
as raízes e as asas
você será o centro
das intenções
voe com os pés no chão
batas as asas
do abençoado coração!
toda vez que eu leio, eu sonho
toda vez que eu sonho, eu realizo
toda vez que eu semeio, eu colho
toda vez que eu floreio, eu perfumo
toda vez que eu compreendo, eu evoluo
toda vez que eu olho, eu admiro
toda vez que eu admiro, eu encanto
toda vez que eu me emociono, eu choro
toda vez que eu lembro, eu sinto
toda vez que eu abraço, eu suspiro
toda vez que eu coopero, eu sorrio
toda vez que eu amo, eu beijo
toda vez que eu vivo , eu sangro
toda vez que eu faço prece, eu agradeço
toda vez que eu rogo a Deus
Ele me ajuda!!!
a batalha é árdua
a luta é diária
a guerra é sangrenta
a vida anda cada vez mais violenta
desse jeito ninguém aguenta
tanta discrepância
em todos os sentidos
e alternância de humor
e todos vivem na ânsia
de engolir um ao outro
é rico engolindo pobre
é homem engolindo mulher
é branco engolindo negro
por pura briga de poder
mas nem todo mundo sabe
que seremos todos engolidos
pela nossa própria arrogância
só porque às vezes não temos
quem nos empresta os ouvidos
mas é muito despautério
querer se sentir o máximo
e não estão nem aí
para os mínimos detalhes
é alguém sem importância pra nós
que quer sugar o nosso melhor
e o melhor a fazer é ter tolerância
com o próximo que não nos oferece abrigo
seja no lar ou no coracao
ele não estará conosco
nem na caminhada da vida
e nem na emboscada da morte
e ainda sim não reclamem
somos pessoas de muita sorte
porque temos Deus por nós!!!
por favor
me deixe
onde estou
me deixe
como estou
me deixe
ser quem sou
pelo menos
uma vez na vida
me deixe aqui
ali, acolá
quieta, parada
completamente estática
pensando na vida
ou na morte
tão desvalida
inválida
e que ao chegar
no meu próprio fim
talvez eu tenha
me tornado apática
sem graça
sem viço
sem rumo
sem propósito
deveria ter feito
muito mais do que fiz
amado muito mais
do que realmente amei
deveria ter espalhado
esparramado
lançado tudo ao vento
antes de morrer
só lamento
isso me servirá de tormento
quando o vento passar
por mim outra vez
e varrer todas as folhas
que caíram das árvores
que eu não plantei
nem cuidei
nem reguei
nem adubei
nem frutificaram
e isso vale taqmbém
para as pessoas
que por mim passaram
e de tão cansada
e desalmada
fechei os olhos
e o coracao
fiquei sem emoção
sem comoção
sem reação
pela minha falta de zelo
faltou-me amor, então!!!
existem dias no meu caos
estou à deriva
de mim mesma
um dia de cada vez
uma calma no fim do dia
uma noite de paz!!!
