Poemas de Fernando Pessoa -Salazar
O mistério em que envolvemos os nossos desígnios revela muitas vezes mais fraqueza do que discrição, e com frequência prejudica-nos mais.
Quando um pensamento é fraco demais para vestir uma expressão simples, isso é o sinal para rejeitá-lo.
Os homens enganam-se miseravelmente quando esperam encontrar a sua felicidade, mais na forma dos seus governos que na reforma dos seus costumes.
O que há de melhor nos grandes empregos é a perspectiva ou a fachada com que tanta gente se embeleza.
O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.
Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós mesmos.
Os bons presumem sempre bem dos outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.
A maior parte dos males e misérias dos homens provêm, não da falta de liberdade, mas do seu abuso e demasia.
A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.
É verdade que, por vezes, os militares, exagerando da impotência relativa da inteligência, descuram servir-se dela.
A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua omnipotência muscular.
Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.
