Poemas de Erico Verissimo 1910 a 9

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⁠pouso a mão exausta
na circunscrição do objecto
demorado no meu tempo
chamo-lhe qualquer coisa
circunciso-lhe a consistência
porque não há segredos
no universo exacto
a memória não é exacta
os pés da terra são
terríveis hastes moles
árvore que se dança
é tudo quanto basta.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "a mão exacta")

Inserida por PoesiaPRM

⁠multiplicam-se sombras
ténue pestilência
sigilo absoluto
infestam mudas
o chão
a parede
o tecto
e a alma
à luz da noite
brotam
impetuosas
precipitando a diáspora
do corpo humano.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "infestação")

Inserida por PoesiaPRM

⁠no silêncio metamórfico das rochas
irrompendo do solo como um trovão
o tímido ladrar canino da alcateia
constitui o único vestígio humano
abandono absoluto no tempo presente.
homens íngremes de outrora ergueram
na imponente altura dos mistérios
cruzes dispersas como faróis acesos
liturgia imóvel dos mil cataventos
apontando ao destino o seu caminho.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "aldeia dos cães")

Inserida por PoesiaPRM

⁠de que vale o consolo humano da lágrima
trespassando a carne viva do coração
se são os meus horrendos e gigantes pés
ágeis pincéis que sangram no céu escarlate?

(Pedro Rodrigues de Menezes, "inutilidade da lágrima")

Inserida por PoesiaPRM

⁠nunca o meu corpo abstracto
na sua infinita aritmética
encontrou a geometria da mão
que o elevasse ao quadrado
multiplicador da sua raiz.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "obtusidade no corpo")

Inserida por PoesiaPRM

⁠o parco roçagar da frondosa giesta
acesa pelo vento como um chicote
acelera em mim a lúcida consciência
de que as árvores, procurando o solo,
regressam ao útero que as gerou
por isso também eu caminho pleno
um homem plano sobre outro plano
uma luz, um astro cego, um abismo
desenhando um círculo com palavras
no misterioso alfabeto da criação
vou enchendo a boca de terra
vou abraçando a morte iminente
porque tudo em mim é imediato
o grito, o eco e o súbito silêncio.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "cabo de gata")

Inserida por PoesiaPRM

⁠uma crisálida indecifrável
que respirasse
na perpendicularidade
das minhas pálpebras
como uma força
vibrante e extraordinária
a desenhar as novas veias
fartas e cálidas
do dogma
filosofia ou religião
paradoxais
um paradoxo forte
imbatível e irrefutável
que fizesse esvoaçar
a inércia do verão
que é na memória póstuma
dos outros
o solstício
permanentemente sombrio
uma silhueta contendo
os risos verdes
lá atrás
onde os braços descansam
nus
no imponente esquecimento
do mundo.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "crisálida indecifrável")

Inserida por PoesiaPRM

⁠monja de salto-agulha
encontra o teu destino
imola-te na laça poeira
do celeste e laço doce
uno absorvente e único
das infinitas cadências
porque virão galáxias
e cometas invisíveis
velar a mulher densa
untada do encarnado
quente e magmático
resplandecente corpo
onde a mulher morta
dá lugar ao vaticínio
há mil anos escrito
no sangue e no fogo
o universo ressurge
enquanto a deusa nasce
da kundalínica nébula
que os povos adorarão.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "monja de salto-agulha")

Poema dedicado a Sheila

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⁠mês de julho
dia vinte e dois
farias sessenta anos
mais os quatro decorridos
sobre o ano que adormeceste
a palavra pai é como um balão aceso
sobre a imprecisão contígua da boca cerrada
só a prejuízo a poderei pronunciar com a leveza certa
porque arde e não sei quando se fará noite dentro de mim.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "vinte e dois de julho")

Inserida por PoesiaPRM

⁠quero a poesia alta e superior
a que se eleve acima do corpo
capaz de transcender a lucidez
como se o sonho da montanha
fosse mais importante e nobre
que a própria subida à montanha
uma poesia que não obedeça
ao circadiano ritmo dos homens
uma poesia portanto sem o ritmo
perpendicular da língua no céu
cheio de uma tonalidade viva
que não seja o azul celeste
quero a poesia que incapacite
os homens ásperos da terra
incapazes da vigília letárgica
de um astro que os queime.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "um cometa chamado poesia")

Inserida por PoesiaPRM

⁠pai
não tenho memórias
desde que mostraram
a mortalha coerciva
cercando o teu corpo

pai
ouvia dizeres “é a fingir”
eu ria e dizia “é a fingir”

por isso todos acreditaram
que a minha extravagância
era um produto da loucura

pai
como se na aritmética
da vida que continua
e do tempo que passa
coubesse alguma lógica.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "aritmética do luto")

Inserida por PoesiaPRM

⁠procurando a poesia
terrestre e concreta
observam as mães
as mãos do poeta
cada vez mais fundas
cada vez menos visíveis.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "as mãos do poeta")

Inserida por PoesiaPRM

⁠se eu fechar os olhos
pelo instante breve
talvez o instante perdure
porque a escuridão é
uma luz por instruir.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "a instrução da luz")

Inserida por PoesiaPRM

⁠uma flecha que anoitecesse no tempo
lugar, pedaço de terra, erva ou árvore
uma flecha que resistisse implacável
à biologia de uma meia volta de Úrano

sem a subtracção de uma soma
este lugar contém o mesmo
azul celeste sem ser galáctico
poalha invisível sem ser cósmico

é este o lugar onde renascem
os primeiros homens órfãos
do destino sem distinguirem
a mortalidade do seu tempo

densos e altos e firmes poentes
ave, voo pleno ou plano boreal
desvelam frondosos sobre a água
o misticismo das sereias mudas

ninguém as vê plantando os peixes
ninguém as vê caminhando sobre o céu
ninguém as vê contando as pedras
e os peixes voam no céu como pedras.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "os peixes voam no céu como pedras")

Inserida por PoesiaPRM

⁠nas asas cegas
a traça sonda

sobre a luz da vela

a misteriosa beleza
o lúgubre destino

a sua morte inesperada.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "nas asas cegas")

Inserida por PoesiaPRM

⁠ancestral aranha que mascaras
balaustradas, capitólios e olimpos

sigiloso movimento trespassando
o invisível lugar de visível vazio

aroma metálico ou apurado gume
na distracção sonora do sono

afinal, de quantos rituais e cantos
ou milenares hecatombes aladas
se fazem as arestas criminosas
onde jazem brancas e indefesas
as mil e uma esvoaçantes criaturas
que encontraram na sedutora luz
o seu destino ébrio de inocência?

(Pedro Rodrigues de Menezes, "ancestral sibila")

Inserida por PoesiaPRM

⁠é olhando para todas as mães
com as suas vaginas derrotadas
e os ventres espiando a cicatriz
que me adormecem os olhos
perante a mão cega e grotesca
somos incapazes de vir ao mundo
sem ensanguentar o mundo inteiro
sem arrancar dormitando ainda
sendo ainda esse sonho por gerar
pedaços vivos da carne e do sonho
criaturas invariantes e futuras
condenações a estourar hediondez.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "hediondez maternal")

Inserida por PoesiaPRM

⁠o corpo pairando
suspenso nu
fantasma sem cor
com forma de fantasma
candura obliterada
interrupção incomum
cadáver assombroso
terra inclinada na chuva
um poeta sobre uma poça
milenar
o sangue coagulando todo
vertical

a veia míope tocando o
horizonte

a vírgula expansiva da sua artéria
cavernosa

os pés, uma chaga infernal do
caminho

as mãos, um claustro negro de
silêncio

o poeta salta
o poeta corre
o poeta também ri
mas o poeta está morto.

(Pedro Rodrigues de Menezes, "o poeta, o poema e o fantasma")

Inserida por PoesiaPRM

⁠Você sabe o que a resiliência do nosso corpo nos ensina?

Ensina que,tudo que pode ser deformado pode voltar à forma original,e mesmo que fique uma cicatriz, essa marca indica que o processo foi demorado,nos lembrando de que o pior já passou!

Inserida por DavidBezerradeMelo


É ledo engano pensar que uma
mentira dita repetidas vezes,possa
se tornar verdadeira, porque na
essência da mentira está o engano.⁠

Inserida por ubaldo_santos

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