Poema Nunca te Esquecerei

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⁠"Saudade Que Fere"

Tá difícil esquecer,
Tirar você de mim,
Nos meus olhos posso ver
Seu adeus doendo assim.

Esse amor que me feriu,
Sem prometer machucar,
Deixou um vazio frio,
Que não sei como apagar.

Cada lembrança que invade,
Traz o seu riso em vão,
E essa saudade arde
No peito, feito prisão.

Lágrimas descem sozinhas,
No silêncio a soluçar,
E o adeus que me avinha,
Continua a me sangrar.

Eu não sabia, confesso,
Que um amor assim doía,
Agora em versos eu peço,
Que volte a minha alegria.

Inserida por Leoassuncao190

⁠𝗔 𝗗𝗲𝘀𝗽𝗲𝗱𝗶𝗱𝗮

Quando eu falecer,
Quando eu tiver de morrer,
Não me deixem ao apodrecer,
Me deixem ao amanhecer.

Não me façam velório,
Pois não irei ver,
E nem conversar,
Com os que querem me visitar.

Não me tragam flores,
Não me façam funeral,
Para não derramar as lágrimas dos que me queriam bem,
E não tirar o sorriso dos que me queriam mal.

Não me façam lápides,
Nem túmulos,
Pois não demonstram,
Se importar quando estive nesse mundo.

Inserida por ronnivan_camargo

Estou Aterrorizado:

⁠Quebrado, como um brinquedo sem roda,
Como um navio à deriva, sem velas,
Sou como um pássaro com asas partidas,
Incapaz de alçar voo, preso ao chão.

Não sei quando me quebrei,
Mas sinto a ausência de uma peça,
Uma rachadura que conheço tão bem,
Como a tartaruga sabe o caminho
De volta à praia que a viu nascer.

Sei onde dói, onde está o rompimento,
Mas não possuo as ferramentas, nem a habilidade,
Para devolver o que se partiu em mim.
Como reparar um coração ferido?

Sinto o frio tomando meus ossos,
Congelando minhas veias,
A cada dia mais gelado,
Distante do calor que me falta.

Como ser quente, se o que me machucou
Agora me causa medo?
Meu coração dispara,
Meu estômago se revira,
E a doença do medo me envolve.

Sei onde está a dor,
Mas temo a cura,
Pois receio que, ao sanar,
Outro alguém virá,
E a ferida será ainda mais profunda.

Estou aterrorizado.

Inserida por marcoantonio04

⁠Agosto no Cio


Nuvens vermelhas flutuam baixo. As circunstâncias atmosféricas do mês de agosto facilitam sua formação em níveis vulneráveis à sensualidade humana, absorvendo as gotículas de sangue lançadas ao ar enquanto vociferamos nossos temores, nossas aflições, paixões, fúrias e desejos, sangrando como fêmeas férteis cujos óvulos não foram fecundados.
Noites longas, frias e densas. Eis nossos corpos envoltos pela nebulosa encarniçada: entramos no cio e a grande fera sopra seu vapor sanguinário no deserto.,
Hei, Senhor Lupino! Abandone seu covil e venha me pegar!
[...]
Sinto seu hálito, seus beijos, sua língua úmida descendo por meu pescoço, minhas costas, meus seios, minha barriga, meu templo.
Gemidos, sussurros: a heresia de uma fase lunar personificada pela condensação de nossos instintos carnívoros.
Seus lábios macios sugam o fluido ferruginoso que verte de minhas nascentes em resposta à efervescência de suas carícias sinuosas.
Sua fera pulsa entre minhas coxas.
E eu sei: o Deus-homem nunca morreu.

Inserida por TerezaDuzaiBrasil

⁠Cifras

O grito veio do fundo mudo
e ecoou oco, aos poucos.
Não era um grito de susto,
não era um grito de raiva,
tampouco era um grito de empolgação ou de alegria.
Era, sim, um grito ressentido;
era, sim, um grito gritado para que todas as lágrimas fossem choradas.
O mais belo de todos os gritos,
feito de um fôlego só,
de uma só dor,
Ade uma dor só,

Inserida por TerezaDuzaiBrasil

⁠O PAREDÃO MARIANO
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Os anjos libertadores,
incumbidos de trazer a chave da Sociedade Livre,
morreram todos no Paredão Mariano.
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Não me lembro se foram fuzilados,
se fluíram por um corte na garganta,
ou se alguns morreram de gripe...
.
O que sei é que sua marca ficou nos muros
que foram pichados pelas cidades
de países passados e futuros.
.
Os anjos libertadores
morreram por uma venda
no Paredão Mariano.
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O Paredão Mariano não existe.
Sua pedra e sua largura
são por conta da imaginação do poeta;
.
mas sua imagem me veio tão nítida,
como se fosse o sonho de um pesadelo vivo,
que herdei o desespero dos condenados.
.
O Paredão Mariano:
a dureza das suas paredes frias
... o horizonte de metralhadoras e fuzis
prestes a roubar a vida.
..
O Paredão Mariano não existe:
sua pedra e sua largura
são ficções de um poeta louco.
.
Não há registro histórico;
mas seus olhos me gritam tanto,
e sonhar é tão pouco...
.
O que foi feito dos anjos libertadores
diante do horizonte de metralhadoras?
Em forma de brilhos, terão sobrevivido?
.
Será que, em música, foram convertidos,
e hoje trilham no céu noturno
o leite alegre das estrelas?
.
E o Paredão Mariano, que não existe?
.
Existirá, por ventura,
em algum ponto da memória
de futuros torturadores?
.
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[BARROS, José D'Assunção. Sintonia Fina, 2022]]

Inserida por joseassun

⁠TRISTEZA MARAVILHOSA
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Rio de Janeiro,
sob teu corpo de concreto
teu santo padroeiro
dorme, como um feto.
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Ainda não nasceu, teu santo,
ainda é cedo para o milagre;
e a lágrima doce do teu pranto
não é vinho, é só vinagre.
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Baía de Guanabara,
como mente o teu postal.
Vejo fome em pau-de-arara
sob a camada social.
.
Queria entender teu segredo,
tua miséria, tua mentira;
mas o que vejo é o degredo
que escapa da tua mira.
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Seres humanos migratórios
compelidos à mudança
cujos mortos compulsórios
são produtos da esperança.
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Rio, Deus te abençoe,
e do alto do Corcovado
em pedra o Cristo nos perdoe
por teu índio dizimado.
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Cidade Maravilhosa,
herança dos guaranis...
na tua culpa misteriosa
guarda a lembrança dos brasis.
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Rio, cidade poesia,
olha teu negro na construção;
não lhe conceda alforria:
tu és a própria escravidão.
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Rio, alguém que tardia
espreita em teu carnaval;
sobre a tua fantasia
jaz a beleza de um postal.
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Rio de Janeiro,
teu caminho não é reto;
ao sul do teu cruzeiro,
um voto vira um veto.
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Ainda não nasceu teu quebranto,
ainda é cedo para o céu;
e a cachaça do pai de santo,
não é néctar, é só mel.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2023]

Inserida por joseassun

⁠MISTÉRIO DAS ESTRELAS

Se há mistério no mundo,
digo-lhe às estrelas,
que se mostram e se escondem.

Correm elas da alegria justa e
se entregam as tristezas vãs.

Ah quanto mistério, carregam as
estrelas... Ardem ao desprezo
e se enturvam ao regozijo verdadeiro.

De todo modo aos astros não se impõe regras, pois preferível
a liberdade é, de quem vai e vem. Do que se pode e do que se tem,
restam apenas o mistério da vida, qual se carrega alguém.

Inserida por flaviohenriqueslz

⁠Nós humanos:

Nós, humanos, temos tantas coisas. Temos medo do novo, do antigo, do presente. Tememos a sociedade, o mundo e tantas outras futilidades. Contudo, acredito que o maior temor do homem seja o fracasso! Errar nos assombra e nos aprisiona em uma teia enganosa, meticulosamente entrelaçada para se infiltrar em nossa mente e nos convencer de que jamais seremos capazes de realizar algo. O fracasso, de fato, é assustador, mas sabe o que é ainda mais aterrador? Uma inércia. O "nada" é sempre uma coisa só: vazia, imutável e inalterável. Mas o fracasso? O fracasso pode se transformar em triunfo. Como diz o velho dito: "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". A insistência e a determinação são os aniquiladores do fracasso, e quando combinados, não há falha que resista. Por isso, avance! Vença com persistência e determinação. O céu não é o limite.

Inserida por marcoantonio04

⁠O REFUGIADO A NADO
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O sal das lágrimas
misturava-se ao das águas:
só queria vida, só queria um chão.
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Mas encontrou as armas, nas mãos de um guarda.
Encontrou o exército, de todos os países do mundo,
e a serviço de todas as burocracias do Universo.
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Ele pedia um lugar, e implorava pão;
mas encontrou um muro,
para além dos muros
(não bastassem as águas
contra as quais nadava).
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O Refugiado a Nado
construiu seu escafandro
com garrafas e boias de plástico.
Conseguiu quebrar a violência das ondas...
Mas não conseguiu derreter o coração das autoridades.
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Duros, e como a um peixe, devolveram-no ao mar
– ao mar da morte, e da vida em morte –:
ao mar cinza dos apátridas
a quem não se quer.
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Devolveram-no
– ao Refugiado a Nado –,
como se nunca o tivessem recebido.
Entregaram-no àquela vasta extensão de oceano
– desoladora, fria, e muito mais implacável –
para além do Mediterrâneo,
e de todos os mares:
para aquém da Terra.
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Depois que ele se foi,
como se não tivesse chegado,
rasgaram sua presença como uma foto incômoda.
No fim, os noticiários o deglutiram ao avesso
como uma fome indigesta...
qual mera curiosidade
para sessão da tarde
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Crioula, nª31, 2023]

Inserida por joseassun

⁠DEUS É BRASILEIRO
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Dizem que Deus é brasileiro
(que se desespera,
que também não mora,
que também tem fome,
que a si mesmo come).
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Dizem que Deus é brasileiro:
que gosta de samba,
que gosta de praia
(que também não fala,
que também se cala).
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Dizem que Deus (foi) brasileiro...
Morreu aos cinco anos de idade,
quando era uma criança retirante
– cumprindo a taxa de mortalidade.
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[[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2021]

Inserida por joseassun

⁠PEIXE NO AQUÁRIO
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Um peixe no aquário
é um peixe-encerrado,
é um peixe-impedido,
é um peixe-cercado
por todos os lados.
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Um peixe levado
para um aquário maior,
ainda assim é um peixe
neste aquário maior.
E se lhe dermos uma represa
com proporções oceânicas,
teremos agora um peixe
no aquário da Terra.
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Ah... cruel infelicidade aquática!
Um peixe, onde for que esteja,
depara-se com seus limites,
defronta-se com a sua parede,
debate-se... contra o seu vidro.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Poetizar, vol.1, nª5, 2024]

Inserida por joseassun

⁠A BOMBA
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Despencou sobre a vida
com suas inúmeras ogivas.
Europeia, era russo-americana.
Como cobra, vinha em fila indiana,
paquistanesa, chinesa, inglesa, coreana!
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A Bomba... era apátrida,
e julgava-se democrática
ao cair sobre os viventes.
Não quis poupar formigas,
bactérias, fungos ou entes
(muito menos os humanos
escondidos qual toupeiras
nos abrigos tão dementes).
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A Bomba... destruiu a Vida.
Não deixou célula sobre pedra,
extinguiu o único grão de milagre
nascido em um universo improvável.
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A Bomba... traz-me pesadelos à noite,
como este, que me assombrou há pouco.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Intransitiva, vol.6, nº1. 2022]

Inserida por joseassun

⁠Saudade é uma magrela
Com uma fome sem limite.
Sedenta, com apetite
Fita quem serve a ela.
No centro da mesa dela,
Vê-se a bandeja vazia:
Sequer escapou a vela.
Como nada mais servia,
O garçom, em agonia,
Foi devorado por ela.

Inserida por osaviovinicius

⁠Nasci e me criei no Ceará.
E tendo alma de poeta,
A dor não me afeta
Pois a sina é superar.
E se vejo alguém rimar
Sobre chuva no Sertão
Dou graças pelo feijão,
A canjica e o bovino.
Eu também sou Nordestino
Do jeito que vocês são.

Inserida por osaviovinicius

⁠Cante a beleza da ave
Que desconhece gaiola
E, bem que a viola,
Canta sem nenhum entrave.
Fale de um erro grave
Que é pra memória gravar
De quem vive a maltratar
O que a natureza projeta.
Cante o que eu sinto, poeta,
Que eu sinto e não sei cantar.

Inserida por osaviovinicius

⁠PREMONIÇÃO
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Em um dia de meio dia,
meus olhos, somente os olhos,
tiveram uma visão.
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Lembro-me que a luz me doía
como uma ponta de sabre
no corpo do coração.
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Lembro-me, sem muito assombro,
que tudo quedava incompleto,
como se as luzes buscassem em vão
o preenchimento das coisas.
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Na sintonia das imagens
dissecavam-se as paisagens
sem mistificação:
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Não obstante o colorido,
ficavam os homens repartidos
como se feitos de pão.
A uns: o ouro e a prata;
a outros: a fome e a crença;
a esses: a esperança;
para aqueles: quitutes em lata.
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Tanto sol doía
nos ombros da nação
(talvez não houvesse justiça
em sua distribuição).
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E talvez por ser evidente,
ficavam doídas e claras
as sombras dos coqueiros.
Ali, onde outrora era verde
espreitam crianças no desamparo.
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Desamparadas, porém livres,
querem construir a nação
– mas faltam-lhe os instrumentos:
os braços, e as mãos...
.
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Igualmente iluminados,
os andarilhos nas estradas:
pés descalços, chapéus de palha,
– ou capacetes e mãos de graxa –.
Todos, embora cansados,
querendo correr o chão.
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Mas falta-lhes segmento:
as pernas da multidão.
.
Arre!
Tanto sol
arde como uma tarde
de Verão...
.
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BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgências, 2024]

Inserida por joseassun

⁠O ANJO
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Enquanto bebia seus drinques, um antes do outro,
começaram a lhe crescer asas cada vez maiores:
bem desenhadas, cheirosas... brancas e polidas.
O sorriso verteu-se puro, sincero, acolhedor.
Falava agora a deliciosa língua dos anjos
com suas palavras estranhas e belas
a soar qual música nos ouvintes
e a reluzir como imagens
no pleno espaço.
Puro êxtase
profano
e sacro
de quem via.
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As cores do paraíso a ele se abriram, como se misturadas em um crisol.
A inteligência, não mais em greve, discorria sobre todos os arranjos:
cinema, viagens, lares e lugares... filosofia, arte, sabores e amores.
Com a luz que de si emana... contava piadas de cair o siso!
Iluminava, fundo e profundo, as jovens rosas no gineceu...
.
Até que a noite, por fim, se pôs... cedendo caminho ao sol.
O sono chegou leve, pois Deus viera buscar seus anjos
espalhados pelos bares, festas e casas de flores...
Fechou cada pestana, junto ao sutil sorriso.
Depois, na paz do mundo, adormeceu.
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Na tarde seguinte, ao despertar,
as asas tinham regredido.
Transfiguraram-se
em uma ressaca
confusa e cinza.
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BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2023]

Inserida por joseassun

⁠NO CÔNCAVO DA MÃO MORTA
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No côncavo da mão morta
havia uma chave...
não sei para que castelos.
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Para qual porta, oh Deus Entranhas,
tal chave – tão triste chave –
em certo dia foi forjada?
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Havia aquela chave
não como uma pedra
no meio do bom caminho,
mas no côncavo da mão morta.
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E essa mão,
tão inerte e já bem morta,
cujo corpo era seu mero apêndice,
ao mesmo tempo oferecia
e segurava a chave.
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O gesto, embora pálido,
tinha a cor dos desesperos!
Parecia dizer, nos entrededos:
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Pega esta chave,
se tu és digno dela,
e cuida do seu metal
como se fosse cristal
precioso, de tão frágil.
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Antes de tudo o mais,
colhe-a como uma fruta
já por mais do que madura.
A ela recebe – tão suculenta –
entre teus próprios cinco dedos.
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A chave, no côncavo da mão morta,
parecia a mim implorar-assim:
“Leva-me... a meu destino,
que para isso nasci”.
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E a mão côncava
acrescentava:
“Leva-a, que somente por isso
insisto em me entreabrir”
.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2021]

Inserida por joseassun

Será?

Será que, por um milagre do destino, voltarei a amar verdadeiramente? Conseguirei novamente sentir aquele formigamento ao te ver, e meu coração disparar ao tocar a tua pele? Poderei, quem sabe, perder-me em teu olhar, passar horas em conversas que revelam cada mínimo detalhe teu? Talvez, por um devaneio desta vida, eu consiga amar de novo e sentir, com a mais absoluta certeza, que esse amor é verdadeiro em meu coração. Se voltarei a amar, não posso afirmar. Tudo o que sei é que estou prisioneiro de um amor que já não me pertence, um amor que me abandonou meses atrás.

Inserida por marcoantonio04