Poema por que o Macaco Nao Olha seu Rabo

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Há muitas pessoas a quem a vaidade faz falar grego, e, até, por vezes, uma língua que não entendem.

Falhaste a vida, é evidente. Mas não o digas. Porque haverá logo quem venha proclamar em alvoroço que tu mesmo afinal confessas que falhaste para o cretino trombeteiro se julgar menos falhado e os cretinos como ele.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Qualquer revolução que não se realize dentro dos costumes e das ideias fracassa.

Não gostamos tanto das pessoas pelo bem que nos fizeram quanto pelo bem que lhes fizemos.

Não hás-de apreciar a pessoa pela aparência, mas pela função. Pondera o exercício da sua função e reconhece a sua dignidade.

Não há coisa tão fácil como dar conselho, nem mais difícil do que sabê-lo dar.

A virtude, bem observada, não é mais do que o sentimento e a necessidade do belo na ordem moral.

Desconfia que a ambição não seja a cobertura do orgulho e que a modéstia não seja senão um pretexto para a preguiça.

Satisfação não é tanto conseguir o que você quer, como querer o que você tem.

Não se pode imaginar uma cor, fora das cores do espectro solar. Não se pode ouvir um som, fora da nossa escala auditiva. Não se pode pensar, fora das possibilidades da língua em que se pensa.

Aquele que não tem um objetivo, raramente sente prazer em qualquer empreendimento.

Não penso que as ondas de rádio que descobri vão ter alguma aplicação prática.

Dor

Passa-se um dia e outro dia
À espera que passe a Dor,
E a Dor não passa, e porfia,
Porque trás dia, outro dia
Que traz Dor inda maior;

Porque embora a Dor aflita
Calasse há muito seus ais,
Ainda, fundo, palpita
Uma outra Dor que não grita:
A Dor do que não dói mais.

(in "Dispersos e Inéditos")

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

LUMIAR

Dou-me conta do nome a que reduza
sua história este lugar e entendo

como um nome não é somente o som
arbitrário que a minha mão regista

prendendo o designado: um mar
sob a luz fina; tanto tempo fixa

um lugar no seu corpo, que se torna,
tal como o tempo que contém, flexível

O nome do lugar sempre designa
a fluidez da vida retida

(A moeda do Tempo, Assírio & Alvim, 2006)

O TEMPO A VIDA

Não coincide o tempo com a vida
tão tarde o aprendemos

Fora dele vivida conhecemos
antes de nela entrarmos a saída

Num retrocesso intemporal vivemos
intemporal decerto é a nossa vida

(O vocábulo tempo, Rua de Portugal, Assírio & Alvim, 2002)

As tartarugas do lago
Ora comem, ora não comem,
Nestes longos dias de primavera.

Dentro da lagoa
uma diz "chove", outra diz "não":
conversa de rã.

Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
"Quantas flores amarelas!"

"Quando olho no espelho... Não vejo mais o que querem que eu veja... Mais sim o meu verdadeiro eu."