Poemas de Amizade Ruben Alves
Se queres ficar, fique.
Não serei eu, a quem irei lhe pedir.
Se queres partir, parta.
Não serei eu, a quem irei lhe impedir.
Sinto amor por tí, não nego.
Mas nada se compara ao amor,
que eu sinto por mim.
Há anos olho-me no espelho
e não consigo mais me reconhecer.
Porque me deixei ficar assim?
Eu era tão formosa e tão viva,
Com uma imensa luz própria,
Luz que irradiava por onde passava,
E tocava a todos que chegassem perto.
Porque me deixei ficar assim?
Sem vontade de viver, sem interesse
de amar e me amar.
Olho-me no espelho e sucessivamente
Pergunto-me, onde foi que me perdi?
Porque me deixei ficar assim?
E ao colocar meus pés na água do mar,
já não sou mais eu, adulto anestesiado,
mentalmente cansado, não sou mais.
Sou uma criança,
Uma típica criança feliz à brincar,
chuto as ondas, corro, mergulho,
boio, pulo, caio e até me arranho,
Planto bananeira para sentir
o vento nos pés.
Visto-me de algas/almas marinhas
e prossigo a dançar.
Transformo-me em peixe, sereia, tritão,
Tento abraçar infinitamente,
toda vastidão desse belo mar.
"Uma lagarta vira borboleta, um velho transforma-se em criança... O tempo completa o seu ciclo, volta aos começos. Assim é o tempo da alma, um carrossel, girando, voltando sempre ao início, o “eterno retorno”. T. S. Eliot estava certo quando disse que “o fim de todas as nossas explorações será chegar ao lugar de onde partimos e o conhecer, então, pela primeira vez”.
(em “O retorno e terno”. 8ª ed., Campinas/SP: Papirus-Speculum, 1996, p. 158.)
"A vida me ensinou que a realidade é como uma piada e que não existe nada mais inútil que nossas projeções futurológicas: o final é sempre inesperado”...
( em "Na companhia de Rubem Alves: livro de anotações para mulheres”. Editora Best Seller ltda, 2010.)
Dia das Mães
Quando eu era menino, o Dia das Mães se celebrava assim: as crianças que tinham mãe colocavam uma flor vermelha na blusa; as crianças que não tinham mãe, uma flor branca. Era tudo. Tudo estava dito.
“O corpo é o lugar fantástico onde mora, adormecido, um universo inteiro. [...] Tudo adormecido”... O que vai acordar é aquilo que a Palavra vai chamar. As Palavras são entidades mágicas, potências feiticeiras, poderes bruxos que despertam os mundos que jazem dentro dos nossos corpos, num estado de hibernação, como sonhos. Nossos corpos são feitos de palavras”...
( na crônica 'Lagartas e borboletas', do livro "A alegria de ensinar". São Paulo: Ars Poética, 1994, p. 52.)
A vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à
Eternidade”.
(Trecho do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
“As crianças sabem que a vida é marcada por perdas. As pessoas morrem, partem. Partindo, devem sentir saudades — porque a vida é tão boa! Por isso, o que nos resta fazer é abraçar o que amamos enquanto a bolha não estoura”.
(extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP))
SUPER-CRIANÇA Aquilo que os tradutores não souberam traduzir e traduziram como “super-homem” é, na realidade, uma criança. Em vez de “super-homem” proponho “homem-transbordante” – exuberante como uma fonte (ou uma criança...).
(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
“A “história” nos abre o mundo das coisas acontecidas no passado. Mas as “estórias” nos levam para o mundo das coisas que nunca aconteceram e só existem na imaginação”.
( em “Se eu pudesse viver minha vida novamente...”. [Organização Raissa Castro Oliveira]. 21ª ed., Campinas/SP: Editora Verus, 2010, 142.)
“A arte chinesa: já notaram que seus cenários aparecem sempre cobertos por neblinas? Estão lá porque a alma precisa delas... A vida é cheia de neblinas”...
(trecho de “Neblina” do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
Instantes.
E ali, amontoados embaixo do cobertor com nossas mãos cruzadas fortemente, observando como o universo realizava seu baile em espiral a Deus, pensei: “Ufa, se ela e eu fôssemos personagens de uma grande obra de ficção, então este seria nosso capítulo final, nosso felizes para sempre”.
Busquei algo em pensamento com a esperança de poder descrever com facilidade durante o verão – as fogueiras, as primeiras horas da madrugada, o lago, os dois, jovens e selvagens, e loucamente apaixonados. Mas, incapaz de encontrar algo digno, emiti um grande suspiro, sorri, me virei para ela, e a observei enquanto olhava as estrelas.
Onecina Alves
Ninguém consegue tirar das coisas, incluindo os livros, mais do que aquilo que ele já conhece. Pois aquilo a que alguém não pode chegar por meio da experiência, para isso ele não terá ouvidos.
(do livro em PDF: Se eu pudesse viver minha vida novamente)
“Que mintam, mas que respeitem a minha inteligência! Mintam usando a imaginação! Por isso escrevia, em nome da inteligência, do possível e do humor: “Queremos mentiras novas!”
(trecho extraído do livro em PDF: ostra feliz não faz pérola)
Sem inveja “O tico-tico não se ressente do canto da patativa, e até mesmo o aprova, achando melodioso. Mas, se não canto como você canta, você me chama de mentiroso".
(Angelus Silesius, século XVII)
(extraído do livro em PDF: ostra feliz não faz pérola)
Sobre direitos e avessos “Consulte sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos”..
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(extraído do livro em PDF: ostra feliz não faz pérola)
"Fica." implorou ele. "Nós poderiamos construir um lar juntos."
"Quem dera pudéssemos fazer isso" disse ela dobrando um vestido e o colocando em uma pequena mala. As baratas cortinas do hotel se agitavam com o vento através da janela aberta.
"Mas você tem um coração turista." continuou ela. "Espaço suficiente para o essencial e para um pouco mais. Você viaja impulsivamente de um lugar para outro, deixando sua marca aonde vai, antes de seguir de novo rapidamente. E nada acontece."
Ela terminou de arrumar suas coisas e se moveu lentamente até a porta.
"Meu tempo contigo foi precioso" disse ela. "Mas não foi um lar."
Onecina Alves
ADULTOS EM EXCESSO: Guimarães Rosa, escrevendo sobre a infância: “Não gosto de falar da infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo, estragando os prazeres.
(extraído do livro em PDF: Do universo á jabuticaba)
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