Poemas de Memória
Quando Matam Um Sem Terra
Quem contar tráz à memória,
sabendo que dor existe,
quando a morte ainda insiste
em calar quem faz a História.
Pois quem morre não tem glória,
nem tampouco desespera.
È um valente na guerra,
tomba em nome da vida.
Da intenção ninguém duvida,
quando matam um Sem Terra.
Foi assim nesta jornada,
quando mataram mais um,
o companheiro Elton Brum,
não teve tempo prá nada.
Numa arma disparada,
o Estado é quem enterra
e uma vida se encerra
em nome da covardia.
Toda a nossa rebeldia,
quando matam um Sem Terra.
È o desatino fardado,
armado até os dentes,
até esquecem que são gente,
quando estão do outro lado.
E vestidos de soldado,
todo o sonho dilacera,
violência prolifera,
tiro certeiro, fatal.
Beiram o irracional,
quando matam um Sem Terra.
Quem és tu torturador,
que tanta dor desatas,
desanimas e maltratas
o humilde plantador?
Negas a classe, traidor,
do povo tudo se gera,
te esqueces deveras,
debaixo de um capacete.
Dá a ordem o Gabinete,
quando matam um Sem Terra.
Em algum lugar da pampa,
Elton deve de estar,
tranquilo no caminhar,
jeito humilde na estampa.
E algum céu se descampa,
coragem se retempera,
outras batalhas se espera,
dois projetos em disputa.
Não se desiste da luta,
quando matam um Sem Terra.
(Para Elton Brum MST/RS, assassinado covardemente pelas costas, em 24.08.09)
Ontem é uma memória
Sua luz desvanecendo nos libertará
Livre destes pensamentos de desespero
O seu fim está chegando rápido
Estamos nos movendo para a frente
Não vamos olhar para trás
Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
Fantasma de branco
Invade minha memória,
faço o que posso
para não deixar-te fugir.
Etérea me escapa
são tantos castelos sombrios,
grades e telas.
E tu passas por entre tudo
feito uma brisa de outono
com seu vestido branco.
Hipnotizando-me em um canto
me dizes: vem
eu respondo:
porque não ficas e permites
que eu apenas a possua.
Mas tu me puxa pela mão
e me conduz à morte
Pensa em mim viu!
Não me esqueça!
Me leve onde vá!
Me carregue na memoria assim como no seu coração.
Que as lembranças quentes de nossa privacidade acendam sua pele.
Que sinta calafrios e arrepios enquanto se acolhe nas sensações que são só nossas.
Quero dividir contigo o mundo em um toque,
a eternidade em um abraço.
O amor verdadeiro em um beijo.
com cerejas enfeitava as orelhas
...sentia-me uma princesa
...tranco o portão da memória,
para não esquecer.
Se no final seremos apenas uma foto, uma filmagem, uma memória…
Então, que seja uma foto, uma filmagem e uma memória de amor, paz e felicidade.
Soneto de Nenhuma Dor
Nenhuma dor dói mais que dor nenhuma,
Nenhuma palavra pode até ser um soneto,
Nenhum sorriso não quer dizer tristeza,
Nenhuma verdade torna o silêncio obsoleto.
Nenhuma dor me traz a solidão,
Nenhuma ausência me faz sentir sozinho,
Tanta paixão me deu nenhum amor,
A solitude amplia meu caminho.
Nenhum ocaso me faz pensar que é tarde,
Nenhuma verdade me faz refém do medo,
Nenhum perdão me ameniza a mágoa.
Nenhuma lembrança é a dor que ainda arde,
Nenhuma saudade tem o gosto azedo,
Nenhuma agrura me arranha a alma.
Aos fortes braços eu corri confiante
Meigo e bondoso, não me recusaste
Bem sei que nas preces eu posso buscar-te
Jamais dessa bênção na vida eu descri
Contudo, é possível que eu dela me afaste
Por isso, Senhor, eu preciso de ti
"És que loucos e doidos se encontram na fila dos corredores,
emparelhados em conflitos, entre surtos e risos,
conversas à beça, onde o choro e os vícios se misturam.
Sempre a tirar piadas,
sinalizando olhares convictos de cismas na troca de pira."
A paixão é um corcel branco alado, todo enfeitado,
arreios dourados...
o amor é um jumentinho cinzento, velho e lento...
Insônia
Silenciosa vem a noite
E no vazio das horas
Tua presença se impõe
Porque eu ainda sonho...
É tudo o que a noite me permite,
E ao contrário do tempo,
Eu tenho os meus limites...
E a noite silenciosa apenas diminui
O que eu pensava vasto,
Deturpa o que eu julgava casto,
E o que eu pensava edificado, rui...
A noite silenciosa habita em mim,
E quando chega a manhã,
A noite continua,
Sem lua, sem estrelas, sem luzes...
A noite sou eu,
Com todas as ausências, todas as ausências...
Poema do olhar vazio
Autor: Tadeu G. Memória
Ainda terei longas noites
Para lembrar-te o olhar
E nos momentos de saudades
Escreverei poemas...
Provavelmente mencionando
Ansiedade de horas intermináveis e vazias
Por desalentos e descontentamento...
Escreverei poemas...
Impróprios, secretos e insanos
Relatando com minúcias
Essa intimidade lasciva e indecente
Escreverei poemas...
Insípidos, amargos, amargurados
Pela solidão e o abandono
Escreverei poemas...
Como um álibi a essa cumplicidade
Insensata e viciosa
Que me aprisiona como refém
De prazeres mórbidos...
Escreverei poemas...
Como uma compulsão
Como se isso detivesse a hemorragia
De desanimo e desencanto
De longas noites de insônia
Que me trazem o teu olhar vazio...
UNIVITELINAS
Uma vinha de “tomara que caia”
Sandálias de dedo,
Flor nos cabelos soltos
E batom de groselha...
A outra vinha numa draga,
Trazia uma adaga, um pé-de-cabra
Vestia calça de cowboy e esporas de prata...
Uma declamava versos,
Sonhava com beijos,
Pensava num sapo que viraria príncipe...
A outra trazia um gargalo,
Cheirava rapé, lambia uma faca,
Bebia cachaça.
Jurava de morte o homem que a importunasse...
Uma corria no campo,
Saltitando num balé romântico,
Sonhava com filhos, imaginava um idílio,
Um homem viril que lhe amasse...
A outra escalava montanhas,
Caçava javalis, cortava lenha, laçava touros,
Amansava cavalos...
Univitelinas, uma era o reflexo da outra,
Idênticas e tão diferentes...
Faço parte da sociedade de consumo sem sumo...
"As pessoas pra mim são como lagos, eu avalio-as pelas suas profundidades..."
"Há um deus crucificado para cada judas que morre enforcado."
Olhe para o céu, preste atenção às estrelas, elas são flores incandescentes
Que demonstram a paixão de um ser divino...
No espelho o reflexo às vezes me assusta
O que riscou tanto o meu rosto?
Ciclo
Nossos poemas se amaram tanto
Nossos poemas se encontravam nas rimas,
nas esquinas
Nossos poemas eram ternos
Nossos poemas juraram amor eterno
Faziam promessas, sentiam saudades,
Ansiavam pelos nossos encontros
nos fins de semanas
Nossos poemas se entregaram tanto
Que diante do campanário da igrejinha
de são Jorge em nova Iguaçu
Sabrina Gorgoroff parecia contemplar
a catedral de são Basílio
Na capital moscovita
Ali nos beijamos pela primeira vez
No corredor que conduzia a sacristia
Nos amamos como possessos sem profanar
o templo
Quando ela me confessou ser espiã da KGB
Nunca estive em moscou,
mas o que não faz a fantasia
As luzes do crepúsculo certamente
refletiriam no teto dourado
E na praça vermelha Sabrina teria o perfil
de uma diva
Nossos poemas se encontrariam ali
Durante a terceira guerra mundial
E nos beijaríamos sem nos importar
com mísseis nucleares
Como nos beijamos sob o devastador
cogumelo sobre Hiroshima
Completando o ciclo da criação e destruição
Que nos inspira a escrever
E reinventar a história do amor..
PASSARINHOS
Os poetas não vão para o céu
Eles perambulam pelas esquinas
Fascinados pelos crepúsculos
Seduzidos pelas meninas
Os poetas cantam enquanto
Espalham sementes que frutificam no inverno
Mas se alimentam de olhares , sorrisos e lagrimas
Realizam-se nas incertezas
Estabilizam-se nas inseguranças
E amam nas ausências
Poeta é todo mundo e ninguém
É um ponto de vista
Sem ponto e sem vista
Poetas se transformam em e árvores
Ou encarnam animais de estimação
Para sentir o contato
Para ficar com aquele perfume
Que lhe encanta
Poeta não ama apenas, ele ama amar
Poetas não vão para o céu
Para o purgatório ou para o inferno
Eles transitam por esses lugares
Durante as paixões... até que Deus os chamem
E eles se transformam em passarinhos...
ATÉ QUE AMANHEÇA
Embrulho a vida,
Momentos doces e amargos,
Lembranças pesadas ou leves passagens,
A suavidade de um beijo
Ou agruras quaisquer na viela do esquecimento
Empacoto o presente...
Ou os mais íntimos toques
Que eu não consigo reprimir
E vigio...
Vigio a melancolia didática,
Toda aspereza da mais simplória estrofe
Que eu escondo no fundo do arquivo
Contudo arranha-me a sensibilidade...
Vigio fantasmas que me empurram da escada
Ou penduram cordas nos caibros
Como um sinistro convite
Vigio a porta, que um forte vento teima em abrir
A campainha que nunca toca...
O telefone que nunca chama
Para confidencias durante a madrugada
Vigio a Remington num esquisito toque-toque
Como um estranho soneto de um enredo obsoleto...
O gotejar incessante de alguma torneira
No mais profundo silencio
Ou passos pelas dependências da minha ânsia
Vigio pilhas de livros sobre a minha ignorância
Vultos atrás da cortina
Sussurros no hall superior
E uma gargalhada estridente, efeito de aguardente
Que vem do corredor...
Vigio a madrugada com seus enigmas
Que conduz o seu perfil ao meu subconsciente
E me transporta a este estado de tensão e medo...
Até que amanheça e me autopsiem...
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