Poemas de Fernando Pessoa -Salazar

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Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projécteis pela força do engenho e dos talentos.

Afinal de contas, atribui-se preço bem alto às suas conjecturas quando se cozinha um homem vivo por causa delas.

Não haverá, entre um espírito que abarrota de invenções alheias e outro que inventa por si próprio, a mesma diferença que vai de um recipiente que se enche de água à fonte que a fornece?

O amor começa pelo amor; não se pode passar de uma forte amizade senão para um amor fraco.

A virtude é coisa deveras inútil e frívola, caso apenas tenha a recomendá-la a glória.

Os homens, tão enfadonhos quando se trata das manobras da ambição, são atraentes ao agirem por uma grande causa..

Um político de gênio, quando se encontra à frente dos negócios públicos, deve trabalhar para não se tornar indispensável.

Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.

Os ricos pretendem não se admirar com nada, e reconhecem, à primeira vista, numa obra bela o defeito que os dispensará da admiração, um sentimento vulgar.

O nosso espírito é essencialmente livre, mas o nosso corpo torna-o frequentes vezes escravo.

A longo prazo uma profissão é como o matrimônio; apenas se sentem os inconvenientes.

Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.

É mais fácil ser-se amante que marido, pela simples razão de que é mais difícil ter espírito todos os dias do que dizer coisas bonitas de quando em quando.

O governo é como toda as coisas deste mundo: para o conservarmos temos de o amar.

O interior das famílias é muitas vezes perturbado por desconfianças, ciúmes e antipatias, e enganam-nos as aparências de satisfação, calma e cordialidade, fazendo-nos supor uma paz que não existe; poucas há que ganham em ser aprofundadas.

Em qualquer magistratura, é indispensável compensar a grandeza do poder pela brevidade da duração.

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.

A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua omnipotência muscular.

A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.

É verdade que, por vezes, os militares, exagerando da impotência relativa da inteligência, descuram servir-se dela.