Poemas curtos que encantam em poucos versos

Safado é o cara que te pede desculpas porque aprontou. Cafajeste é o que, além de tudo, ainda te faz pedir desculpas.

Ateus, racionalistas que desejam ser, ironicamente acreditam em algo ainda mais fantástico do que Deus.

Não entendo o porque das pessoas pensarem sempre no pior e não no mais provável que é pior ainda.

O caráter transitório do belo aumenta ainda mais sua valorização. Uma flor não nos parece menos esplendorosa se suas pétalas só estiverem viçosas durante uma noite.

E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.

Eu ainda quero muito. Quero as três da manhã de um sábado e não as sete da tarde de uma quarta. Vamos viver uma história de verdade ou vou ter que te mandar pastar com outras vaquinhas?

Ainda que eu conseguisse dizer as mais belas palavras, ou te oferecer tudo o que há de melhor neste mundo, eu não conseguiria expressar toda a gratidão que tenho a você.

E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.

Ainda estava em tempo: poderia, ainda, encostar a sua face à dele, dizer-lhe, em voz alta, as palavras que lhe afloravam aos lábios.

Às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes.

E amanhã quando eu acordar, ainda serei uma eterna boba pelo seu jeito de sorrir.

Aos 22 anos os jovens estão ainda muito próximos da infância e, consequentemente, deixam-se levar por infantilidades.

Sabia que os defeitos das pessoas fazem com que você se apaixone ainda mais por elas? Isso as torna únicas.

Se você se importa, demonstre, por favor. Eu ainda não aprendi a ler pensamentos, me desculpa.

Mas esse ano fui uma menina boazinha e resolvi resgatar o 0,1% de crença que ainda existe em mim e te fazer esse pedido. Eu acredito, Papai Noel. Eu acredito no amor. Coisa que tá muito mais difícil de acreditar do que num velho fazedor de brinquedo e seus viadinhos sobrevoando nossas cabeças.

Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto Perdoando Deus.

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Abra a janela da vida e seja pleno em cada coisa ainda que pareça pequena. Viva com a espontaneidade de uma criança. Debruce na janela e não olhe a vida
passar através dela... Viva...!

É porque estou muito nova ainda e sempre que me tocam ou não me tocam, sinto – refletia.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

E existem aquelas pessoas, que por mais distantes que estejam, ainda continuam perto.

Esse primeiro calor ainda fresco trazia: tudo. Apenas isso, e indiviso: tudo.
E tudo era muito para um coração de repente enfraquecido que só suportava o menos, só podia querer o pouco aos poucos.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.