Poemas Bonitos

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Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.

A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.

"Que importa?"
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.

"Quem tem de ser?"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.

Isto até quando?
Só tenho por consolação
Que os olhos se me vão acostumando
À escuridão.


Fernando Pessoa, 13-1-1920.

"Feliz dia para quem é o igual do dia".
"Saúdo-vos e desejo-lhes sol, e chuva, quando chuva é precisa".
"E olho para as flores e sorrio...".
"Que pensará o meu muro da minha sombra?".
"Que triste não saber florir!".
"Amar é a eterna inocência".
"Sejamos simples e calmo, como os regatos e as árvores".
"A minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer".
"Eu sou do tamanho do que vejo".
"Dá-me uma mão a mim e a outra a tudo que existe, vamos os três pelo caminho que houver".
"Pega-me tu ao colo e leva-me para dentro da tua casa".
"Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos".
(Citações de poemas de Fernando Pessoa extraídos de "Fernando Pessoa - Obra poética II" - Organizado por L&PM - Porto Alegre, RS - 2010)

Névoa

A névoa envolve a montanha,
Húmido, um frio desceu.
O que é esta mágoa estranha
Que o coração me prendeu?

Parece ser a tristeza
De alguém de quem sou ator,
Com fantasiada viveza
Tornada já minha dor.

Mas, não sei porquê, me dói
Qual se fora eu a ilusão;
E ha névoa em tudo o que foi
E frio em meu coração.

Lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser tem muita força”.

NÃO PERCAS TEMPO !!!
Sou o Tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da Vida!
A correr, de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm . . .
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.
Ninguém pode evitar os meus danos . . .
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos
Formo um século, e passo adiante.
Trabalhai, porque a vida é pequena,
E não há para o Tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
Olavo Bilac

CANÇÃO
Dá-me as pétalas de rosa
Dessa boca pequenina:
Vem com teu riso, formosa!
Vem com teu beijo, divina!

Transforma num paraíso
O inferno do meu desejo...
Formosa, vem com teu riso!
Divina, vem com teu beijo!

Oh! tu, que tornas radiosa
Minh’alma, que a dor domina,
Só com teu riso, formosa,
Só com teu beijo, divina!

Tenho frio, e não diviso
Luz na treva em que me vejo:
Dá-me o clarão do teu riso!
Dá-me fogo do teu beijo!

[NO MEIO DO CAMINHO]

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

"Só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.

( in: "Via Láctea", XIII)

Amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma.

Pablo Neruda

Nota: Trecho de "Soneto XVII"

Mulheres como Maçãs

Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas,
porque eles têm medo de cair e se machucar.
Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão,
que não são boas como as do topo,
mas são fáceis de se conseguir.

Assim, as maçãs no topo pensam
que algo está errado com elas,
quando na verdade ELAS são maravilhosas...
Elas têm que esperar um pouco mais
para o homem certo chegar...
aquele que é valente o bastante
para escalar até o topo da árvore.

Shuna Holmes

Nota: A autoria do texto tem vindo a ser atribuída a Machado de Assis, mas não consta do seu acervo.

Se for para esquentar, que seja o sol;
Se for para enganar, que seja o estômago;
Se for para chorar, que seja de alegria;
Se for para mentir, que seja a idade;
Se for para roubar,que se roube um beijo;
Se for para perder,que seja o medo;
Se for para cair,que seja na gandaia;
Se existir guerra, que seja de travesseiros;
Se existir fome,que seja de amor;
Se for para ser feliz, que seja o tempo todo!!

Desconhecido

Nota: O pensamento costuma ser erroneamente atribuído a Mario Quintana.

Em certos pontos, em certas horas, contemplar o mar é sorver um veneno. É o que acontece, ás vezes, olhando para um mulher.

Não existe país pequeno. Avaliar a grandeza de um povo por seu número é o mesmo que determinar a grandeza de um homem pela sua altura.

É esse o efeito das existências esvaziadas, a vida é a viagem, a idéia é o itinerário. Sem itinerário, pára-se. Perdido o alvo, morre a força.

A noite veio. Ela achou-a tão bela, o luar tão doce, que fez um giro pela galeria que circundava a igreja. Sentiu com isso um grande alívio porque a terra lhe pareceu calma, vista lá de cima da catedral.

O homem, carnívoro, também é coveiro. A nossa existência é feita de morte. Tal é a lei terrífica. Somos sepulcro.

A felicidade que inspiramos tem algo de encantador que, longe de enfraquecer, como todos os reflexos, volta para nós mais radiosa.

Deus ao criar o rato disse: já fiz asneira! e tratou de criar o gato, logo o gato é uma errata do rato.

As realidades da alma, por não serem visíveis e palpáveis, não deixam de ser realidades.